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Matérias / Disney

Por que Tolkien e C.S. Lewis não suportavam filmes da Disney?

Entenda o motivo pelo qual Tolkien e C.S. Lewis, dois dos maiores nomes da literatura mundial, não gostavam do trabalho do aclamado Walt Disney

por Giovanna Gomes
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Publicado em 08/09/2024, às 11h00 - Atualizado em 11/09/2024, às 07h19

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J. R. R. Tolkien, C. S. Lewis e Walt Disney - Wikimedia Commons/TuckerFTW/Boy Scouts of America
J. R. R. Tolkien, C. S. Lewis e Walt Disney - Wikimedia Commons/TuckerFTW/Boy Scouts of America

Dois dos maiores nomes da literatura mundial, J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis compartilhavam bem mais do que uma sólida amizade e uma paixão por contos de fadas. Ambos também demonstravam uma profunda insatisfação com a maneira como Walt Disney adaptava essas histórias para o cinema.

Em 1938, pouco depois do lançamento de "O Hobbit", os dois escritores assistiram a aclamada animação "Branca de Neve e os Sete Anões". O filme, pioneiro no gênero e sucesso de bilheteria, no entanto, não impressionou a dupla, que ficou descontente com a forma como Disney adaptou a história.

C.S. Lewis, bastante crítico, registrou suas impressões em uma carta a seu amigo A.K. Hamilton, na qual não poupou a produção de críticas: "Anões têm que ser feios, mas não daquele jeito. E a cena da festa de jazz dos anões foi bem ruim. Acho que não ocorreu àquele pobre otário dar outro tipo de música a eles", escreveu ele, conforme registrado pelo livro "Light Shining in a Dark Place: Discovering Theology through Film", escrito por Jeff Sellars.

Cena de Branca de Neve e os Sete Anões / Crédito: Divulgação/Disney

Apesar disso, Lewis reconheceu alguns pontos positivos, como as cenas mais sombrias e o uso criativo de sombras, mas terminou seu texto com uma crítica à falta de sofisticação de Disney, dizendo que ele poderia ter sido algo mais se tivesse tido uma educação ou contexto social diferente.

Tolkien, por sua vez, também não ficou satisfeito. Ele chegou a elogiar a forma como Branca de Neve foi retratada, mas não gostou da caracterização dos anões, que achou distante do que ele idealizava.

Tolkien e Disney

A relação entre Tolkien e Disney foi estudada por especialistas, como a pesquisadora Trish Lambert, que afirmou que a insatisfação do escritor de O Senhor dos Anéis ia além do filme em si. Para ele, a comercialização dos contos de fadas por Disney parecia um desrespeito. 

Lambert sugere que a insatisfação de Tolkien era uma reação à maneira como Disney tratava esses contos populares, transformando-os em produtos de massa.

"Acho que os irritava que ele estivesse comercializando algo que eles consideravam quase sacrossanto", afirmou ao Atlas Obscura Trish Lambert, estudiosa de Tolkien. "Aqui você tem um empreendedor americano impetuoso que teve a audácia de entrar e ganhar dinheiro com contos de fadas."

Cena de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel / Crédito: Divulgação

Há especulações, inclusive, de que, quando estava escrevendo O Hobbit, Tolkien já estivesse ciente da produção de Branca de Neve, tendo se incomodado com as semelhanças entre as duas histórias. Embora isso nunca tenha sido confirmado, é fato que o desconforto de Tolkien com o trabalho do norte-americano continuou ao longo dos anos.

Nova carta

Em 1964, Tolkien se manifestou de forma ainda mais crítica após descobrir como P.L. Travers, autora de Mary Poppins, foi tratada por Walt Disney durante a adaptação de seu livro.

Em uma carta a uma colega de Stanford, Tolkien escreveu que, apesar de reconhecer o talento de Disney, achava sua obra "corrompida". O autor revelou que, mesmo admirando certas cenas dos filmes do estúdio, o impacto geral que elas causavam nele era de repulsa, chegando a dizer que algumas lhe davam náusea.

Cena de As Crônicas de Nárnia / Crédito: Divulgação/Disney

Adaptações

Tolkien era tão avesso à ideia de colaborar com Disney que, quando a editora que publicava suas obras, Allen & Unwin, sugeriu que os estúdios Disney fizessem uma animação de "O Senhor dos Anéis", os executivos do estúdio recusaram o projeto, citando o alto custo que uma produção do tipo demandaria.

Acredita-se que essa proposta tenha sido feita sem o consentimento do próprio Tolkien, o que reforça sua rejeição à ideia de ver suas histórias associadas ao nome de Disney.

Enquanto Tolkien viu seu desejo ser realizado, com suas obras adaptadas por outros estúdios, como a United Artists em 1978 e a Warner Brothers nas trilogias de sucesso das décadas de 2000 e 2010, o destino de seu amigo C.S. Lewis foi mais irônico. A franquia "As Crônicas de Nárnia", sua principal obra literária, foi adaptada ao cinema a partir de 2005 — justamente pelo estúdio Disney.