Louis Frankenberg se estabeleceu no Brasil após o fim da Segunda Guerra e conversou, com exclusividade, ao Aventuras na História
A tomada de países pelo governo nazista liderado por Adolf Hitlernão apenas marcou as movimentações diplomáticas durante a Segunda Guerra Mundial, acometendo diversos vizinhos territoriais da Alemanha, mas também vitimou judeus e minorias perseguidas pelo partido na época.
Dessa forma, a história da ocupação nazista, especificamente na Holanda para a perseguição de judeus, fez com que a trajetória de duas crianças se cruzassem com a do trágico episódio; Louis Frankerberg e a irmã Eva viveram de perto a conturbada invasão em 1940. Enquanto o garoto tinha quatro anos, a irmã, 7.
Dois anos depois em 1942, foram diretamente vitimados; seus familiares precisaram entregar a casa e se mudarem para a capital holandesa. As crianças foram separadas dos pais visando mais segurança, e viveram num internado localizado na cidade de Hilversum, a 25 quilômetros de Amsterdã.
Os pais não obtiveram a mesma proteção, e foram capturados no ano seguinte e enviados para o campo de concentração de Westerbork. Eva e Louis nunca mais veriam os pais, que foram transferidos para Sobibor, na Polônia, e executados em uma câmara de gás.
Longe dos pais, tiveram de esconder a identidade judaica, vivendo escondidos em um internato católico. Mesmo assim, foram localizados e emboscados. Eva fugiu, mas o pequeno Louis acabou sendo levado para Westerbork.
Hoje, aos 86 anos de idade, ele lança o livro 'Cinco Vezes Vivo' junto ao escritor Ricardo Garcia, no qual detalha a história a partir de sua trágica experiência durante o período do Holocausto nazista, passando por sua transferência em Theresienstadt, na atual República Tcheca, até conseguir chegar à Suíça e, por fim, construir uma nova vida no Brasil a partir de 1947, quando chega a Porto Alegre.
Em entrevista exclusiva ao Aventuras na História, Louis Frankerberg não apenas compartilha suas memórias de infância relacionadas a um dos episódios mais terríveis da história da humanidade, mas como trilhou uma pesquisa para entender melhor o que ocorreu com os pais e quais são as lições tiradas da memória.
A conversa com Louis foi proporcionada pela StandWithUs Brasil, instituição que trabalha para lembrar e conscientizar sobre o Holocausto, de maneira a usar suas lições para gerar reflexões sobre questões atuais.
Na obra, ele soma suas memórias com uma série de pesquisas feitas ao longo de anos para entender o Holocausto, visto que não tem imagens tão claras da infância. Indagado se lembra do momento de separação dos pais, ele deixa claro que não se recorda facilmente, mas justifica que entendeu o que ocorreu com o tempo.
Devido as pesquisas que fiz através dos anos, consegui muitos dados meus desse primeiro período que eu era muito pequeno. [...] No campo de Westerbork, ainda na Holanda, eu fiquei em um tipo de orfanato, que contava com crianças que não estavam acompanhadas de seus pais, que haviam morrido ou ainda não tinham morrido, mas eu não sabia nada”, explicou.
Contudo, ao ser indagado sobre as lembranças da infância, as emoções surgiram: “Nesse período, eu me lembro que me sentia muito sozinho, muito abandonado, com saudades terríveis dos meus pais, e que outras pessoas cuidavam de mim e, a única coisa mais concreta desse período, é que eu ficava numa fila para ganhar uma sopa aguada, que era o melhor alimento possível naquele momento”.
Se engana quem acredita que a libertação com o fim da guerra, em 1945, reverberou apenas em comemorações. Desamparados e com as vidas destruídas, os judeus poderiam sair dos campos, mas seus destinos eram incertos.
O mesmo ocorreu com Louis, que com os pais mortos e longe da irmã, transitou em diversos orfanatos e família de acolhimento a partir dos 9 anos de idade.
O que aconteceu comigo foi quase tão ruim do que durante a guerra em si, porque eu fui levado de um orfanato para outro, de uma casa para outra, e em cada lugar que eu ia, eu tinha que chamar de ‘tio’ e ‘tia’ novos personagens que apareciam na minha vida, pois, de alguma maneira, cuidavam de mim”, esclareceu.
Em junho de 1947, a oportunidade de sair da Europa partiu de Amsterdã, quando foi colocado em um avião, no qual recorda com perfeição; era uma aeronave comercial DC-4, fabricado pela Douglas Co., que seguiu até o Rio de Janeiro, onde desembarcou e encontrou parentes distantes e a irmã, seguindo para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
“Foi uma viagem de três dias na época, visto que não existiam aviões a jato, e no Rio de Janeiro me aguardava um tio e que me levou, num avião da Varig, para Porto Alegre. Aí terminou a primeira parte da minha juventude, digamos, como preso e deslocado de guerra”, disse Louis.
A conversa com Louis foi proporcionada pela StandWithUs Brasil, instituição que trabalha para lembrar e conscientizar sobre o antissemitismo e o Holocausto, de maneira a usar suas lições para gerar reflexões sobre questões atuais.