Por meio de técnicas forenses avançadas, cientistas concluíram que esqueletos foram confundidos ao longo de mais de dois séculos
Publicado em 27/03/2025, às 10h42 - Atualizado em 31/03/2025, às 18h09
Recentemente, uma equipe de pesquisadores solucionou um mistério de 220 anos envolvendo os restos mortais do notório fora-da-lei alemão Johannes Bückler, conhecido como "Schinderhannes".
Através de técnicas forenses avançadas, os cientistas confirmaram que um esqueleto anteriormente identificado como pertencente a outro criminoso, "Schwarzer Jonas", era, na verdade, de Schinderhannes. O verdadeiro paradeiro dos restos mortais de SchwarzerJonas segue desconhecido.
Schinderhannes, responsável por mais de 200 crimes, incluindo furtos, extorsões e roubos, foi um dos ladrões mais conhecidos de sua época. Sua trajetória criminosa chegou ao fim em 1802, quando ele e seus cúmplices foram capturados em Mainz, então sob domínio francês. No final do ano seguinte, ele e outros 18 criminosos, incluindo Schwarzer Jonas, foram guilhotinados diante de uma multidão de 30.000 pessoas.
Dois anos mais tarde, Jacob Fidelis Ackermann, o primeiro professor de anatomia da Universidade de Heidelberg, adquiriu os esqueletos de Schinderhannes e SchwarzerJonas para fins científicos. Contudo, no início do século 19, os rótulos de identificação foram acidentalmente trocados, perpetuando um erro que duraria séculos. Eventualmente, o esqueleto erroneamente identificado como SchwarzerJonas desapareceu, possivelmente levado sob a crença de que pertencia a Schinderhannes.
Recentemente, uma equipe interdisciplinar de cientistas dos EUA, Áustria, Alemanha, Suécia e Portugal publicou um estudo na Forensic Science International: Genetics reavaliando os restos mortais por meio de diversas abordagens, como pesquisa histórica, análise antropológica, exames radiológicos, testes isotópicos e análises de DNA.
"Todos esses resultados, juntamente com uma análise cuidadosa de documentos históricos, apontaram para uma possível confusão dos dois esqueletos", explicou Sara Doll, especialista em anatomia da Universidade de Heidelberg e curadora da coleção anatômica, segundo o portal Archaeology News.
Uma das descobertas mais notáveis veio da análise de isótopos, que revelou a localização onde o indivíduo viveu durante a infância e a idade adulta. Os dados apontaram que o esqueleto rotulado como Schwarzer Jonas, na realidade, pertencia a Schinderhannes, pois correspondiam às informações conhecidas sobre sua origem na região de Hunsrück, Alemanha.
Para validar essa conclusão, os cientistas realizaram testes de DNA mitocondrial, que revelaram uma correspondência com um descendente vivo de quinta geração de Schinderhannes. Além disso, uma nova técnica genética, capaz de examinar quase 5.000 marcadores de DNA nuclear, forneceu evidências incontestáveis da conexão familiar.
Os pesquisadores também reconstruíram a provável aparência de Schinderhannes com base em seus marcadores genéticos, concluindo que ele possuía olhos castanhos, cabelos escuros e pele clara, esclarecendo inconsistências encontradas em retratos históricos do fora-da-lei.
Embora o mistério sobre o esqueleto de Schinderhannes tenha sido solucionado, o paradeiro dos restos de Schwarzer Jonas continua incerto. "É possível que tenha sido roubado ou emprestado na crença de que era o esqueleto de 'Schinderhannes' e nunca foi devolvido", afirmou Doll.
O esqueleto autêntico de Schinderhannes foi retirado da exibição pública para preservação. No entanto, visitantes da Coleção Anatômica da Universidade de Heidelberg ainda podem ver uma réplica artística e um modelo baseado na reconstrução de sua fisionomia.
+ Confira o estudo completo publicado na Forensic Science International: Genetics.