Em Auschwitz, os ciganos sofreram com doenças, maus tratos, torturas e fome
Todos que pensavam diferente ou ameaçavam a mentira da pureza da raça ariana na Alemanha nazista eram perseguidos, ou assassinados. Os judeus, principais vítimas, eram mortos nos Campos de Extermínio (Vernichtungslager) ou trabalhavam até morrer por exaustão nos Campos de Trabalhos forçados (Arbaitlager). Os homossexuais, Testemunhas de Jeová, inimigos políticos, opositores do regime e criminosos, eram levados aos Campos de Concentração (Konzentrationlager).
Ciganos também foram vítimas do extermínio, o que derruba por terra a teoria de que os judeus foram perseguidos para que a Alemanha se apropriasse dos seus bens. Assim como os judeus, ciganos eram considerados uma raça inferior, portanto, sem direito de existência. Essa é a maneira de pensar do nazista.
Os ciganos sempre foram povos nômades, em geral, sem residência fixa, sem propriedades, empresas ou riquezas que pudessem ser roubadas. Viviam espalhados pela Europa, principalmente na Romênia, Moldávia e Hungria. Foram mortos por serem ciganos, assim como os judeus foram mortos por serem judeus.
É perfeitamente correto dizer que na Segunda Guerra houve o genocídio dos ciganos. Genocídio foi uma palavra criada em 1944 pelo advogado Raphael Lemkin, judeu de origem polonesa, refugiado nos Estados Unidos, e que participou do julgamento de Nuremberg, para se referir ao crime nazista de extermínio de povos. A palavra vem do grego e significa a “destruição de um povo, física e culturalmente”.
Os ciganos foram aprisionados nos países conquistados pela Alemanha e fuzilados nas florestas ou levados para campos nazistas. Na Croácia, foram capturados pela Ustasa, o violento grupo fascista pró Alemanha e levados para o campo de Jasenovac, onde eram brutalmente torturados até a morte. Os ustasa não poupavam mulheres e crianças.
Quando a Alemanha nazista invade a União Soviética, os ciganos eram levados sob chicotadas para florestas, os homens obrigados a abrir as covas coletivas e famílias inteiras fuziladas. Na antiga Tchecoslováquia, os alemães prendiam os ciganos nos campos de Hodonin e Lety até serem transportados para Auschwitz.
Em Birkenau, ou Auschwitz II, como também era chamado o mais famoso campo, havia um lugar especialmente dedicado aos ciganos. Diferente dos judeus, onde crianças eram imediatamente assassinadas e homens e mulheres ficavam separados e eram escravizados, as famílias ciganas podiam ficar juntas, nos barracões, provavelmente porque todos seriam mortos, não tem muitos registros de escravos ciganos em Birkenau.
Morriam de doenças, maus tratos, torturas e fome, praticamente nada recebiam para comer. Há relatos de crianças que tinham feridas tão grandes nas bochechas que permitia ver a boca por dentro.
Em 2 de agosto de 1944, os últimos prisioneiros ciganos foram levados para as câmaras de gás. Eram aproximadamente 4.300 homens, mulheres e crianças. Esse foi o fim dos ciganos em Auschwitz-Birkenau.
Após a guerra foram descobertos na Polônia 180 locais de fuzilamentos em massa de ciganos. Como esse povo não tem a tradição de manter a própria história escrita e documentada, é muito difícil saber o número exato dos ciganos assassinados pelos nazistas. Estima-se entre 200 mil e 500 mil, o que é uma variação bastante ampla. Mas é certeza que entre 25% e 50% da população cigana da Europa foi assassinada pelos nazistas.
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Durante muitos anos os alemães se recusaram a reconhecer o genocídio cigano e também não houve indenização pelos mortos e pelo mal causado ao seu povo.
Marcio Pitliuk é escritor, cineasta, membro do Conselho Acadêmico da StandWithUs Brasil e curador do Memorial do Holocausto.
O texto de Marcio Pitliuk foi proporcionado pela StandWithUs Brasil, instituição que trabalha para lembrar e conscientizar sobre o antissemitismo e o Holocausto, de maneira a usar suas lições para gerar reflexões sobre questões atuais.