Internacionalmente cultuado, o ícone da black music norte-americana teve um triste fim
Paola Churchill, atualizado por Wallacy Ferrari Publicado em 02/06/2020, às 15h43 - Atualizado em 02/04/2024, às 10h56
Em abril de 1984, o cantor de R&B Marvin Gaye não apenas já estava consolidado como um dos maiores nomes da música norte-americana, como havia acabado de atravessar os Estados Unidos em uma longa turnê. Com o encerramento da bateria de apresentações, ele finalmente poderia usufruir dos bens da fama.
Em sua residência em Los Angeles, ele poderia descansar junto de todos os familiares que o abrigavam. Naquele momento, apenas recebia os repasses de seu álbum mais recente, Midnight Love, que contava com um dos maiores sucesso de sua carreira, a canção 'Sexual Healing'. Contudo, a carreira se encerraria no primeiro dia daquele mês.
O pastor Marvin Gaye Sr e a mãe do artista iniciaram uma discussão ao procurarem por um documento de seguro. Quando o assunto voltou a ser discutido no dia seguinte, a mãe foi até o quarto de hóspedes, no qual o filho estava.
Gaye “se envolveu em uma disputa verbal que levou a uma altercação física, empurrando e empurrando", disse Bob Martin, tenente do Departamento de Polícia de Los Angeles, ao New York Times.
Com a briga, o músico socou e empurrou o pai, que, revoltado com a situação, saiu do quarto e retornou instantes depois com uma pistola na mão, disparando duas vezes contra o próprio filho.
O pai, segundo o New York Times, disse que o artista vivia na paranoia e 'temia que alguém estivesse tentando matá-lo'. Ele também alegou que a arma era de Gaye. "Ele me pegou pelas costas", afirmou Gay, "e me agarrou e me jogou no chão e começou a me bater, me chutar".
Ao Los Angeles Herald-Examiner, disse que o filho usava cocaína, se transformando em "algo como uma pessoa bestial... eu o ouvia o tempo todo, cheirando". Também é citado, que, na época, o cantor encarava uma depressão e até mesmo havia tentado tirar a própria vida.
O primeiro tiro atingiu o lado direito do peito do cantor, sendo fatal ao perfurar o coração, e o segundo, com Gaye já acometido, foi dado à queima-roupa. Ao ver o primogênito baleado, uma sensação horrível tomou conta de Alberta. Infelizmente, Marvin não resistiu aos ferimentos e morreu no Centro Médico do Hospital da Califórnia.
Para a biografia 'Divided Soul: The Life of Marvin Gaye', o autor, David Ritz, cita uma fala da mãe de Marvin sobre a relação familiar.
“Meu marido nunca quis Marvin e nunca gostou dele”, resgatou Alberta. “Ele costumava dizer que não achava que era realmente seu filho. Eu disse a ele que era um absurdo. Ele sabia que Marvin era dele. Mas, por algum motivo, ele não amava Marvin e, o que é pior, também não queria que eu amasse Marvin. Marvin não era muito velho antes de entender isso".
No momento que viu o que tinha feito, o pastor só conseguia chorar, apesar de todas as brigas e a forma rígida que tinha criado seus filhos, nunca pensou que poderia matar um deles. O homem foi preso e negou a acusação de assassinato. No mesmo ano, durante seu julgamento, ele alegou que nunca quis fazer aquilo, que agiu por medo.
Se eu pudesse trazê-lo de volta, eu o faria. Eu estava com medo dele. Eu pensei que ia me machucar. Eu não sabia o que iria acontecer. Eu realmente sinto muito por tudo isso aconteceu. Eu o amava. Gostaria que ele pudesse passar por esta porta agora. Estou pagando o preço por isso", afirmou o pai do músico em júri, conforme repercutido pelo Los Angeles Times em 2014.
O pastor foi condenado por homicídio culposo: seis anos de pena suspensa e cinco de liberdade condicional. Ele morreu, sozinho, em um asilo aos 84 anos, em 1998. O filho, por sua vez, ainda é cultuado como um dos maiores nomes da black music na história, deixando um legado musical que é revisitado até os dias atuais, com seus sucessos ainda sendo licenciados para filmes e séries, além de estarem integralmente disponíveis em plataformas de streaming.
*Com informações do Yahoo Internacional, Los Angeles Times e o Washington Post.