Carta de Einstein, arrependimento e família comunista: filme sobre o pai da bomba atômica estreia em 20 de julho
Publicado em 09/07/2023, às 11h08 - Atualizado em 22/07/2023, às 11h09
Dirigido por Christopher Nolan, Oppenheimer chegou aos cinemas brasileiros no último dia 20. O filme sobre o pai da bomba atômica, o físico norte-americano J. Robert Oppenheimer, é um dos mais aguardados do ano.
Físico americano, Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) era um estudioso. A frente do Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica, o cientista sabia do poder de destruição que estava criando. Apesar de sua mente brilhante prever o impacto, a história da humanidade nunca mais foi a mesma após a explosão nuclear, em Hiroshima, Japão, durante a Segunda Guerra Mundial", destaca a sinopse da trama.
A equipe do site do Aventuras na História separou 5 coisas que você precisa saber sobre o homem que entrou para a História como o pai da bomba atômica.
+ Oppenheimer: O pai da bomba atômica se arrependeu da criação?
Semanas antes do início da Segunda Guerra Mundial, em 2 de agosto de 1939, o físico húngaro Leó Szilárd escreveu uma carta alarmista ao então presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt.
A missiva, que foi assinada pelo renomado Albert Einstein, alertava que a Alemanha poderia desenvolver bombas atômicas. Assim, a carta Einstein-Szilárd, como o documento ficou conhecido, pedia para os norte-americanos se anteciparem em relação a isso.
O Projeto Manhattan surgiu em 13 de agosto de 1942 visando atingir esse objetivo. Aquela altura, Oppenheimer dedicava seus estudos a outra área da física, mas a necessidade de largar à frente o fez ser convocado para liderar o programa.
Além de estudar o processo de separação de urânio-265 do urânio natural, J. Robert Oppenheimer também se envolveu em decisões fundamentais sobre o projeto das bombas atômicas e esteve pessoalmente relacionado com as decisões sobre como elas seriam utilizadas.
Ele pleiteou que elas fossem usadas contra cidades e estava no comitê que decidiu onde exatamente as bombas seriam lançadas", aponta o historiador especialista em armas nucleares Alex Wellerstein, em entrevista à BBC Mundo.
Diretor do Projeto Manhattan, o físico norte-americano J. Robert Oppenheimer foi responsável pela primeira explosão bem-sucedida de uma bomba nuclear em teste realizado no Novo México, em 16 de julho de 1945 — meses antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Apesar do sucesso, Oppenheimer demonstrou arrependimento a respeito da criação.
Agora eu me tornei a Morte, o destruído de mundos", declarou ele.
Isso porque, cerca de três semanas após o sucesso da Operação Trinity, como o teste foi chamado, bombas nucleares foram lançadas pelos Estados Unidos contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki entre 6 e 9 de agosto — causando entre 150 e 250 mil mortes.
Ao saber do ocorrido, Oppenheimer logo enviou cartas ao Secretário de Guerra demonstrando desaprovação pelo ato. O físico também passou a lamentar as mortes causadas por sua 'criação'. Dois meses depois, ele renunciou ao cargo.
Ao sentir 'remorso' de sua criação, Oppenheimer passou a se opor e defendeu o banimento total de armas nucleares — o que foi exposto em reunião com o então presidente Harry Truman (interpretado por Gary Oldman no filme de Nolan).
Ao deixar seu cargo no Projeto Manhattan, Oppenheimer tentou retornar para a área da educação, mas, em 1947, se tornou diretor do Instituto de Estudos Avançados. No mesmo ano, foi nomeado membro da Comissão de Energia Atômica, tentando regulamentar os uso nuclear das bombas. Ele ocupou esse segundo cargo até 1952.
O físico ainda aconselhou o governo dos Estados Unidos no rescaldo dos experimentos da União Soviética com armas nucleares. Com sua aposição ao uso de bombas nucleares, sua influência passou a crescer cada vez mais, mas logo o governo norte-americano lhe tornou um Inimigo do Estado.
Por conta disso, Oppenheimer passou a ser investigado pelo FBI, que o acusou de ser secretamente um comunista — visto que o físico já havia demonstrado interesse pela ideologia em seus tempos de estudo.
Sua esposa e filho eram membros do Partido Comunista. Posteriormente, o próprio Oppenheimer admitiu ter feito parte do partido. Desta forma, William Liscum Borden, diretor-executivo do Comitê Conjunto do Congresso dos Estados Unidos sobre Energia Atômica, disse ao diretor do FBI, J. Edgard Hoover, que o físico era um espião soviético, segundo Richard Rhodes relata em 'Dark Sun'.
O objetivo desta carta é declarar minha própria opinião exaustivamente considerada, baseada em anos de estudo, das evidências classificadas disponíveis de que provavelmente J. Robert Oppenheimer é um agente da União Soviética".
Em abril de 1954, o físico passou por uma audiência secreta de segurança para falar sobre sua associação com o Partido Comunista — as investigações descobriram que ele não tinha laços com os soviéticos. Mas sua reputação já havia sido arruinada.
Importante ressaltar que Oppenheimer só foi oficialmente inocentado de todas as acusações em dezembro de 2022 — mais de cinco décadas após sua morte, em 1967.
Após se declarado inocente, Oppenheimer continuou palestrando como professor e até chegou a recuar em seu posicionamento antinuclear. Ele e sua família se mudaram para as Ilhas Virgens, onde ele continuou seus estudos.
Em 1965, quando já vivia em Princeton, em Nova Jersey, o físico foi diagnosticado com câncer na garganta. Fumante inveterado, sofreu com diversos tratamentos cirúrgicos e com a quimioterapia.
Mas nada disso foi suficiente. J. Robert Oppenheimer faleceu em 18 de fevereiro de 1967, apenas três dias após entrar em coma por conta da doença. O pai da bomba atômica tinha 62 anos.