Doença erradicada em 1980, deixou sua última vítima dois anos antes: Janet Parker, uma fotógrafa que vivia em Londres
Vítor Soares, professor de História Publicado em 26/03/2025, às 11h30 - Atualizado em 28/03/2025, às 18h10
Em 8 de maio de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou como erradicada oficialmente aquela que foi uma das doenças mais devastadoras da história: a varíola. Responsável por mais de 300 milhões de mortes apenas no século 20, a varíola foi, sem dúvidas, a doença infecciosa mais letal já registrada, superando em vítimas até a soma de todas as guerras conhecidas.
A erradicação foi fruto de um esforço global liderado pela OMS a partir de 1967, com campanhas intensas de vacinação. No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) teve papel fundamental, tanto na produção e exportação de vacinas como no envio de especialistas para missões internacionais em países como Índia, Etiópia e Somália.
O último caso de varíola transmitida naturalmente foi registrado em 26 de outubro de 1977, na Somália. No entanto, um episódio marcante ainda ocorreria: em 11 de agosto de 1978, em Londres.
Janet Parker, uma fotógrafa que trabalhava no mesmo prédio de um laboratório que manipulava o vírus, contraiu a doença por meio dos dutos de ventilação.
Ela morreu pouco depois, tornando-se a última vítima fatal da varíola no mundo. Esse caso acidental levou a OMS a solicitar a destruição de todas as amostras do vírus ainda existentes em laboratórios. A partir de 1983, apenas dois locais no mundo mantiveram o vírus sob controle rigoroso: um laboratório nos Estados Unidos e outro na Rússia.
A história da erradicação da varíola é também a história de um feito inédito da ciência e da saúde pública: pela primeira vez, a humanidade eliminou completamente uma doença infecciosa por meio da vacinação em massa.
Ainda hoje, especialistas seguem atentos à família dos poxvírus, à qual pertence o vírus da varíola, lembrando que vírus semelhantes continuam circulando entre animais e humanos.