Equipe internacional de cientistas mapeou o genoma do tubarão-da-Groenlândia, uma espécie capaz de viver em torno de 400 anos
Uma equipe internacional de cientistas da Europa e dos Estados Unidos fez uma descoberta impressionante ao mapear o genoma do tubarão-da-Groenlândia, uma espécie capaz de viver até 400 anos.
Os resultados, publicados como pré-impressão no bioRxiv, revelam uma análise detalhada do genoma do tubarão-da-Groenlândia e abrem uma nova oportunidade para entender os mecanismos que permitem a longevidade excepcional desses tubarões. O estudo foi liderado por Steve Hoffmann, biólogo computacional do Instituto Leibniz sobre o Envelhecimento e da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha,
De acordo com o portal O Globo, entre os achados mais interessantes está uma rede de genes duplicados envolvidos na reparação do DNA, que pode ser a chave para a longevidade da espécie. Segundo os cientistas, esses tubarões têm genomas duas vezes maiores do que os humanos, com cerca de 6,5 bilhões de pares de bases de DNA — o maior genoma já sequenciado entre os tubarões.
Um fato curioso, diz a fonte, é que mais de dois terços do genoma do tubarão são compostos por elementos transponíveis, conhecidos como "genes saltadores", que podem se replicar e inserir em outros genes, muitas vezes causando mutações.
Embora esses genes tenham má reputação por suas possíveis implicações negativas, os pesquisadores levantaram a hipótese de que o tubarão-da-Groenlândia pode ter evoluído maneiras únicas de aproveitar a maquinaria dos genes saltadores para aumentar sua capacidade de reparar o DNA.
Essas descobertas são particularmente intrigantes porque os tubarões-da-Groenlândia, que vivem por séculos na natureza sem assistência médica, podem oferecer pistas valiosas sobre a biologia do envelhecimento e a resistência ao câncer.
O biólogo molecular João Pedro de Magalhães, da Universidade de Birmingham, sugeriu que o estudo dos tubarões poderia levar ao desenvolvimento de novas terapias ou medidas preventivas para o câncer em humanos.
A longevidade desses tubarões foi revelada pela primeira vez em um estudo de 2016, que usou datação por radiocarbono para estimar as idades de 28 tubarões-da-Groenlândia. Na época, os cientistas descobriram que esses animais podem viver cerca de 400 anos e que atingem a maturidade sexual apenas aos 150 anos.
Nos últimos anos, várias equipes têm se empenhado em sequenciar o genoma completo do tubarão-da-Groenlândia. A equipe liderada por Hoffmann foi a primeira a publicar uma sequência genética abrangente, que cobre aproximadamente 92% do genoma da espécie. Esse avanço foi possível graças a extensas expedições à Groenlândia, onde os cientistas capturaram tubarões para coletar amostras de tecido.
Entre as descobertas mais significativas, está uma rede de 81 genes específicos encontrados apenas nos tubarões-da-Groenlândia, que desempenham um papel crucial na reparação do DNA.
Um dos genes identificados é o TP53, conhecido por sua função na supressão de tumores e reparo do DNA. Alterações estruturais no TP53 dos tubarões sugerem que ele pode estar envolvido na longevidade da espécie, embora mais estudos sejam necessários para entender seu impacto.
Apesar da empolgação com essas descobertas, o biólogo Steven Austad, da Universidade do Alabama, alertou que nem todas as duplicações de genes necessariamente levam a efeitos importantes. Ele destacou que agora os pesquisadores precisam testar essas hipóteses em células vivas, possivelmente convertendo-as em células-tronco e diferenciando-as em diferentes tipos, como células do coração ou do cérebro.
A próxima etapa dos estudos deve envolver a comparação do genoma do tubarão-da-Groenlândia com espécies de vida mais curta, como o tubarão-dorminhoco-do-Pacífico, que é evolutivamente semelhante.
