Após os atos de vandalismo no Palácio do Planalto, equipe da UFPel lidera restauração e descobre novas informações sobre as obras de arte danificadas
No dia 8 de Janeiro de 2023, a professora Andréa Lacerda Bachettini, do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro da UFPel, recebeu diversos vídeos e mensagens sobre a destruição promovida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na Praça dos Três Poderes, em Brasília. As imagens mostravam a brutalidade com que obras de arte e mobiliário de valor inestimável eram rasgados e destruídos dentro do Palácio do Planalto.
"Foi muito triste e revoltante ver aquilo. Eu e meus colegas, ligados ao patrimônio cultural, assistíamos horrorizados e nos questionávamos sobre o que poderíamos fazer," afirmou Andréa à Agência Brasil.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) inicialmente estava levantando os danos, mas, a iniciativa da UFPel plantou uma semente que logo floresceu. Meses depois, o Iphan procurou a universidade para firmar uma colaboração na restauração das 20 obras de arte danificadas.
Com um investimento de R$ 2,2 milhões do Iphan, a UFPel montou uma estrutura laboratorial de restauração no Palácio da Alvorada, onde cerca de 30 profissionais trabalham para reparar os danos. As técnicas empregadas variam desde a análise microscópica até o uso de poliéster para reforçar as telas rasgadas.
A tela 'As Mulatas à Mesa' de Di Cavalcanti, um dos símbolos do ataque, foi restaurada com minucioso cuidado. Com cerca de 3,5 metros de largura, a obra foi rasgada em sete pontos. Na parte frontal, as técnicas disfarçaram completamente os rasgos, mas na parte de trás, foram mantidos como um registro do ato de violência.
Outra obra impactante foi a escultura em bronze 'O Flautista' de Bruno Giorgi, rompida em quatro partes, e a 'Vênus Apocalíptica' da argentina Marta Minujín, arremessada do quarto andar do Palácio. O emblemático relógio do século 17, presente da corte francesa ao imperador Dom João VI, também está em processo de revitalização por meio de um acordo com a Embaixada da Suíça no Brasil.
Além de restaurar, o projeto também trouxe novas descobertas sobre as obras. A pintura 'Pássaro', anteriormente sem título e autoria identificados, foi atribuída ao pintor inglês Martin Bradley, enquanto um vaso cerâmico, antes sem identificação, foi reconhecido como uma Idria em Majólica italiana do Renascimento.
Uma exposição temporária no Iphan em Brasília detalha o processo de restauração, apresentando fotos em grande formato, materiais e ferramentas utilizados pelos restauradores.
Segundo a 'Agência Brasil', para Leandro Grass, presidente do Iphan, devolver essas obras ao público é essencial. "Essas obras são do povo brasileiro e representam a vitória da democracia e da liberdade," aponta.