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Curiosidades / Múmias

Conheça a história da única múmia do Egito que ainda existe no Brasil

Com mais de 2,5 mil anos, a múmia Tothmea foi descoberta na antiga cidade de Tebas, e hoje é a única múmia egípcia localizada no Brasil; conheça!

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 09/09/2024, às 13h30 - Atualizado em 17/09/2024, às 13h43

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Fotografia de Tothmea - Divulgação/ Museu Egípcio Rosacruz
Fotografia de Tothmea - Divulgação/ Museu Egípcio Rosacruz

Os antigos egípcios são lembrados hoje como uma das civilizações mais antigas do mundo, além de uma das mais importantes e influentes. Graças a eles, o mundo viu o surgimento de seus primeiros reis, em um dos impérios mais duradouros da história, além de serem os responsáveis por vários avanços técnico-científicos para sua época.

Por exemplo, eles fundamentaram as bases do que é a aritmética, a geometria, a filosofia, a religião, a engenharia e a medicina, sem mencionar que promoveram grandes avanços no sistema de escrita e em técnicas agrícolas. Inegavelmente, os elementos pelos quais mais são conhecidos são justamente grandes feitos da engenharia e da medicina: as pirâmides e as múmias.

As múmias eram importantes para a cultura egípcia, afinal, a civilização antiga acreditava que os mortos precisavam de seus corpos preservados para o pós-vida. O processo de mumificação era apenas uma etapa que envolvia os longos rituais de sepultamento, que os egípcios tanto valorizavam.

E eles conseguiram sucesso na preservação dessas múmias. Afinal, até hoje, exemplares fascinantes podem ser encontrados em áreas ocultas do Egito, mostrando que as técnicas de mumificação preservam os corpos por até mesmo milênios.

A tática do passado, inclusive, permite que essas múmias sejam transportadas e exibidas em várias instituições pelo mundo. E por mais que o Brasil não seja um país muito óbvio para abrigar uma múmia egípcia, aqui também há os restos de uma mulher que viveu no Egito há entre 2,5 mil e 2,7 mil anos: Tothmea. Relembre a história em questão!

+ Relembre a curiosa história da múmia encontrada no Pão de Açúcar

Fotografia da múmia Tothmea exposta em museu brasileiro / Crédito: Divulgação/Museu Egípcio e Rosacruz

Múmia peregrina

Conforme repercute o g1, Tothmea foi descoberta no Egito, na segunda metade do século 18, na região da antiga capital Tebas (atual Luxor). Pouco após ser descoberta, em 1886, o então secretário do governo americano Samuel Sullivan Cox visitou o país, e acabou ganhando a múmia de Tothmea, e uma segunda múmia como presente de um amigo.

Durante dois anos, Tothmea permaneceu guardada, provavelmente em um depósito, mas quando o diretor do Museu George West, localizado na vila de Round Lake, no interior dos EUA, soube da existência da múmia, tentou obtê-la para colocar em uma exposição; o que conseguiu em 1888.

Segundo o arqueólogo brasileiro Moacir Santos, em entrevista ao g1, a múmia teria sido parcialmente desenfaixada no auditório de Round Lake, para que o público pudesse vê-la com mais detalhes. Posteriormente, ela foi levada ao Museu George West, onde esteve exposta por 31 anos.

Porém, em 1919 o museu fechou, e com isso Tothmea começou a viver um período bastante turbulento. Primeiro, ela foi guardada em um celeiro e, abandonada, histórias locais dizem que a peça teria sido mal tratada, e utilizada até mesmo por moradores locais em um passeio de carruagem e em decorações de Halloween.

As crianças acabaram colocando ela de pé na porta da casa da diretora da escola da vila. Coisas terríveis, né? Foi nessa época que o caixão que ela estava, com pinturas e tudo mais, foi perdido", explicou Moacir Santos ao g1.

Foi possivelmente nesse período, inclusive, que a múmia sofreu um dano bastante considerável, depois que um objeto foi derrubado sobre seu rosto, que ficou quebrado. Tothmea só encontrou um novo espaço para ficar guardada e bem cuidada em 1939, e passou mais de 3 décadas praticamente esquecida; até que, em 1972, ela foi exposta mais uma vez.

