Em 1966, Jobim conversava com amigos em um bar quando recebeu um telefonema que mudaria a história da música
Giovanna Gomes sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 30/10/2021, às 09h00 - Atualizado em 30/09/2022, às 12h00
Tom Jobim, um dos mais notáveis maestros da música brasileira, foi também o maior responsável pela projeção internacional da bossa nova.
Quem não se lembra da clássica versão de Garota de Ipanema que o compositor carioca interpretou junto ao insigne cantor norte-americano Frank Sinatra nos anos 60? Mesmo se você não era nascido na época, é muito provável que já tenha ouvido a obra mencionada, tamanha a importância do registro para a história da música.
Tida como um dos maiores sucessos do estilo, a canção feita por Jobim em parceria com Vinícius de Moraes no ano de 1962 foi uma das mais regravadas de todos os tempos.
A bossa nova, que já havia se mostrado um grande fenômeno internacional após o lançamento de Getz/Gilberto, trabalho conjunto dos músicos Stan Getz e João Gilberto, havia conquistado uma verdadeira legião de fãs no mundo todo. E, claro, Frank Sinatra foi um deles.
Tom Jobim conversava com amigos no bar Veloso, em Ipanema, ainda no ano de 1966, quando um garçom chamou sua atenção. Um "gringo" havia ligado para o local e queria conversar com o maestro.
De acordo com informações da Folha, o estrangeiro falava dos Estados Unidos e era ninguém menos do que Sinatra convidando o brasileiro para gravar um disco.
"Perfeitamente, é uma ordem", teria respondido Jobim, que após algumas semanas, viajou para Miami.
Assim, no dia 30 de janeiro de 1967, tiveram início as sessões de gravação do álbum que ficaria conhecido como "Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim" e que reuniria grandes sucessos de Tom e da música estadunidense.
"Naquela época, gravar com Frank Sinatra, a voz do século, era uma consagração. Ainda mais porque se tratava do primeiro disco que ele faria com um único compositor", lembrou Sérgio Cabral, que escreveu a biografia "Antonio Carlos Jobim", conforme repercutido pela Folha em 2007.
Na época, o processo de escolha de outros profissionais para participar do projeto se revelou um tanto complicado. Um exemplo dessas discordâncias foi que o norte-americano queria que Nelson Riddle escrevesse os arranjos do álbum, mas foi convencido pelo brasileiro a chamar Claus Ogerman para desempenhar a função.
Apesar das pontuais discordâncias eram notórios o respeito e a admiração entre ambos.
"Não canto tão suave desde que tive laringite", brincou certa vez Sinatra, enquanto interpretava a canção "Dindi", de autoria de Jobim e Aloysio de Oliveira. "Que beleza de canção", declarou.
O disco, lançado em março de 1967, foi eleito o melhor do ano pela crítica norte-americana — e ainda foi o segundo mais vendido nos EUA.
Contudo, antes mesmo que o álbum fosse lançado, Tom Jobim já era um nome conhecido e muito admirado no país estrangeiro.
O sucesso foi tão grande que o brasileiro voltou aos EUA no final de 1968 para gravar um novo trabalho com Sinatra.
No entanto, houve um enorme atraso nos processos de ensaios e de gravações, o que levou ao adiamento do disco, que viria a ser lançado somente no ano de 1971.
"Sinatra & Company", como foi chamado o álbum, foi concluído com sete canções de Jobim, apesar de a ideia inicial ser de nove, além de obras de compositores norte-americanos, como John Denver e Joe Raposo.