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Matérias / Machado de Assis

Veja a curiosa relação entre Machado de Assis e o jogo de xadrez

O Bruxo do Cosme Velho já usou o jogo para compor sua literatura, mas o que poucos sabem é que Machado, inclusive, já participou de torneio do esporte

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 05/08/2024, às 19h00

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Machado de Assis (à esqu.) e o jogo de xadrez (à dir.) - Domínio Público via Wikimedia Commons e Pixabay
Machado de Assis (à esqu.) e o jogo de xadrez (à dir.) - Domínio Público via Wikimedia Commons e Pixabay

Em seu conto 'Questão de Vaidade' (1864), Machado de Assis apresenta a história de um jogador de xadrez que corteja duas mulheres ao mesmo tempo, sem que uma saiba da outra.

Já em 'Esaú e Jacó' (1904) e 'Memorial de Aires' (1908), o Bruxo do Cosme Velho usa um enxadrista como narrador de seus últimos romances. A relação de Machado com o xadrez, porém, vai muito além de um elemento narrativo. 

O maior escritor da literatura brasileira também tinha certa paixão pelo jogo, não só atuando como um enxadrista, como também servindo como juiz em competições; entenda!

+ Como Machado de Assis 'antecipou' conceitos da psicologia antes de Freud

Machado e o xadrez

Acredita-se que o esporte tenha entrado em sua vida quando ele estava na casa dos 30 anos, em meados da década de 1860. No mesmo período, Machado começava a se projetar como escritor. 

Entretanto, aponta matéria do O Globo, o escritor só teria começado a levar o xadrez a série entre 1877 e 1880, quando ele passou a participar de reuniões em clubes e resolvendo — e criando — enigmas de tabuleiro para revista. 

Já a primeira participação de Machado de Assis em uma competição aconteceu logo no primeiro torneio do Brasil, em 1880, conforme sugere o artigo 'Machado de Assis e o jogo de xadrez' (publicado em 1952 e disponível nos Anais do Museu Histórico Nacional), escrito pelo pesquisador Matias Herculano Gomes, então presidente da Federação de Xadrez do Rio. 

Matias Herculano, inclusive, aponta que Machado de Assis deixou de lado as competições justamente após o torneio. Entretanto, não existem quaisquer explicações para o escritor ter feito isso de forma tão abrupta. 

No artigo 'O cálculo e o enigma: Machado de Assis e o jogo de xadrez', o professor adjunto de literatura no curso de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto Victor da Rosa aponta uma curiosa descoberta sobre escritor: ele foi o primeiro árbitro de xadrez em competições de 1883 e 1884, quando o esporte começava a se profissionalizar no país. 

"Além da mera curiosidade, essa pequena descoberta pode significar que, diferentemente do que se acreditava, o xadrez não desaparece da vida de Machado de Assis a partir dos anos 1880, e provavelmente segue sendo praticado e estudado também na velhice", apontou o pesquisador em entrevista ao O Globo. 

O xadrez não foi uma curiosidade momentânea, mas um jogo que ele praticou e estudou ao longo de toda a vida. Está presente em todos os momentos da sua obra, que também vai tratando o jogo de forma diferente ao longo dos anos", continua. 

Machado em torneios

No primeiro torneio de xadrez do Brasil, aliás, não foi apenas Machado de Assis um dos nomes conhecidos que participaram. A competição contou com Arthur Napoleão, conhecido pianista português da época. O evento também marcou a presença de João Caldas Viana Neto, até então, um adolescente, mas que em poucos anos se tornaria um dos mais renomados enxadristas brasileiros do século passado. 

Por um tempo, o Bruxo do Cosme Velho chegou a liderar o torneio, mas após enfrentar adversários mais complicados, nos três meses seguintes de competição, acabou em quarto colocado — ao todo, seis pessoas competiram. 

Analisando uma partida de Machado de Assis na competição, contra o suíço Charles Pradez, Victor da Rosa chegou a conclusão de que o escritor brasileiro tinha "alguns princípios como enxadrista", dominando fundamentos do jogo que exigiam certo conhecimento.

A vitória do brasileiro foi transcrita em uma revista da época. A análise também permitiu o pesquisador a perceber que Machado usou uma jogada que, até então, era pouco utilizada: a 'abertura siciliana'.

"Machado era bem diferente de um Marcel Duchamp, por exemplo, para citar outro artista enxadrista que analisei. Duchamp era fortíssimo, Machado não. Mas Machado tinha fundamentos, nota-se que estudava, tinha correção nos movimentos de abertura, tinha estratégia, sabia fazer um plano", explicou Rosa.

"E parece que tinha um estilo muito cauteloso, que acho que combina com a sua personalidade e até com a sua literatura", finalizou.