Não é que a cordialidade tenha tomado conta do mundo. Foram as estratégias que mudaram!
A conquista continua acontecendo – apenas se dá de forma dissimulada. Enquanto durante séculos as nações invadiam umas às outras o tempo todo, hoje esse interesse em expandir territórios enfrenta obstáculos.
No século 17, após a Guerra dos Trinta Anos, diversos tratados estabeleceram a soberania de cada nação como regra nas relações entre Estados. Assim, uma não poderia mais intervir no território ou interesses de outras. Mas isso não valia para todos – diversos povos ainda lutavam para garantir identidade. Tanto que os séculos 19 e 20 testemunharam guerras que levaram à unificação de Grécia, Itália e Alemanha.
Em 1945, após a Segunda Guerra, a ONU foi criada para promover cooperação internacional e evitar novos conflitos. A guerra foi colocada na ilegalidade, exceto por legítima defesa ou defesa de um Estado-membro.
Segundo Geisa Franco, professora da UFG e doutora em relações internacionais, a consolidação das democracias também impõe limites. “Em geral, os cidadãos condenam governantes que almejam dominar outros povos.”
A transformação da economia e da cultura em âmbito global é outro fator que explica o declínio desse movimento, pois tem feito com que surgissem modos mais eficazes de conquista.
“Com o processo de industrialização, os territórios foram perdendo importância econômica, como demonstra a ascensão do Japão. Uma grande produção industrial, baseada em tecnologias avançadas, pode suprir necessidades básicas de produtos primários no comércio internacional. A dominação econômica é mais lucrativa que a territorial”, explica Geisa.
Para o professor de relações internacionais Augusto Zanetti, da Unesp, o expansionismo no mundo globalizado acontece por meio da indústria cultural e da uniformização dos valores, ideais e hábitos. “Perde-se o horizonte palpável da ocupação material, vislumbrada nos panzers de Hitler, por uma configuração mais etérea da tecnologia, da cultura e das finanças.”
Um exemplo recente de conquista é a Crimeia, na qual um movimento incentivado pela Rússia, com soldados russos sem identificação invadindo o país, levou à anexação após um plebiscito visto pela Ucrânia como ilegítimo, no qual 96,77% disseram “sim” a se juntar à Rússia.