Em "Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais" a plataforma de streaming Netflix revive um dos casos mais infames dos Estados Unidos
Publicado em 21/09/2024, às 20h00 - Atualizado em 24/09/2024, às 22h06
Após retratar os crimes de Jeffrey Dahmer na primeira temporada de "Monstro", a plataforma de streaming Netflix escolheu um caso tão infame quanto para sua segunda parte: os irmãos Menendez.
Em 1989, Lyle e Erik Menendez, filhos de José e Kitty, chocaram os Estados Unidos ao assassinarem os pais de maneira brutal na sala de estar da residência da família, localizada em Beverly Hills, Los Angeles.
Até hoje, o debate em torno do caso chama atenção: teria Erik e Lyle matado para herdar a fortuna da família, como sustentou a acusação, ou, seriam eles vítimas de abuso físico e emocional durante anos por parte dos próprios pais?
Assim como filmes e série baseados em fatos, a produção da Netflix também mistura ficção e realidade. Com isso em mente, confira o que é fato ou ficção nos episódios de "Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais".
Alerta: os próximos parágrafos apresentam spoilers e informações sensíveis!
Ainda no primeiro episódio, uma discussão intensa entre Lyle Menendez com os pais durante o jantar chama atenção. Enfurecida com o filho, que fala em casamento, Kitty puxa o seu cabelo com força. O ato revela que, na verdade, se trata de uma peruca.
De acordo com a obra "The Menendez Murders" de Robert Rand, que serviu de base para a série, o primogênito dos Menendez aderiu ao acessório. Conforme o Today, a discussão ocorreu em 15 de agosto de 1989, durante um jantar, no entanto, o real motivo da briga não fora especificado.
Lyle optou pela peruca após ser aconselhado pelo pai, José Menendez. Dois anos antes do crime, ele convenceu o rapaz a aderir ao acessório visando melhorar sua imagem pública, que seria importante para a carreira política que imaginava para o filho. Lyle, que lidava com a queda de cablo, seguiu a dica do pai ao ingressar na Universidade Princeton.
Na série, Kitty Menendez — registrada como Mary Louise Andersen — é retratada como uma mulher viciada em álcool e dependente do marido. Os episódios ainda sugerem que ela foi traída pelo companheiro.
A mãe de Erik e Lyle ficou devastada quando descobriu que seu marido era infiel, explica a Vanity Fair. Karen Lam, amiga da mãe dos rapazes, disse ao veículo, em 1990, que Kitty até mesmo tentou tirar a própria vida em três diferentes ocasiões.
Ao testemunhar, Edwin S. Cox, que foi terapeuta da mãe dos rapazes, disse que os pensamentos suicidas surgiram como resultado da infidelidade do marido, que teve um caso extraconjugal durante 8 anos, repercute o Today.
"Ecoando o testemunho daqueles antes, Cox disse que Kitty Menendez era dependente de drogas e álcool, deprimida e obcecada com as aparências", registrou o Los Angeles Times em 1993.
Em diferentes momentos, a série insinua que Erik Menendez mostrou interesse em se relacionar com homens na prisão. De maneira implícita, é mostrado que o personagem teria dificuldades para compreender relacionamentos e sua orientação sexual após anos de abusos.
Na vida real, Erik foi questionado sobre o tópico ao conceder entrevista à Barbara Walters. Ele negou que seria gay e detalhou como o promotor trouxe o tópico à tona, explica a US Magazine.
"Não [eu não sou gay]. O promotor trouxe isso à tona porque eu fui molestado sexualmente e ele sentiu em seu próprio pensamento que se eu fui sodomizado pelo meu pai, eu devo ter gostado e, portanto, devo ser gay", afirmou o rapaz. "E as pessoas que são gays por aí devem ter sido molestadas sexualmente ou não seriam. Foi perturbador ouvir isso, mas eu não sou gay. Mas muitas pessoas gays escrevem e se sentem conectadas a mim".
Cumprindo a pena de prisão perpétua, Erik é casado desde 1999 com Tammi Ruth Saccoman.
No segundo episódio da série, Lyle repreende o irmão mais novo por escrever um roteiro no qual o protagonista decide matar os próprios pais para herdar a fortuna.
O roteiro, de fato, foi escrito por Erik na vida real. Craig Cignarelli, um colega de Menendez, denunciou as autoridades que achou intrigante a semelhança entre o trabalho que fizeram juntos em "Friends" e o assassinato dos Menendez.
