Na década de 1950, o sexólogo Alfred Kinsey expôs a intimidade da sociedade americana em uma pesquisa que gerou polêmica
Alfred Charles Kinsey iniciou sua vida como biólogo. Nascido em 1894, nos Estados Unidos, era filho de pais extremamente religiosos, apesar disso, tal crença não foi passada para o filho, que se declarava ateu.
Seu primeiro livro foi publicado em 1926, intitulado ‘An Introduction to Biology’ (Uma Introdução à Biologia, em tradução para o português). Com esta obra, o cientista passou a dar aulas na Universidade de Indiana.
Além de lecionar biologia, Kinsey foi convidado para ser o professor do curso de educação sexual do campus, que era chamado na época de Curso de Higiene. Sem hesitar, aceitou o convite; algo que mudaria o rumo de sua carreira.
Suas aulas eram ousadas e cativavam os estudantes, com fotos explícitas de genitálias e o estudo dos órgãos reprodutores, Alfred encontrou ali sua paixão de vida: o estudo da sexualidade. Traçou a meta ambiciosa de coletar 100 mil testemunhos para sua futura pesquisa referente à vida intima dos jovens. Ainda que o objetivo não tenha sido alcançado, os resultados o colocaram sob um holofote jamais visto antes.
No ano de 1941, a Fundação Rockefeller se interessou pela ideia de Kinsey e decidiu lhe garantir uma bolsa para a realização do estudo. A quantia foi suficiente para ampliar o questionário de 521 perguntas a outras cidades dos EUA.
James H. Jones, um dos biógrafos de Alfred afirmou que a pesquisa era uma forma do cientista entender sua própria sexualidade. Sempre negando polos como “hetero” e “homo”, Kinsey buscava entender um pensamento mais extenso dos desejos humanos.
No primeiro momento, o estudo contava com voluntários que respondiam ao seu longo questionário, a equipe, então, analisava as questões de maior interesse, como a reação humana em situações de prazer.
Entretanto, apenas as respostas coletadas já não satisfaziam os colaboradores de Kinsey; o sexólogo elevou sua pesquisa para outro patamar e passou a gravar seus amigos mais íntimos tendo relações sexuais.
Os atos aconteciam no porão de sua residência e contavam, entre muitas coisas, com troca de casais e experiências entre pessoas do mesmo gênero. Conforme o tempo foi passando, os voluntários passaram de seus colegas mais íntimos para outros curiosos que buscavam se aventurar e ainda contribuir para a sexologia.
“Kinsey era um biólogo. Ele usou seu treinamento científico para fazer perguntas importantes sobre a biologia sexual dos humanos e sua maneira de pensar era essencialmente classificatória”, afirmou o sociólogo Edward Laumann, em entrevista repercutida pela revista Superinteressante, em 2005.
Poucos anos depois, em 1948, a pesquisa foi publicada sob o título ‘Sexual Behavior of Human Male’ (em tradução livre, ‘Comportamento Sexual do Homem’). A obra foi um sucesso e vendeu mais de 200 mil cópias, tornando Alfred em uma figura famosa.
Porém, com a fama veio o choque da sociedade americana, que jamais tinham se deparado com assuntos considerados tabus de forma tão escancarada. Críticos e leitores se espantaram com alguns tópicos, os dados do livro começaram a ser duvidados.
Entre alguns levantamentos feitos por Kinsey, estavam que 90% dos cidadãos americanos se masturbavam; 11% faziam ou tentaram sexo anal com suas parceiras; e ainda, 37% dos entrevistados afirmaram terem passado por experiências homossexuais.
O tópico mais controverso, no entanto, foi o que envolveu orgasmos infantis. Alfred escreveu que uma menina de sete anos teria tido 3 orgasmos em um período de uma hora, enquanto um garoto de 13 anos, teria tido 19 no mesmo intervalo de tempo.
As conclusões geraram um debate sobre como o cientista teria conseguido tais informações. Foi revelado cerca de 40 anos mais tarde que o autor teria entrevistado um pedófilo, que cometera tais crimes antes do estudo e revelara em depoimento como fonte anônima.
“Kinsey estava mais preocupado em legitimar a nascente ideologia gay do que em esboçar um amplo painel sobre a sexualidade nos EUA”, afirmou Judith Reisman, chefe do Restore Sexual Virtue and Purity to America, em fala reproduzida também pela Superinteressante.
Após o polêmico livro, em 1953, foi lançado o ‘Sexual Behavior of Human Female’ (em tradução para o português, ‘Comportamento Sexual da Mulher’). Assim como seu antecessor, sofreu com críticas graves.
Desta vez, as acusações envolviam a utilização em excesso de presidiárias e prostitutas que, para os críticos, não representavam de forma fiel a sociedade americana da década de 50. A obra ainda causou outro efeito negativo, Kinsey perdeu a bolsa que ganhara dos Rockefellers.
Apenas 3 anos depois, em 1956, o sexólogo veio à óbito, a causa da morte foi complicações cardíacas. Embora sua saúde já estivesse bastante afetada por seus experimentos particulares. Mesmo que tenha causado polêmica em vida, não é possível retirar a importância de seus estudos contra a repressão sexual de seu país, em uma época tão conservadora.
Alfred lutou para entender os diferentes tipos de desejos humanos e escancarou para sua nação que o sexo, além de ser natural, pode envolver aspectos diversos. O Instituto Kinsey continua a ser valioso para o mundo, trazendo artigos de relevância científica e social ainda nos dias atuais.
A Escala de Kinsey é usada por estudiosos para entender o comportamento sexual dos humanos, provando, mais uma vez, o pioneirismo do sexólogo. O primeiro passo que foi dado ainda na década de 1940 continua repercutindo, com inúmeras pessoas lutando pela liberdade sexual na sociedade contemporânea.
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