A classificação tradicional brasileira pegou termos do mundo todo
Na sociedade do Brasil colonial, ser branco era estar no topo da escala, mas ser meio branco já conferia privilégios. A maioria dos bandeirantes e capitães do mato, que oprimiam índios e negros, era mestiça. Os brasileiros usavam vários termos para identificar a ancestralidade de alguém. O clássico trio ensinado na escola: mulato, cafuzo e mameluco.
Mulato, resultado da mistura de europeus e africanos - na época colonial, quase sempre branco e negra -, vem de mula. Não era exatamente pejorativo. Na época da escravidão, a maioria dos mulatos era livre e se ocupava de tarefas urbanas. Queria dizer que são híbridos, como o animal, nascido do cruzamento de cavalo com jumento. Outra possibilidade, que não é aceita pela maioria dos lexicógrafos, é que venha do árabe muwallad, filho de estrangeiro com islâmico (mas também estrangeiro puro criado como islâmico).
Cafuzo ou carafuzo é resultado da união entre negro e índio. Vários dicionários, como o Houaiss, apontam "origem controversa". O etnólogo angolano Óscar Bento Ribas afirma que vinha do quimbundo kufunzaka, "desbotar". A etnolinguista Yeda Pessoa de Castro prefere a origem no termo bantu nkaalafunzu, "mestiço". Seja como for, parece um nome dado pelos negros, diferentemente dos outros, criados pelos portugueses.
Mameluco, mestiço de branco e índio, vem do árabe mamluk, que originalmente significava "escravo", mas tinha um significado muito diferente pela época da descoberta do Brasil. Durante a Idade Média, escravos passaram a ser empregados nos exércitos muçulmanos e acabaram constituindo uma casta militar. Em 1250, uma revolta dos mamluk tomou o poder no Egito e formou o Sultanato Mameluco. Entre os portugueses, que viviam em guerra com os muçulmanos, os mamelucos eram considerados particularmente destemidos e perigosos - daí terem começado a chamar assim os mestiços das bandeiras ou os capitães do mato.