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Desventuras / Homem

O guerreiro africano que foi empalhado e apresentado como atração em museus

Homem, que teria cerca de 27 anos quando morreu, foi empalhado e exposto ao lado de animais em museus na França e na Espanha

por Giovanna Gomes
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Publicado em 16/09/2024, às 20h00

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Representação de 'El negro' - Divulgação/Frank Westerman
Representação de 'El negro' - Divulgação/Frank Westerman

Era comum, entre os europeus do início do século 19, o ato de recolher animais exóticos de várias partes do mundo e levá-los para casa, onde os exibiam como curiosidades. No entanto, um comerciante francês foi além: ele levou para a Europa o corpo de um guerreiro africano.

Sua fama deriva de suas viagens póstumas, que duraram 170 anos, durante os quais seu corpo — empalhado por um taxidermista — foi exibido em museus na França e na Espanha. Como destacou o portal BBC, ele foi exibido como um troféu, sem nome, apenas como "El Negro".

A história conhecida de "El Negro" começa com Jules Verreaux, um comerciante francês que, em 1831, testemunhou o enterro de um guerreiro africano em Botswana. Com uma atitude chocante, Verreaux voltou à noite, escavou o túmulo e roubou a pele, o crânio e os ossos do guerreiro.

Utilizando arame e madeira para dar suporte ao corpo, ele o preparou e o enviou para Paris, onde foi exibido como uma "curiosidade exótica".

Verreaux não pensou duas vezes antes de comercializar a figura do homem. Em Paris, ele foi exibido na Rua Saint Fiacre e atraiu a atenção de muitos, mais até do que os animais exóticos presentes na exibição.

O jornal Le Constitutionnel elogiou o "corajoso" Verreaux, descrevendo os africanos como "selvagens", refletindo a visão eurocêntrica e racista da época.

Eventualmente, o corpo do homem foi transferido para a Espanha, onde se tornou uma atração no Museu de Banyoles. 

Retorno à África

No início dos anos 1990, a exibição começou a causar indignação. Em 1992, um médico espanhol de origem haitiana, Alphonse Arcelin, escreveu ao jornal El País, sugerindo que o corpo deveria ser removido do museu, especialmente em razão dos Jogos Olímpicos de Barcelona daquele ano.

Ele argumentou que a exibição de um homem negro empalhado poderia ofender visitantes. A carta de Arcelin desencadeou um movimento internacional pela repatriação dos restos mortais 

Local onde ficaram os restos mortais do homem / Crédito: Divulgação/Frank Westerman

Líderes e figuras proeminentes, como Jesse Jackson e Magic Johnson, apoiaram a causa. Kofi Annan, na época secretário-geral assistente da ONU, chamou a exibição de "repulsiva" e "barbaramente insensível". A pressão internacional levou à sua remoção em 1997.

Após anos de debates, o corpo em questão foi repatriado para Botswana em 2000. No entanto, o processo de devolução foi complicado.

O corpo havia sido embalsamado e modificado, com olhos de vidro e polimento de sapato para intensificar a cor de sua pele. O crânio e alguns ossos foram enviados para Botswana, enquanto sua pele, por estar deteriorada, foi mantida na Espanha.

Descanso

Os restos mortais chegaram a Gaborone, onde foram exibidos publicamente antes de serem enterrados em um cerimonial cristão. O enterro ocorreu no Parque Tsholofelo, onde o túmulo foi marcado e protegido. 

Embora o corpo do homem tenha finalmente retornado à África, muitas questões permanecem em aberto. Sua verdadeira identidade, seu nome e até mesmo sua origem exata ainda são desconhecidos. Sabe-se, no entanto, que ele viveu cerca de 27 anos, tinha entre 1,35m e 1,4m de altura, e possivelmente morreu de pneumonia.