"A cena de abertura coincidiu com o que aconteceu na noite dos assassinatos", afirmou Cignarelli em entrevista à ABC News em 2017. Ele até mesmo colaborou com as autoridades ao tentar arrancar uma confissão do rapaz, no entanto, não obteve sucesso.
Em diferentes momentos, a série retrata uma proximidade estranha entre Erik e Lyle, o que sugere que eles se relacionavam. Esse detalhe até mesmo despertou críticas nas redes sociais.
"Se Ryan quisesse fazer um show sobre irmãos gêmeos desenvolvendo um relacionamento íntimo um com o outro devido a traumas sexuais compartilhados e abuso parental, então ele deveria ter escrito uma nova história. Você não pode reescrever a experiência de pessoas reais e VÍTIMAS REAIS para se adequar a você!", escreveu um internauta no X, conforme repercutido pelo programa Today.
Um dos jurados, durante o primeiro julgamento, teorizou que os rapazes se relacionavam, explica o The Wrap.
Ele até mesmo acreditava que José e Kitty descobriram o relacionamento incestuoso, resultando no crime que chocou o país. Mas, essa teoria foi ignorada durante o julgamento.
Embora a orientação sexual de Erik tenha sido questionada, não existem provas que sustentem a teoria de que os irmãos se relacionavam. Assim, não passa de boato.
Ao The Hollywood Reporter, Robert Rand afirmou as insinuações de incesto não são verdadeiras.
"Corriam rumores no julgamento de que talvez houvesse algum tipo de relacionamento estranho entre Erik e Lyle. Mas acredito que o único contato físico que eles podem ter tido é o que Lyle testemunhou, que quando Lyle tinha 8 anos, ele levou Erik para a floresta e abusou dele com uma escova de dentes — que é o que [seu pai] José tinha feito com ele. Então eu certamente não chamaria isso de um relacionamento sexual de qualquer tipo. É uma resposta ao trauma", explicou ele ao The Hollywood Reporter.
Outro ponto que chama atenção na série, e até mesmo relembra o caso Suzane von Richthofen, ocorre quando os irmãos passam a gastar o dinheiro dos pais de maneira desenfreada.
Isso também aconteceu na vida real. Em 24 de agosto de 1989, por exemplo, um dia antes do funeral de Kitty e José, Lyle desembolsou mais de US$ 15.000 em três relógios Rolex. Ele ainda gastou US$ 40.000 em roupas e comprou um Porsche de US$ 60.000, explica a Town And Country Magazine.
Já Erik desistiu da faculdade e contratou um treinador de tênis ao gastar US$ 60.000 por ano.
Na série, os irmãos matam os pais de maneira bárbara. Enquanto assistiam televisão, José e Kitty foram surpreendidos pelos filhos, que carregam espingardas. O pai, inclusive, questiona os filhos antes dos disparos.
No entanto, na vida real, a investigação apontou que José foi baleado à queima-roupa na parte de trás de sua cabeça. Assim, não teria notado os autores dos disparos.
Mas, vale ressaltar que a série acertou ao mostrar que Lyle, ao notar que a mãe ainda estava viva e ferida, foi até o carro recarregar a arma. Em seguida, ele finaliza a execução.
Na série, os irmãos criam um álibi. Após os assassinatos, eles vão até um cinema e, como ficam de fora da sessão, se dirigem até um restaurante e interagem com uma funcionária.
Na vida real, entretanto, eles retornaram para casa após descartarem as armas, e, eventualmente, afirmaram as autoridades que passaram a noite no cinema. Mas, eles não demonstraram tanto esforço na vida real para conseguir um álibi, explica a US Magazine.
"Doze tiros no meio de Beverly Hills em uma noite de domingo, e ninguém chama a polícia. Estamos esperando na casa, e ninguém aparece. Ainda não consigo acreditar", afirmou Erik à ABC News em 1996. "Não tínhamos um álibi, tudo o que fizemos foi dizer que estávamos no cinema".
Já no julgamento final que vai determinar o destino dos Menendez, o público é surpreendido com um momento inesperado. Enquanto os jurados deliberam se Lyle e Erik deveriam pegar a prisão perpétua ou a pena de morte, uma delas sofre um ataque cardíaco.
Esse acontecimento também aconteceu na vida real. "Bruce [Seitz] substituiu outro jurado que teve um ataque cardíaco durante as primeiras deliberações", repercutiu a CNN na época.