A diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul (RS) criticou 'O Avesso da Pele', de Jeferson Tenório, por linguagem de "baixo nível"; entenda a obra!
Recentemente, o livro 'O Avesso da Pele', publicado em 2020 e escrito por Jeferson Tenório, foi centro de uma polêmica envolvendo a diretora de uma escola do Rio Grande do Sul. De acordo com ela, com a "linguagem de baixo nível", o livro não deve constar no acervo da instituição de ensino e da grade dos estudantes de ensino médio.
Após a polêmica, a obra — que venceu o Prêmio Jabuti em 2021 — chegou aos 10 livros mais vendidos da Amazon Brasil. Com a censura, um grande debate se iniciou, destacando justamente o que a obra aborda: o racismo. Entenda o caso!
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Conforme repercutido pelo Metrópoles, após 'O Avesso da Pele' ser selecionado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), o livro foi enviado para escolas públicas de todo o país. No entanto, Janaina Venzon, diretora da Escola Ernesto Alves, em Santa Cruz do Sul (RS), veio a público e deu o que falar, ao criticar a obra.
Lamentável o Governo Federal através do MEC adquirir esta obra literária e enviar para as escolas com vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio", escreveu em legenda de vídeo publicado em suas redes sociais.
No vídeo, ela também diz: "Solicito ao Ministério da Educação buscar os 200 exemplares enviados para a escola. Prezamos pela educação dos nossos estudantes e não pela vulgaridade", e completa afirmando que "os professores e a escola não escolheu nenhuma obra literária."
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Além dela, o vereador Rodrigo Rabuske também criticou o uso de 'O Avesso da Pele' em escolas, definindo a decisão como "absurdo". Porém, é relevante mencionar que, antes de as obras serem recolhidas pelos diretores das escolas, elas passam por triagem técnica, física e pedagógica por especialistas, além de uma longa análise de professores.
"Essas obras são avaliadas por professores, mestres e doutores, que foram inscritos no banco de avaliadores do MEC. Os livros aprovados passam a ser compilados em um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas", explica o Ministério da Educação em nota.
Após a polêmica, a editora Companhia das Letras — responsável pela publicação de 'O Avesso da Pele' — divulgou, também em suas redes sociais, uma nota manifestando "indignação diante da repercussão do vídeo feito pela diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul (RS), que acusa o livro de conter palavras de 'baixo calão.'"
A retirada de exemplares de um livro, baseada em uma interpretação distorcida e descontextualizada de trechos isolados, é um ato que viola os princípios fundamentais da educação e da democracia, empobrece o debate cultural e mina a capacidade dos estudantes de desenvolverem pensamento crítico e reflexivo", acrescenta.
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A editora também alega que repudia "qualquer ato de censura que limite o acesso dos estudantes a obras literárias sob pretexto de protegê-los de conteúdos considerados 'inadequados' por opiniões pessoais e leituras de trechos fora de contexto."
O que se destaca em 'O Avesso da Pele' não é uma cena, tampouco a linguagem, mas sim a contundente denúncia do racismo que se imiscui em todas as nossas relações, até as mais íntimas."
Recentemente, porém, a obra sofreu mais um ataque: o Núcleo Regional da Educação de Curitiba ordenou o recolhimento de exemplares de 'O Avesso da Pele' de todas as escolas de Curitiba, após a polêmica. As instituições da rede de ensino devem devolver os materiais até a próxima sexta-feira, 8.
Além da editora responsável pela publicação, o próprio Jeferson Tenório se pronunciou após a primeira censura: "As distorções e fake news são estratégias de uma extrema-direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras."
Jeferson Tenório enfatiza que "nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente, tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. É uma atitude inconstitucional. É um ato que fere um dos pilares da democracia que é o direito à cultura e à educação. [...] São atos violentos que remontam dias sombrios do regime militar."
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A história acompanha o jovem Pedro, cujo pai foi morto em uma desastrosa abordagem policial. Ao longo do livro, ele revisita o passado da família e refaz alguns dos caminhos que seu pai, em uma narrativa "sensível e por vezes brutal", segundo descrição na Amazon.
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Ao longo de suas 192 páginas, Jeferson Tenório evidencia a vida comum em um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional que falha com muitos de seus jovens, em meio a um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.
Isso tudo narrado pelo personagem Pedro, já abalado pelas pernas inevitáveis e fraturas existenciais de sua condição de pessoa negra em um país racista, em um processo de dor e acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade.
No sábado, 2, a Secretaria de Educação do RS emitiu uma nota. Conforme o comunicado, o órgão não determinou a remoção do livro de bibliotecas presentes na rede estadual de ensino.
"A Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) não orientou para que a obra O avesso da pele, de Jeferson Tenório, integrante do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), fosse retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino. O uso de qualquer livro do PNLD deve ocorrer dentro de um contexto pedagógico, sob orientação e supervisão da equipe pedagógica e dos professores. A 6ª Coordenadoria Regional de Educação vai seguir a orientação da secretaria e providenciar que as escolas da região usem adequadamente os livros literários", explica a nota.
'O Avesso da Pele' foi publicado em 2020 pela Companhia das Letras e é de autoria de Jeferson Tenório. Ele está disponível para compra na Amazon.