O famoso autor britânico, em seus romances científicos, várias vezes fez previsões de tecnologias que só foram possíveis nos dias atuais
H.G. Wells (1866-1949), o famoso idealizador da máquina do tempo, várias vezes citou em seus livros tecnologias científicas que, em seu contexto, eram fictícias, mas que hoje em dia são parte de nosso cotidiano.
O escritor teve uma educação científica, tendo estudado, inclusive, biologia na Universidade. Ao mesmo tempo, era um exímio criador e contador de histórias. Nessa confluência entre ciência e ficção, Wells nos antecedeu importantes avanços científicos.
Telefones, e-mail e televisão.
No livro Men Like Gods, de 1923, Wells nos trás uma utopia de sociedade em que a Terra existe após milhares de anos de progresso tecnológico. Nesta realidade, os principais veículos de comunicação das pessoas são aparelhos eletrônicos sem fio, por mensagens de voz e com formas de transmissão de mensagens muito parecidas com os atuais e-mails.
Já em When the Sleeper Wakes, de 1899, um homem desperta de um sono profundo depois de dois séculos. Ele acorda numa Londres distópica em que os cidadãos são controlados pelo sistema de injustiças sociais através de tecnologias de entretenimento, como os atuais audiobooks e a televisão. Wells também prevê os aviões nessa distopia.
Engenharia genética
Na obra Ilha do Dr. Moreau (1896), diversos visitantes se deparam com uma série de experimentos do doutor, uma coleção de criaturas bizarras e híbridas de animais, como o Urso-raposa ou o Homem-leopardo.
Eles são resultados de experiências de hibridismo realizadas por um médico maluco, que queria juntar características animais em corpos humanos, de uma maneira análoga ao que é hoje a engenharia genética.
Dr. Moreau criou seus híbridos com tecnologias mais rudimentares que os experimentos atuais com genética animal, com cirurgias e transfusões. Mas a proposta de usar a biologia animal no melhoramento do homem é a bandeira levantrada pelos estudos genéticos. Hoje se estuda o uso de órgãos de mamíferos para a extensão da vida humana e cura de doenças motoras.
Notavelmente, os híbridos humano-animal criados por Moreau acabam destruindo o doutor, e esse final ecoa outro tema comum de Wells: o poder avassalador de destruição da tecnologia.
Lasers e Armas de Energia Dirigida
As armas usadas pelos marcianos em Guerra dos Mundos, de 1898, na invasão do planeta Terra foram chamadas de Raios de Calor, uma arma superpoderosa de incineração a partir de um flash concentrado de luz sem ruídos.
A arma alienígena se tornou realidade em 1960, quando Theodore Maiman lançou o primeiro laser operacional criado em laboratório, nos EUA.
Claro que a descrição da obra de Wells não era precisa o suficiente para se estabelecer um laser de luz de verdade, mas possui o mesmo mecanismo dessas armas que apareceram nos EUA. Que funcionam através da concentração de energia dirigida, como ocorre em micro-ondas, radiação eletromagnética, rádio e armas desenvolvidas pelas forças armadas estadunidenses.
Bombas Atômicas e Proliferação Nuclear
Em Wells, a tecnologia aparece com um grande potencial benéfico, mas o autor igualmente aponta seus possíveis lados sombrios.
Um de seus apontamentos se refere às contemporâneas pesquisas sobre a divisão do átomo no início do século 20, reconhecendo o potencial destrutivo desse tipo de ciência.
Em The World Set Free, de 1913, Wells descreve bombas atômicas que alimentavam uma devastadora guerra que obriga a humanidade sobrevivente a criar um governo único, que evitasse conflitos futuros (teria ele também previsto a lógica da ONU?).
Mas as bombas de Wells não funcionavam com o mesmo mecanismo da bomba do Projeto Manhattan. No livro de Wells, as bombas por divisão atômica explodiam de forma contínua e duradora, espalhando energia destrutiva por dias.
Já a bomba atômica tem um único momento de explosão, com a reação em cadeia causada pela divisão do átomo, criando uma grande explosão de energia devastadora.
Sua visão, porém, é sobre os perigos da proliferação de armas atômicas, que levariam a Terra a um cenário apocalíptico, no caso de uma destruição mútua assegurada após a incapacidade de conciliação entre atores de guerra.