'Bandida - A Número 1', filme que vem chamando atenção de assinantes da Netflix, inspira-se em uma história real do Brasil; confira!
Publicado em 16/09/2024, às 11h00
Em destaque entre os filmes mais assistidos pelos brasileiros na Netflix, 'Bandida - A Número 1' chama atenção com sua narrativa brutal e chocante, ambientada na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, uma das maiores do país.
Dirigido por João Wainer, o longa-metragem acompanha a história de uma mulher chamada Rebeca, que se torna chefe do tráfico na região.
"Aos nove anos, Rebeca (Maria Bomani) é vendida pela avó para pagar uma dívida de jogo. Trabalhando para o maior bicheiro da Rocinha, ela sobe na hierarquia do crime e se torna a primeira mulher a comandar o tráfico na favela", explica a sinopse do filme.
Apesar da narrativa intensa e brutal, um fato curioso é que 'Bandida - A Número 1' se inspira em uma história real, vivida por Raquel de Oliveira, que escreveu sobre sua própria vida no livro 'O número um', publicado em 2015. Confira a seguir 4 fatos sobre a verdadeira história que inspirou o filme:
+ Bandida - A Número 1: Veja os relatos da mulher que inspirou o filme
Muito antes de se tornar uma figura importante no tráfico, Raquel teve uma infância difícil. Em entrevista à BBC, em 2017, ela precisou lidar com a convivência com o pai, descrito como um pedófilo, e a fome — o que inclusive a levou ao seu primeiro contato com drogas.
"Eu tive uma infância miserável. Meu pai era pedófilo. Isso eu fui descobrir com 6 anos, mas graças a Deus ele não conseguiu consumar o ato. A minha mãe era passiva e eu fiquei trancada dentro do barraco. Ficava até uma semana trancada dentro do barraco", recordou, na época. "Eu tinha 6 anos. Comecei a sair pela janela e a andar em cima dos telhados da favela. A gente passava muita fome. Cheirava cola para enganar a fome. A maconha já rolava entre os mais velhos e a gente passou a fumar também", disse ela ao veículo.
Com apenas nove anos, Raquel foi vendida pela própria avó, assim como o filme nos mostra, a um chefe do jogo do bicho. Ela acredita que teve sorte, pelo ato ter representado apenas a sua entrada para o mundo do crime. "Pela misericórdia eu não fui transformada em prostituta nem usada sexualmente por esse homem que me comprou".
Foi com este homem que, quando tinha apenas 11 anos, Raquel ganhou sua primeira arma, e passou a trabalhar no "barracão do bicho".
"Eu limpava as armas, depois passei a fazer a contabilidade, registrar os pagamentos dos agiotas, das put*s, ia recolher o dinheiro. Até os 15 anos, trabalhei intensamente para o jogo de bicho", contou durante a entrevista.
Na década de 1980, Raquel se relacionou romanticamente com o traficante Ednaldo de Souza, conhecido principalmente como Naldo. No entanto, em 1988, ele faleceu em meio a uma troca de tiros com a polícia. Antes que outro líder fosse escolhido, a mulher acabou assumindo o comando.
"Eu não queria viver, mas a cocaína me anestesiava. Alguém veio me ver com 300 gramas de cocaína, maconha e armas — e instruções para que eu continuasse o trabalho dele. Fui procurar ajuda, e foi assim que virei a chefe", disse Raquel durante entrevista à Vice em 2015.
Apesar de a posição alcançada, chegou um momento em que Raquel percebeu que não queria seguir aquela vida: "Vi alguém morrer na minha frente. Não foi a última vez que estive envolvida com aquela vida, mas foi um momento decisivo para mim".
Foi assim que ela decidiu que, eventualmente, queria abandonar esse estilo de vida. E, felizmente, conseguiu.
Além de sair do tráfico, Raquel conseguiu superar seu vício em cocaína e álcool, entrando na reabilitação, e assim conseguiu recuperar-se em todas as turbulências que a vida havia lhe reservado.
Ela, então, conseguiu concluir o ensino médio, além de formar-se em pedagogia, em 2014. Durante a reabilitação, também descobriu um talento inesperado, da escrita, e chegou a publicar poesias e contos. Em 2015, foi publicado o livro 'A número um', onde conta sua própria história, cuja adaptação aos cinemas chegou recentemente à Netflix.