Análises realizadas no corpo do homem revelaram, em 2018, os curiosos hábitos alimentares de nossos ancestrais
Publicado em 26/09/2021, às 10h00 - Atualizado em 19/09/2024, às 11h39
Com o passar dos séculos, conforme conquistavam novos territórios e encontravam novas fontes de vitaminas, os antigos humanos tiveram de modificar sua alimentação, para se adaptarem aos novos contextos com os quais se deparavam.
Atualmente, a alimentação saudável é uma grande preocupação, facilitada pelos diversos estudos relacionados a essa área. Mas como será que nossos ancestrais realmente se alimentavam? Essa pergunta foi parcialmente respondida pelos estudos realizados no corpo de Ötzi, o homem de gelo.
Considerado a múmia de gelo preservada naturalmente mais antiga que se tem notícia, Ötzi viveu há 5,3 mil anos, no período Neolítico. Seu corpo foi encontrado por acidente em 1991, por um casal de montanhistas que se aventurava pelos Alpes, perto da fronteira entre Áustria e Itália.
No entanto, um estudo mais avançado sobre o interior de seu estômago só foi divulgado em julho de 2018. "Conseguimos comprovar que ele teve uma proporção notavelmente alta de gordura em sua dieta, suplementada com carnes selvagens de íbex (caprino que habita os Alpes) e de veado, trigo selvagem e vestígios de um tipo de samambaia", afirmou na época Frank Maixner, pesquisador e coordenador do Instituto Eurac de Estudos da Múmia da Universidade de Bolzano, na Itália.
"O material do estômago da múmia foi extraordinariamente bem preservado, em comparação com amostras do intestino delgado previamente analisadas", afirmou o cientista na época. "Também verificamos grandes quantidades de biomoléculas únicas, como lipídios, o que abre novas oportunidades metodológicas para abordarmos questões sobre a dieta de Ötzi."
Para essas conclusões, os cientistas utilizaram dois métodos: a análise tradicional de microscopia e uma pesquisa moderna que utiliza corrente elétrica para identificar a composição residual de tecidos. Além disso, antigas sequências de DNA, proteínas, metabólitos e lipídios remanescentes também foram investigados.
Maixner explica que esse processo nunca havia sido feito anteriormente, pois, existia uma grande dificuldade em 'encontrar' o estômago do Homem de Gelo, que acabou mudando de lugar no processo de mumificação — “subindo” em relação ao seu lugar natural. Com isso, uma tomografia computadorizada, foi realizada em 2009 — 18 anos depois de ele ser encontrado.
O estudo apontou que o íbex foi uma das principais fontes de gordura da dieta de Ötzi, já que metade se seu estômago era de gordura adiposa. “O ambiente alto e frio é particularmente desafiador para a fisiologia humana. E requer o fornecimento ideal de nutrientes, para evitar a fome rápida e a perda de energia", explicou o biólogo Alberto Zink. "O Homem do Gelo, ao que parece, tinha plena consciência de que a gordura é uma excelente fonte de energia."
Apesar desse entendimento, o estudo mostrou que o Homem de Gelo não teve muito zelo em preparar seu alimento, afinal, a carne foi consumida ainda fresca, ou, no máximo, seca. Já a samambaia que ingeriu tinha esporos tóxicos, diz o estudo, porém, não se sabe se as folhas foram consumidas intencionalmente ou não por Ötzi.
Existe a hipótese que ele as ingeriu como forma medicinal, já que foi constatado que no seu intestino abrigava parasitas. Outra possibilidade é que ele a tenha comido sem querer, já que o Homem de Gelo pode ter embrulhado sua carne com a planta e a ingerido acidentalmente.
Além do intestino, seus tecidos também foram estudados durante anos. Com isso, foi possível concluir que Ötzi morreu entre 30 e 45 anos, medindo cerca de 1,65 m de altura.
Uma tomografia feita em 2001 mostrou que ele tinha uma ponta de flecha em seu ombro, além de um profundo ferimento na palma da mão. A explicação mais aceita é que ele tenha falecido por uma lesão no ombro que atingiu uma de suas artérias.