Os antigos banquetes faraônicos eram um assunto sério para a civilização que prosperou às margens do Nilo
A inauguração do novo Museu Nacional da Civilização Egípcia fechou as ruas de Cairo no último mês para a comitiva que transportou 22 múmias, entre reis e rainhas, do centenário Museu Egípcio rumo à nova casa.
O antigo acervo abrigava a realeza mumificada desde 1871, quando os corpos
foram descobertos no Vale dos Reis, um dos maiores sítios arqueológicos do mundo.
Os faraós, considerados os deuses na Terra, queriam que seu legado jamais fosse esquecido, alimentando a crença da vida eterna – assunto sério e bem difundido pelos egípcios ao longo dos séculos; e que explica o rito da mumificação, um processo caro e que podia demorar até 70 dias.
Depois desse período, com os falecidos já enfaixados, banhados por óleos, ervas e resinas, e preparados para reinar em outra vida, acontecia o funeral solene.
Como, além do tema eternidade, a comida também era assunto sério por lá, os faraós e os egípcios mais ricos costumavam passar boa parte da vida garantindo que pudessem oferecer banquetes fartos até mesmo após morrer.
Durante o rito, as famílias passavam a fazer oferendas diárias de alimentos – dependendo da importância do defunto, o desfile gastronômico-funerário podia até ser equipado com cervejarias e padarias, para facilitar o serviço dos parentes.
A melhor parte do evento, relatado no livro História da Cozinha Faraônica, do egiptólogo francês Pierre Tallet, é que os produtos não eram largados lá, apodrecendo.
Pelo contrário, os funcionários do templo podiam comê-los depois. A regalia era encarada como remuneração pelos serviços prestados à família.