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Conheça Cixi, a imperatriz que governou a China do século 19

Cixi, a última mulher a liderar a China, foi retratada durante muitos anos como cruel e tirânica; seu legado, no entanto, vem sendo reavaliado

por Giovanna Gomes
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Publicado em 18/09/2024, às 19h00

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A imperatriz Cixi em fotografia - Domínio público
A imperatriz Cixi em fotografia - Domínio público

Cixi, a última mulher a liderar a China, foi durante muitos anos retratada como uma figura tirânica.

Porém, sua contribuição para a modernização da China no início do século 20 foi ignorada por muito tempo. Apenas décadas após sua morte, seu legado começou a ser reavaliado

A historiadora Sue Fawn Chung foi a primeira a recuperar a verdadeira trajetória da mulher que entrou para os livros como "imperatriz viúva". Em entrevista ao programa da BBC "Witness History", Chung explicou que a imagem de Cixi como uma governante maligna, acusada de assassinar familiares, era baseada em rumores que circulavam pela Cidade Proibida, o palácio imperial de Pequim.

Comprometida com a história de Cixi, Chung decidiu examinar documentos originais, o que a levou a descobrir uma figura interessante para a História.

Ascensão

Segundo Chung, a sociedade chinesa tradicional, dominada pela etnia han, via as mulheres como subservientes aos homens da família. Entretanto, a etnia manchu, à qual Cixi pertencia, permitia que mulheres tivessem papéis mais ativos em posições de poder. Assim, ela entrou na corte imperial.

Quando adolescente, Cixi acabou escolhida como concubina do imperador Xianfeng. Inicialmente uma concubina, sua história mudou por completo quando gerou o único filho homem do imperador, que se tornou o herdeiro do trono.

Como resultado, Cixi passou a chamar a atenção do imperador. Ele ouvia seus conselhos em questões oficiais, especialmente sobre como lidar com a crescente presença ocidental na China, particularmente em relação ao comércio de ópio.

Pintura a óleo representando Cixi, a última mulher a governar a China / Crédito: Wikimedia Commons/Hubert Vos

Em 1861, com a morte repentina do imperador, seu filho Tongzhi, uma criança, teria que encarar o trono. No entanto, o imperador havia originado um conselho de homens para governar até que o jovem fosse adulto e capaz de lidar com as responsabilidades. Cixi, por outro lado, em aliança com a imperatriz Ci'an, conseguiu destituir os regentes.

Logo, as duas mulheres passaram a governar como regentes, sentando-se atrás de uma tela de seda nas reuniões do conselho, uma prática necessária devido às rígidas normas que segregavam homens e mulheres na corte.

Cixi, a regente

Durante seu período como regente, Cixi encarou turbulências, explica a BBC. A China estava em crise, dividida entre a preservação de suas tradições e a necessidade de modernização. 

Quando Tongzhi atingiu a maioridade, em 1873, Cixi deixou tecnicamente o poder, entretanto, logo retornou ao poder. Isso porque teve que lidar com a morte prematura de seu filho, possivelmente de varíola. Na época, rumores passaram a apontar que ele poderia ter sido envenenado, uma acusação que nunca foi comprovada, vale ressaltar. 

Com a morte de Tongzhi, Cixi escolheu seu sobrinho Guangxu, de três anos, como o novo imperador, e o adotou. Logo, esteve de volta ao poder. Após a morte de Ci'an, em 1881, Cixi encarou a responsabilidade sozinha e promoveu a modernização da China.

Ela introduziu eletricidade, promoveu o início da mineração de carvão, e incentivou a educação de meninas, além de tentar acabar com a prática de ataduras nos pés.

Embora esses avanços fossem atribuídos aos homens ao seu redor, Chang explicou que a imperatriz foi a verdadeira cabeça por trás dessas importantes e valiosas mudanças.

Controvérsias

No entanto, nem todas as ações da Imperatriz Viúva foram bem-sucedidas. A China perdeu a guerra franco-chinesa, em que tentou conter o colonialismo francês no Vietnã.

Mais tarde, em 1889, quando Guangxu assumiu o trono, seu governo foi marcado por uma derrota desastrosa na Primeira Guerra Sino-Japonesa e pela fracassada Reforma dos 100 Dias, que buscava ocidentalizar e modernizar a China.

Cixi, com seus partidários conservadores, retomou o poder através de outro golpe de Estado e prendeu o filho adotivo pelo resto da vida. Na época, ela iniciou uma perseguição contra os intelectuais que o haviam apoiado, decapitando seis deles.

A imperatriz viúva / Crédito: Domínio público

Outra controvérsia foi o apoio inicial de Cixi ao movimento dos boxers, um grupo que se opunha à influência ocidental na China. A Revolta dos Boxers resultou em massacres de estrangeiros e chineses cristãos, e a China foi derrotada por uma coalizão estrangeira, sendo obrigada a pagar grandes reparações. A imperatriz conseguiu se manter no poder publicando um decreto no qual assumiu a responsabilidade pelo fracasso.

Nos últimos anos de sua vida, Cixi permitiu a liberdade de imprensa e fez tentativas de transformar a China em uma monarquia constitucional.

Ainda assim, sua reputação estava na lama. Um dia antes de sua morte, em 1908, a Imperatriz Viúva teria ordenado o envenenamento de Guangxu, temendo que, se ele sobrevivesse, a China caísse nas mãos do Japão.

Má reputação

A historiadora Jung Chang, que escreveu uma biografia de Cixi, argumenta que a má reputação da imperatriz viúva foi, em grande parte, um produto das forças políticas que se seguiram à sua morte.

Tanto os nacionalistas quanto os comunistas criaram uma narrativa de que resgataram a China de Cixi, retratando-a como uma tirana que manteve o país na miséria medieval. No entanto, Chang sugere que, em comparação com os regimes que se seguiram, o governo de Cixi foi relativamente benigno.

Cixi morreu sem preparar um sucessor adequado, nomeando como herdeiro Pu Yi, seu sobrinho-neto de apenas dois anos. Com a abdicação forçada do menino em 1912, apenas três anos após a morte de Cixi, a dinastia Qing chegou ao fim, encerrando séculos de governo imperial na China.