59 anos depois, o assassinato do ex-presidente americano ainda intriga autores e pesquisadores
Aquele 22 de novembro parecia como qualquer outro para Jacqueline Kennedy. Acompanhado o marido durante um desfile em carro aberto por Dallas, a primeira-dama dos Estados Unidos já havia presenciado aquele cenário inúmeras vezes: a multidão que se reuniu para saudar seu marido era algo recorrente, afinal, John Fitzgerald Kennedy foi um dos presidentes mais populares da história americana.
Embora Jackie se mantivesse afastada dos compromissos políticos de JFK, ela decidiu acompanhá-lo no Texas após viver um trauma em decorrência da morte prematura de Patrick Bouvier Kennedy, que partiu poucas horas após nascer — semanas antes da viagem.
Mas por volta das 12h30 daquele dia, tudo mudou. Após a comitiva adentrar a praça Dealey, um som de disparo ecoou no ar. O impacto da bala faz o tronco de JFK ser empurrado para trás. Em questão de segundos Jackie sentia o corpo do marido pesar contra seus braços. O desespero tomou conta de todos.
Sem pensar em mais nada, a primeira-dama tentou de todas as formas estancar o sangue que escorria pela cabeça mutilada de Kennedy enquanto o carro se dirigia às pressas ao Hospital Parkland Memorial.
Com sua roupa de grife manchada com sangue de JFK, Jacqueline ainda tinha esperanças de ver o marido com vida outra vez. Incansavelmente a primeira-dama rezava pela saúde do marido. 30 minutos depois, a pior das notícias chegou: John Kennedy estava morto.
Quase seis décadas após o assassinato de JFK, a versão oficial do crime aponta que Lee Harvey Oswald agiu sozinho para matá-lo. Ex-militar americano, Oswald jamais se declarou culpado, muito pelo contrário, dizia ter sido usado como bode expiatório.
No dia seguinte ao crime, enquanto estava sendo levado ao departamento de polícia de Dallas, Lee Harvey acabou sendo morto por Jack Ruby, dono de um bar na região, que assistia a chegada do criminoso junto a uma multidão. A morte de Harvey foi registrada ao vivo por veículos televisivos.
Oswald agiu sozinho? Kennedy foi vítima de uma conspiração? As questões são alvo de discussões até hoje. Oque torna a incerteza ainda maior é que uma evidência que poderia ajudar a elucidar os fatos, provavelmente, não existe mais: o cérebro de JFK.
Pouco após a confirmação da morte do 35º presidente da história dos Estados Unidos, o Hospital Naval Bethesda, em Washington, realizou a autópsia de JFK. Segundo o relatório, Kennedy foi baleado duas vezes, uma por cima e outra por trás.
Não sobrou muito do cérebro”, apontou o agente do FBI Francis X. O’Neill Jr., segundo aponta matéria do The Washington Post em 1998. “Mais da metade do cérebro estava faltando”.
Segundo os relatos de O’Neill, o resto da massa encefálica de John Kennedy foi colocado “em um frasco branco”. Os médicos que realizaram a autópsia apontaram no relatório oficial enviado ao governo americano que “o cérebro foi preservado e removido para estudos adicionais”.
Conforme aponta James Swanson em 'End of Days: The Assassination of John F. Kennedy', o cérebro do presidente acabou sendo colocado em um recipiente de aço inoxidável com uma tampa de rosca. O material foi enviado para os Arquivos Nacionais.
Lá, diz Swanson, foi “colocado em uma sala segura designada para uso da dedicada ex-secretária de JFK, Evelyn Lincoln, enquanto ela organizava seus papéis presidenciais”.
Entretanto, em 1966, um novo mistério vem à tona: tanto o cérebro de JFK quanto lâminas de tecido e outros materiais genéticos separados pela equipe da autópsia haviam desaparecido. Posteriormente, uma investigação não foi capaz de encontrar os itens.
O destino do cérebro de JFK se tornou um mistério até hoje. O desaparecimento, aliás, é um fator que ajuda a alimentar ainda mais as teorias conspiratórias em torno do assassinato de Kennedy.
Embora o relatório da autópsia aponte que o cérebro de Kennedy havia sido atingido por duas vezes, “uma por cima e outra por trás”, o que encaixaria perfeitamente com a conclusão de que Oswald havia sido o único atirador, muitos questionam isso, visto que a Comissão Warren, criada para investigar a morte de JFK, é envolta por polêmicas e linhas soltas.
Teorias tentam afirmar que cérebro do ex-presidente contém as respostas para sua morte e, por isso, o material foi levado — o que poderia reforçar uma teoria que aponta que outro atirador estaria posicionado atrás de uma cerca próxima de onde a comitiva havia passado.
Entretanto, James Swanson tem um ponto de vista diferente da situação. O autor, inclusive, aponta não só o motivo do desaparecimento como também o responsável por tal ato: Robert Francis Kennedy.
Minha conclusão é que Robert Kennedy tirou o cérebro de seu irmão”, diz o autor, conforme repercutido pelo Diário de Notícias em matéria de 2013.
“Não para ocultar evidências de uma conspiração, mas talvez para ocultar evidências da verdadeira extensão das doenças do presidente Kennedy, ou talvez para ocultar evidências do número de medicamentos que o presidente Kennedy estava tomando”, explica.
À época, ainda não se tinha conhecimento dos vários problemas de saúde que JFK sofria, o que obrigou Kennedy a se tornar refém de diversos medicamentos, como analgésicos, agentes ansiolíticos, estimulantes, pílulas para dormir e hormônios para sua perigosa falta de função adrenal.
Mas o mistério em volta do cérebro do ex-presidente vai muito além de seu destino, isso porque também se contesta algo estranho presente nas fotos de arquivo que foram tiradas do seu principal órgão.
A história começou em 1998, quando um relatório do Conselho de Revisão de Registros de Assassinatos apontou um cenário controverso. De acordo com a instituição, as fotos do cérebro de JFK são do órgão de outra pessoa.
"Tenho 90 a 95 por cento de certeza de que as fotografias nos Arquivos não são do cérebro do presidente Kennedy", apontou Douglas Horne, analista-chefe do conselho para registros militares, no documento, conforme repercutido pelo Washington Post em 1998.
Se não forem, isso pode significar apenas uma coisa — que houve um encobrimento das evidências médicas”, completou.
A suspeita é corroborada por O’Neill, que também alega que as fotos oficiais não correspondem com o cérebro de JFK. Afinal, os registros mostram “um cérebro quase completo", algo que difere do órgão destruído que ele havia visto.
Além do mais, o relatório também apontou inúmeras discrepâncias sobre quem examinou o cérebro. Fora isso, detalhes mais técnicos — como se o cérebro foi ou não seccionado de uma certa maneira e que tipo de fotos foram tiradas — também foram debatidos.
No final desta história, porém, o destino do cérebro de JFK parece tão misterioso como todos os outros assuntos que envolvem o assassinato do ex-presidente. Foi roubado? Perdido? Substituído? Até hoje, ninguém sabe, embora muitos teorizem as mais diferentes hipóteses para tal.