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Matérias / Bandida - A Número 1

Bandida - A Número 1: Veja os relatos da mulher que inspirou o filme

Em destaque entre os filmes mais assistidos na plataforma de streaming Netflix, Bandida - A Número 1 se inspirou em uma figura real

por Thiago Lincolins
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Publicado em 14/09/2024, às 10h40 - Atualizado em 17/09/2024, às 07h02

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Raquel de Oliveira: Ficção e realidade - Divulgação e arquivo pessoal
Raquel de Oliveira: Ficção e realidade - Divulgação e arquivo pessoal

Novo filme de ficção em destaque na plataforma de streaming Netflix, "Bandida - A Número 1" vem chamando atenção dos assinantes brasileiros. O filme, dirigido por João Wainer, retrata a história de uma mulher chamada Rebeca. Interpretada por Maria Bomani, ela é chefe do tráfico da Rocinha. 

"Aos nove anos, Rebeca (Maria Bomani) é vendida pela avó para pagar uma dívida de jogo. Trabalhando para o maior bicheiro da Rocinha, ela sobe na hierarquia do crime e se torna a primeira mulher a comandar o tráfico na favela", explica a sinopse do filme.

Para a surpresa de muitos, o filme fictício se inspira na história real de uma mulher chamada Raquel de Oliveira, que se tornou figura de destaque no tráfico de drogas na Rocinha após a morte de seu namorado, Ednaldo de Souza. Sua vida de altos e baixos inspirou o romance "A Número Um".

Infância dura

Em 2017, durante entrevista à BBC, Raquel relembrou sua infância, marcada pela convivência turbulenta com o pai, descrito como pedófilo, e a fome. Inclusive, Raquel explica que cheirava cola para enganar a fome que sentia.

"Eu tive uma infância miserável. Meu pai era pedófilo. Isso eu fui descobrir com 6 anos, mas graças a Deus ele não conseguiu consumar o ato. A minha mãe era passiva e eu fiquei trancada dentro do barraco. Ficava até uma semana trancada dentro do barraco", disse ela ao veículo. "Eu tinha 6 anos. Comecei a sair pela janela e a andar em cima dos telhados da favela. A gente passava muita fome. Cheirava cola para enganar a fome. A maconha já rolava entre os mais velhos e a gente passou a fumar também".

Raquel de Oliveira - Arquivo pessoal

Além disso, ela foi vendida pela vó, assim como narrado no filme em destaque na plataforma de streaming Netflix. Raquel afirmou que teve sorte, afinal, não foi transformada em prostituta e nem abusada pelo homem que a comprou de sua avó.

"Quando eu tinha nove anos, a minha avó me vendeu para o sistema político vigente na época, que era o jogo de bicho. Isso era uma prática comum aqui e no Morro da Providência. E aí eu dei uma sorte danada. Pela misericórdia eu não fui transformada em prostituta nem usada sexualmente por esse homem que me comprou", disse ela.

A autora de "A Número Um" também explica que, quando era uma criança de apenas 11 anos, ganhou a primeira arma. Assim, passou a trabalhar no "barracão do bicho". 

"Limpava as armas, depois passei a fazer a contabilidade, registrar os pagamentos dos agiotas, das put*s, ia recolher o dinheiro. Até os 15 anos, trabalhei intensamente para o jogo de bicho", explicou Raquel.

Comando do tráfico

Em 1980, ela se envolveu romanticamente com o traficante Ednaldo de Souza, conhecido como Naldo. Assim, se tornou a primeira mulher que esteve à frente do tráfico na favela da Rocinha.

"Ele [Naldo] era bipolar e muito deprimido. Ele dormia nos meus braços, mas podia ser muito cruel com os outros. Traficantes vão do céu ao inferno muito rápido. Depois de três anos, tudo que ele tinha foi destruído. Ele estava muito ansioso, mas vivíamos o presente, sem nenhum medo", afirmou a mulher em entrevista à Vice, em 2015. 

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Capa do livro "A Número Um" - Divulgação

Seu namorado, entretanto, faleceu em 1988 numa troca de tiros com as autoridades. Até que outro líder fosse escolhido, ela assumiu o comando. No entanto, Raquel decidiu abandonar a vida de crime.

"Eu não queria viver, mas a cocaína me anestesiava. Alguém veio me ver com 300 gramas de cocaína, maconha e armas –e instruções para que eu continuasse o trabalho dele. Fui procurar ajuda, e foi assim que virei a chefe", explicou Raquel à Vice sobre o momento em que Naldo foi morto.

Ela também relembrou quando decidiu deixar a vida que levava: "Vi alguém morrer na minha frente. Não foi a última vez que estive envolvida com aquela vida, mas foi um momento decisivo para mim".

Raquel atribui sua saída do tráfico e superação do vício em cocaína à ajuda que recebeu ao longo dos anos.

A escrita tornou-se uma válvula de escape durante sua reabilitação, revelando um talento inesperado. Formada em pedagogia desde 2014, Raquel publicou poesias e contos. Depois, viu o sucesso do livro "A Número Um", que foi adaptado para os cinemas.