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Matérias / Múmia

Expressão angustiante: Veja a história da múmia da 'mulher que grita'

Hoje no Museu Egípcio do Cairo, a múmia da 'mulher que grita' passou por análises recentemente; confira os principais destaques

por Thiago Lincolins
[email protected]

Publicado em 17/08/2024, às 12h00 - Atualizado em 19/08/2024, às 16h35

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Registros da múmia da 'mulher que grita' - Sahar Saleem
Registros da múmia da 'mulher que grita' - Sahar Saleem

Encontrada no ano de 1935 em Deir el-Bahari, próximo à Luxor, uma múmia enterrada há 3,5 mil anos chama atenção daqueles apaixonados por arqueologia. Do sexo feminino, ela foi encontrada com a boca aberta, resultando numa expressão angustiante. Foi suficiente para ficar conhecida como a 'mulher que grita'. 

Quase 90 anos após a descoberta, pesquisadores da Universidade do Cairo contaram com técnicas de tomografia computadorizada e raios-X para realizar uma "autópsia virtual" nos restos mortais. Como resultado, foi possível analisar o interior do cadáver mumificado.

Afinal, a expressão é resultado de uma mumificação mal feita ou a mulher, de fato, sentiu dor em seus momentos finais?

A múmia da mulher foi revelada em 1935 durante uma expedição feita pelo Museu Metropolitano de Nova York. Na época, o corpo foi encontrado enterrado no complexo de sepulturas e templos mortuários de Deir Elbahari, próximo a Luxor, no Egito.

Chama atenção que a mulher em questão foi sepultada na tumba de um oficial que trabalhou para os reis da 18ª dinastia do Egito, Senenmut. Com uma história fascinante, ele foi arquiteto dos faraós e teria se envolvido romanticamente com a rainha Hatshepsut.

O sepultamento

Sua tumba revelou câmaras distintas, que abrigavam o corpo de familiares, como a mãe e pessoas que não foram identificadas por estudiosos, assim como o grau de parentesco que compartilharam em vida com Senenmut. Entre esses corpos, estava o da múmia encontrada com a expressão que intriga pesquisadores há mais de 80 anos.

Enquanto sua verdadeira identidade é um mistério, a nova pesquisa alega que a múmia foi sepultada num caixão de madeira. Seu corpo, quando preparado para a vida após a morte, estava com uma peruca preta e anéis em formato de escaravelho, confeccionados em ouro e prata.

O rosto da múmia - - Divulgação/Sahar Saleem

No começo, estudiosos acreditavam que a múmia passou por um processo que não foi feito com cuidado pelos responsáveis. No processo de embalsamamento, não fecharam a boca da mulher, resultado na expressão que hoje apontamos como dor.

Alguns fatores sustentariam a teoria. Primeiro que os órgãos internos foram deixados, algo que não costumava acontecer no processo. Embora o coração permanecesse, os outros eram removidos. Como resultado, poderia se tratar de uma mumificação feita rapidamente. 

Agora, um estudo, divulgado na revista científica Frontiers in Medicine, apresenta detalhes sobre a "mulher que grita". Com técnicas de radiografia, foi possível analisar o interior do corpo, que estava preservado após mais de 3 mil anos.

A mulher em questão tinha 1,54m de altura, e, conforme análises de ossos e articulações, teria morrido aos 48 anos. A nova pesquisa também identificou que ela sofria com artrite leve.

Outro fato curioso sobre a mulher misteriosa, é que ela teria ficado sem dentes enquanto ainda estava viva. Sahar Saleem, professora de radiologia na Universidade do Cairo e autora do estudo, indica que os dentes podem ter sido retirados por um dentista.

"Não se sabe se os dentes ausentes na múmia estudada foram removidos intencionalmente ou não. De acordo com registros hieroglíficos, os antigos egípcios praticavam odontologia. Na verdade, o primeiro registro conhecido de um dentista no mundo foi Hesyre (cerca de 2660 a.C.), um dentista-chefe no antigo Egito", explica o estudo.

Ainda sobre o corpo, não foram encontrados sinais de cortes, no entanto, pesquisadores se depararam com vestígios de embalsamamento com o uso de olíbano e de óleo de junípero na pele da múmia, substâncias importadas. Já o cabelo e a peruca inserida no corpo receberam óleos, resinas e até mesmo um corante retirado da henna, uma planta. Na época, vale ressaltar, se tratava de uma substância cara.

Foto mostra o corpo da múmia - Divulgação/Sahar Saleem

Teoria derrubada

Assim, embora a não remoção dos órgãos aponte uma mumificação feita sem cuidados, o fato de ter recebido substâncias caras e de outras regiões derruba a teoria.

"As técnicas funerárias que os embalsamadores empregaram no cadáver da múmia CIT8, incluindo o uso de uma peruca, anéis, materiais de embalsamamento importados caros e a colocação da múmia em um caixão de madeira, indicam boa qualidade de mumificação. Isso torna menos plausível que os embalsamadores tenham sido descuidados em manter a boca fechada", afirma o estudo.

Embora o estudo tenha apresentado detalhes impressionantes, não foi possível determinar a causa da morte, no entanto, os profissionais indicam que a expressão angustiante pode se relacionar com os momentos finais da mulher.

A expressão facial gritante da múmia neste estudo pode ser lida como um espasmo cadavérico, o que implica que a mulher morreu gritando de agonia ou dor", indica a pesquisa.

O espasmo cadavérico, explica o estudo, compreende "outro tipo de espasmo que demonstra a ação final antes da morte. Ocorre após atividade física ou emocional grave, levando ao rigor post-mortem imediato, pois os músculos contraídos tornam-se rígidos imediatamente após a morte e são incapazes de relaxar".

Como resultado, é possível que a mulher tenha passado por um episódio intenso ou violento em seus momentos finais, que resultou na expressão que intriga aqueles mais fascinados por arqueologia.