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Curiosidades / Brasil

Relembre a curiosa história da múmia encontrada no Pão de Açúcar

Em setembro de 1949, um grupo de cinco alpinistas que se aventurava escalando o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, se deparou com uma surpresa assustadora

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 27/08/2024, às 12h43 - Atualizado em 03/09/2024, às 18h14

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Pão de Açúcar e fotografia da múmia descoberta no local, em 1949 - Getty Images / Arquivo CEC/Ivan Calo/BBC
Pão de Açúcar e fotografia da múmia descoberta no local, em 1949 - Getty Images / Arquivo CEC/Ivan Calo/BBC

Quando se fala em múmias, quase sempre nos vêm em mente os famosos monstros envoltos por bandagens, como nos filmes, ou mesmo as tradicionais múmias egípcias, de pessoas mortas que tinham os corpos preparados para a vida após a morte, em meio aos rituais da época. Porém, já foram encontradas múmias em diferentes lugares do mundo além do Egito.

Isso porque, ao contrário do que muitos pensam, o processo de mumificação não ocorre somente em ambientes controlados. Existem registros de múmias ao redor do mundo em lugares variados: desde preservadas no gelo, pântanos ou até em lugares mais inesperados, como à beira de uma linha ferroviária na Bulgária.

+ Do Egito ao Chile: Veja 5 múmias que entraram para a História

E, no Brasil — mesmo que nosso clima seja bastante propenso à decomposição de materiais orgânicos — também já foi encontrada uma múmia intrigante. Relembre a história!

Múmia do Pão de Açúcar

No dia 19 de setembro de 1949, cinco amigos alpinistas — Antônio Marcos de Oliveira, Laércio Martins, Patrick White, Ricardo Menescal e Tadeusz Hollup — se encontraram na Praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, para organizar o início de uma ambiciosa aventura em conjunto: escalar o Pão de Açúcar, um dos mais importantes cartões postais do Rio de Janeiro.

Fotografias de parte do grupo de montanhistas / Crédito: Clube Excursionista Carioca (CEC)/BBC / Acervo de Tadeusz Hollup/BBC

No entanto, eles não queriam seguir por um caminho comum. Normalmente, outros montanhistas escolhiam entre três diferentes rotas para subir o morro, mas o quinteto decidiu explorar uma quarta trilha, considerada mais perigosa. Segundo Rodrigo Milone, presidente do CEC, "durante anos, foi considerada a mais difícil escalada do montanhismo brasileiro", conforme repercutido pela BBC em 2018.

Porém, logo na clareira de acesso ao paredão, Tadeusz Hollup — que na época tinha 19 anos — suspeitou de que houvesse algo de errado com a trilha, quando encontrou o que pensou ser um sapato feminino, já bastante deteriorado.

"Mesmo assim, não dei muita importância. Joguei o sapato fora e continuamos a subir", contou ele em sua última entrevista ao Esporte Espetacular, da TV Globo, em outubro de 2017. Ele foi o último do grupo a falecer, o que aconteceu em agosto de 2018, aos 88 anos.

O mais novo do grupo, Antônio Marcos de Oliveira, na época com 18 anos, foi um dos que desbravou o morro a frente do grupo. E foi por volta das 11h30 daquele dia que ele tomou um susto: ele encontrou, no meio de uma fenda estreita da rocha — apelidada de "chaminé" Gallotti pelos alpinistas — um cadáver preso pela garganta. Surpreendentemente, em vez de ser encontrado em putrefação, ele estava desidratado e praticamente "mumificado".

Quando o vento bateu mais forte, o cabelo dele, que era enorme, pousou no meu ombro. Foi aí que vi que era uma pessoa. Fiquei apavorado", relatou Oliveira em 2004, no documentário 'Cinquentona Gallotti'.

Na mesma hora, ele gritou para seus amigos que havia encontrado uma pessoa morta, o que eles pensaram até mesmo que fosse uma brincadeira, devido ao sapato de antes. Porém, quando chegaram ao local, todo o quinteto se assustou com a "descoberta" macabra. Eles logo acionaram a polícia e, infelizmente, sequer concluíram a escalada naquele dia — embora o tenham realizado com sucesso cinco anos depois, em 1954.

Investigações

No dia seguinte, os cinco retornaram à Urca, desta vez acompanhados de policiais, repórteres e legistas e, munidos de grampos, martelos e brocas, desceram o cadáver até a clareira, para os bombeiros. Rapidamente, a notícia havia se popularizado em todos os jornais da região.

Segundo o laudo médico, o cadáver não pertencia a uma mulher, o que muitos pensaram ser pelo cabelo comprido, mas, na verdade, era de um homem. Segundo nota publicada na época pelo O Globo, se tratava de um "indivíduo de cor branca, com 35 anos presumíveis, de 'compleixão' (sic) franzina e com 1,60 m de altura".

Fotografias da múmia encontrada no Pão de Açúcar / Crédito: Arquivo CEC/Ivan Calo/BBC

Também foi descrito no laudo que o defunto vestia um suéter e uma camisa sem mangas de algodão, e que não apresentava nenhum sinal de fratura, facada ou bala. "Os legistas concluíram que o cadáver estava lá havia uns seis meses, pelo menos", segundo Oliveira, repercutiu a BBC. Ele ainda acrescentou: "foi mumificado devido à maresia".

Destino

Além disso, chamou atenção que não foram encontrados documentos. E mesmo com toda a repercussão do caso, nenhum amigo, parente ou familiar buscou pelo corpo no Instituto Médico Legal (IML) a fim de tentar reconhecer o corpo.

Com o tempo, surgiram várias teorias tentando explicar como o cadáver chegou ali, indo desde teorias de suicídio a assassinato. E até hoje, sete décadas depois, a identidade segue um mistério; e aquele cadáver é mais lembrado como a Múmia de Gallotti.

Já o que aconteceu com a múmia, também foi relativamente trágico. Segundo o g1, o corpo acabou sepultado como indigente na época, devido à falta de documentação e reconhecimento familiar. E, assim, o destino da múmia do Pão de Açúcar foi finalmente selado.