Em novo estudo, egiptólogo aponta que artefatos encontrados na tumba do faraó, que passaram despercebidos ao longo dos anos, teriam função importante
Publicado em 27/03/2025, às 16h29 - Atualizado em 31/03/2025, às 09h50
Mais de um século após a descoberta da tumba de Tutancâmon, novos segredos continuam sendo revelados, segundo um estudo recente publicado no Journal of Egyptian Archaeology.
O faraó, que teve sua tumba encontrada em 1922 no Vale dos Reis, no Egito, repousava entre mais de 5.000 tesouros inestimáveis, incluindo sua fascinante máscara dourada. No entanto, um conjunto aparentemente modesto de objetos em sua câmara funerária passou despercebido por décadas.
O egiptólogo Nicholas Brown, da Universidade de Yale, teoriza que as bandejas de argila e os cajados de madeira posicionados perto do sarcófago têm um significado religioso profundo, ligado ao ‘rito funerário de Osíris’. Segundo ele, esses elementos simbolizam o papel de Tutancâmon na ressurreição desse antigo culto. As informações são do tabloide Daily Mail.
Tutancâmon ascendeu ao trono ainda criança, em 1332 a.C., e faleceu cerca de uma década depois, aos 18 ou 19 anos. Embora seu reinado tenha sido breve, sua tumba se tornou uma das descobertas arqueológicas mais importantes do século 20, graças aos tesouros revelados pelo arqueólogo britânico Howard Carter.
Durante a escavação, as bandejas e os cajados foram considerados meros suportes para outros objetos mais chamativos. Mas o Dr. Brown agora sugere que as bandejas, feitas de lama do rio Nilo, eram usadas para libações — rituais em que líquidos eram oferecidos às divindades para ajudar na transição do morto para a vida após a morte.
Além disso, os cajados de madeira, posicionados próximos à cabeça do faraó, podem ter desempenhado um papel essencial no ritual de “acordar” Tutancâmon. No mito egípcio, o deus Osíris, senhor do submundo, era despertado por cajados posicionados atrás de sua cabeça.
Oficialmente, de acordo com o Centro Americano de Pesquisa no Egito, a representação mais antiga do Ritual do Despertar de Osíris data da 19ª Dinastia do Egito (1292 aC a 1189 aC). No entanto Tutancâmon governou antes, por isso Brown acredita que a disposição desses objetos na tumba do jovem faraó reflete a primeira versão arqueologicamente registrada do ritual.
"Estou bastante convencido de que o que estamos vendo dentro da câmara funerária de Tutancâmon é provavelmente a primeira iteração desse ritual que podemos ver no registro arqueológico", disse ele à New Scientist.
O ritual em questão seria parte do renascimento das crenças osirianas, suprimidas pelo antecessor de Tutancâmon, Akhenaton, que impôs o culto ao deus solar Aton. Com a morte de Akhenaton, Tutancâmon restaurou as tradições antigas, e sua própria tumba pode ter sido um marco desse retorno.
Outro egiptólogo, Jacobus van Dijk, da Universidade de Groningen, concorda que as bandejas tinham uma função ritualística, mas sugere uma possível ligação com o “feitiço das quatro tochas”, um rito funerário em que tochas eram apagadas em leite dentro das bandejas para guiar o faraó pelo submundo.
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