Antigos registros, porém, apontam que o diretor do novo museu não ficou contente com a aparência da múmia, e até pretendeu removê-la da coleção, mas ainda assim Tothmea permaneceu ali por alguns anos, pois era uma peça emprestada, e não doada ao museu. Mas em 1978, a historiadora Mary Hesson contatou o museu, pedindo para que a múmia fosse emprestada de volta a Round Lake — o que foi concedido.

Múmia de Tothmea / Crédito: Divulgação / Museu Egípcio Rosacruz

Porém, já não havia mais um museu para que a múmia fosse exposta em Round Lake, e por isso Tothmea foi levada ao escritório da historiadora, que até sugeriu que a múmia fosse sepultada. Porém, isso nunca chegou a acontecer.

Quase uma década depois, em março de 1987, Tothmea foi adquirida pelo Museu Rosacruz de San Jose, na Califórnia, onde permaneceu guardada por sete anos. E na década de 1990, ela finalmente foi doada ao Museu Egípcio e Rosacruz, em Curitiba, no Paraná — onde chegou no dia 10 de abril de 1995 —, e lá permanece exposta até hoje.

Tothmea

No Brasil, o arqueólogo Moacir Santos conduziu um projeto de pesquisa sobre a múmia em 1997, e foi então que ele começou a encontrar mais fontes e dados sobre a múmia, além de pesquisas mais aprofundadas. Ele ainda explica ao g1 que até chegaram algumas informações sobre a peça da Califórnia, mas ainda não era o suficiente.

A partir de uma tomografia da múmia, os pesquisadores descobriram que Tothmea faleceu com apenas 25 anos, e tinha cerca de 1,48 metro de altura. "A gente sabe principalmente por causa da dentição e do desenvolvimento dos ossos. Ela tem esqueleto em perfeito estado de conservação. A questão da dentição, estava em excelente estado de conservação, também", menciona Moacir.

Moacir Santos durante processo de restauração da face de Tothmea / Crédito: Divulgação/Liliane Cristina Coelho

Infelizmente, a causa da morte da mulher egípcia não pôde ser descoberta, mas segundo Vivian Tedardi, supervisora cultural do Museu Egípcio Rosacruz, uma outra curiosidade bastante interessante foi apontada: seu caixão possuía a inscrição "servidora de Ísis", o que sugere que ela poderia ter sido cantora ou musicista nos templos da deusa Ísis.

No tempo em que ela viveu, as mulheres não tinham cargos de sacerdotisas, então, a atuação estaria associada. Essa informação é a única que a gente tem sobre a vida dela no Egito antigo", complementa Tedardi.

Hoje, quem visita o museu na capital paranaense ainda pode encontrar e observar a múmia, além de alguns ossos do quadril, do antebraço e da mão, bem ver mais de perto e pele seca e até uma unha preservada. Infelizmente, não só o rosto de Tothmea foi quebrado, como também seus pés, o que provavelmente aconteceu quando ela foi desenfaixada.

"O que chama atenção é que o Moacir identificou, entre as faixas de tecido, um tipo de faixa como se fosse uma barra de vestido. Isso faz a gente entender que as próprias faixas eram feitas das roupas que a pessoa utilizou em vida", comenta a supervisora cultural.

Novas percepções

Em 2013, o designer forense brasileiro Cícero Moraes voltou a trazer nova luz sobre Tothmea, ao propôr uma aproximação facial 3D da mulher egípcia, reconstruindo sua face digitalmente. Após restaurar a face fragmentada da múmia, ele criou uma reconstrução de como seria o rosto de Tothmea; e em 2019 fez uma nova reconstrução, mais moderna e detalhada.

Reconstruções faciais digitais de Tothmea / Crédito: Divulgação/Cícero Moraes

A reconstrução mostra Tothmea como uma mulher negra, com olhos cor de mel, cabelos longos e uma série de adereços. "É bom lembrar que é uma aproximação facial forense, a gente não tá dando o retrato exato da pessoa como era", ressalta Cícero. Detalhes como cabelo e adereços, vale mencionar, foram construídos com base especialmente em estudos de colares da época, além da etnia dos povos.