Pai da bomba atômica, físico foi acusado de ser um agente comunista e teve trágico fim
Publicado em 14/06/2023, às 17h36 - Atualizado em 20/07/2023, às 15h25
Dirigido por Christopher Nolan, Oppenheimer chegou aos cinemas brasileiros na quinta-feira, 20. Um dos filmes mais aguardados do ano, sem dúvida alguma, o longa acompanha a história do físico norte-americano J. Robert Oppenheimer, pai da bomba atômica e diretor do Projeto Manhattan.
Físico americano, Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) era um estudioso. A frente do Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica, o cientista sabia do poder de destruição que estava criando. Apesar de sua mente brilhante prever o impacto, a história da humanidade nunca mais foi a mesma após a explosão nuclear, em Hiroshima, Japão, durante a Segunda Guerra Mundial", explica a sinopse divulgada a trama.
Um ponto a ser ressaltado, entretanto, é que a trajetória de Oppenheimer não se resume apenas a sua participação no programa de desenvolvimento da bomba atômica na Segunda Guerra Mundial. O que aconteceu após o Projeto Manhattan também pode fazer parte da narrativa, principalmente por seu fim trágico.
A primeira explosão bem-sucedida de uma bomba nuclear aconteceu durante um teste no Novo México, em 16 de julho de 1945, recorda o OperaMundi. O que seria um momento de celebração, porém, se tornou uma sina para o norte-americano. Afinal, conforme recorda matéria do portal ScreenRant, a seguinte frase começou a ressoar na cabeça do físico:
Agora eu me tornei a Morte, o destruído de mundos”.
O cenário se tornou ainda pior pouco depois, principalmente após o bombardeio de Nagasaki, em agosto daquele ano. Ao ouvir notícias do episódio, Oppenheimer logo enviou cartas ao Secretário de Guerra demonstrando desaprovação pelo ato.
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Julius Robert não fez somente isso, como passou a se opor tanto à sua criação que defendeu o banimento total de armas nucleares, inclusive em reunião com o então presidente Harry Truman (interpretado no longa por Gary Oldman).
Saber que havia criado um monstro que não era capaz de deter, deixou marcas em Oppenheimer. Após o fim do Projeto Manhattan, ele bem que tentou retomar para área da educação, mas se tornou diretor do Instituto de Estudos Avançados, em 1947. Paralelamente, foi nomeado membro da Comissão de Energia Atômica, tentando regulamentar seu uso.
Além disso, entre o fim da década de 1940 e início de 1950, o físico ainda aconselhou o governo dos Estados Unidos no rescaldo dos experimentos da União Soviética com armas nucleares. Ele passou a ser um opositor cada vez mais ferrenho do desenvolvimento da tecnologia.
Embora sua influência crescesse cada vez mais, Oppenheimer se tornou um inimigo do governo norte-americano. O que trouxe consequências pouco agradáveis para seu futuro — e que lhe acompanhou até a morte.
Durante a era do macarthismo, o físico foi acusado pelo FBI de ser secretamente um comunista, afinal, ele já havia expressado sentimentos pela ideologia durante seus tempos de estudo. Como se não bastasse, sua esposa e filho eram membros do Partido Comunista, repercute a Superinteressante.
Através de escutas telefônicas, na década de 1940, o FBI passou a investigá-lo com mais afinco. Oppenheimer até admitiu ter sido membro do partido na década anterior, mas nada disso fora suficiente.
Diretor-executivo do Comitê Conjunto do Congresso dos Estados Unidos sobre Energia Atômica, William Liscum Borden disse ao diretor do FBI, J. Edgard Hoover, que Oppenheimer era um espião soviético, aponta Richard Rhodes em 'Dark Sun'. Isso, obviamente, destruiu a reputação do físico.
O objetivo desta carta é declarar minha própria opinião exaustivamente considerada, baseada em anos de estudo, das evidências classificadas disponíveis de que provavelmente J. Robert Oppenheimer é um agente da União Soviética”, relatou.
Após as alegações de Borden, Oppenheimer foi destituído de sua autorização de segurança, com teorias sobre suas associações soviéticas correndo soltas na comunidade científica.
Em abril de 1954, o físico passou por uma audiência secreta de segurança detalhando suas associações com o Partido Comunista. Robert jamais recuperou sua autorização de segurança, apesar de investigações posteriores descobriram que ele não tinha laços com a União Soviética. Conforme noticiou o The Guardian, Oppenheimer só foi oficialmente inocentado de todas as acusações em dezembro de 2022 — mais de cinco décadas após sua morte, em 1967.
Inocentado, a controvérsia em torno do físico jamais se desfez. Embora tenha se aposentado de suas audiências de segurança, Oppenheimer continuou palestrando como professor. Mas ele estava na lista negra. O físico até mesmo recuou em sua defesa antinuclear.
Com sua reputação manchada, mudou-se para as Ilhas Virgens Americanas, onde passou um tempo com sua família e continuou seus escritos. Em 1965, quando já estava morando em Princeton, Nova Jersey, J. Robert Oppenheimer foi diagnosticado com câncer na garganta.
Fumante inveterado durante grande parte de sua vida, foi vítima de um câncer bastante agressivo. Tratamentos cirúrgicos e quimioterapia não foram suficientes. O físico entrou em coma em 15 de fevereiro de 1967. J. Robert Oppenheimer faleceu três dias depois, aos 62 anos.
Ao longo de seus últimos anos de vida, Oppenheimer nunca se recuperou totalmente dos danos contra sua reputação. Mas ainda assim recebeu um certo tipo de redenção, sendo premiado na França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. A vida de J. Robert Oppenheimer, no entanto, jamais teve um impacto similar ao período que trabalhava no Projeto Manhattan.