Interpretada no filme por Florence Pugh, a jovem e brilhante Jean Tatlock não teve um final famoso como o de Oppenheimer; conheça a história
‘Oppenheimer’ voltou aos cinemas em 25 de janeiro, para comemorar as diversas indicações ao Oscar de 2024. Dirigido por Christopher Nolan e estrelado por Cillian Murphy, a trama relata a trajetória do famoso físico durante sua vida, focando na criação da bomba atômica.
Dentre os seus trabalhos, o longa também foca na vida pessoal do físico, incluindo suas relações pessoais. Ainda que sua esposa e companheira de vida tenha sido Kitty, Robert teve, antes dela, outro grande amor.
O nome de Jean Tatlock pode não ser tão reconhecido quanto o de J. Robert Oppenheimer, entretanto, sua influência na vida do renomado cientista é um capítulo fascinante e muitas vezes enigmático na história do século 20. Conheça a história de Jean Tatlock.
Descrita como "o amor mais verdadeiro de Robert" por seu amigo próximo, Robert Serber, Tatlock, na biografia ‘American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer’ (ou ‘Prometeu Americano: O triunfo e a tragédia de J. Robert Oppenheimer’, em tradução livre), é apontada como muito mais do que apenas uma paixão romântica na vida do físico.
Interpretada por Florence Pugh no filme,Tatlock é apresentada como uma mulher de beleza impressionante e mente afiada. Sua primeira interação com Oppenheimer, retratada em cena de festa, revelou apenas o início de um relacionamento que moldaria não apenas suas vidas pessoais, mas também seus compromissos políticos.
Educada e politicamente engajada, Tatlock era membro do Partido Comunista e uma defensora fervorosa de suas crenças. Seu relacionamento com Oppenheimer não apenas envolveu romance, mas também abriu portas para ele no mundo do ativismo político, levando-o a se envolver em questões como a Guerra Civil Espanhola e os direitos dos trabalhadores migrantes.
O relacionamento foi caracterizado por uma intensidade intelectual, mas também por períodos de instabilidade, atribuídos à alegada depressão de Jean. Segundo relatos, Oppenheimer ficava, ocasionalmente, deprimido devido a problemas com Jean, conforme apontado por Serber em "American Prometheus". Jean chegou ao ponto de pedir a Oppenheimer que parasse de lhe trazer flores e rejeitou diversas propostas.
Jean introduziu Oppenheimer na poesia de John Donne, influenciando-o a nomear o primeiro teste de bomba nuclear como "Trinity".
O relacionamento de Oppenheimer com sua esposa, Kitty, começou em uma festa em agosto de 1939, ano que marcou o declínio da relação com Jean. No entanto, ao contrário do que foi sugerido no filme, o envolvimento não terminou abruptamente. Eles continuaram a se encontrar esporadicamente até 1943, mantendo um vínculo profundo.
A reunião entre eles em junho de 1943, durante uma viagem de volta de Los Alamos a Berkeley, ocorreu conforme retratado no filme e foi documentada por agentes militares.
Após esse encontro, tanto Oppenheimer quanto Tatlock foram colocados sob vigilância intensa. J. EdgarHoover até mesmo recomendou a interceptação do telefone de Tatlock devido à sua relação com Robert, suspeito de ter ligações comunistas.
Apesar da vigilância contínua, o FBI não encontrou evidências que confirmassem as suspeitas de que Tatlock ou Oppenheimer estavam repassando informações aos soviéticos.
O destino trágico de Jean Tatlock, permanece envolto em mistério e controvérsia. Ao invés de se tornar uma figura tão reconhecida quanto Oppenheimer, sua vida chegou a um fim abrupto em 4 de janeiro de 1944.
Conforme retratado no filme, Tatlock foi encontrada em sua residência, deitada sobre uma pilha de travesseiros, com a cabeça submersa na banheira. A morte de Tatlock foi oficialmente registrada como "suicídio, motivo desconhecido". Ela ingeriu uma série de drogas e deixou um bilhete expressando profundo descontentamento com a vida, segundo a Vanity Fair.
O filme retrata a morte de Tatlock em fragmentos, muitas vezes interpretados como parte da imaginação de Oppenheimer. Contudo, persistem dúvidas sobre se sua morte foi realmente um suicídio. O uso de hidrato de cloral, uma droga encontrada em seu sistema, levanta questões sobre a possibilidade de envenenamento.
Boris Pash, oficial de inteligência do Exército dos EUA, foi apontado como um potencial suspeito, especialmente considerando sua investigação sobre os 'laços comunistas' de Oppenheimer e a escuta telefônica no apartamento de Tatlock, no entanto, até hoje nenhuma pessoa foi considerada culpada pela morte.