Embora os livros sejam ótimas referências para a criação de novos filmes, nem sempre os produtos audiovisuais agradam os autores originais
Publicado em 01/12/2024, às 09h00
O mundo da literatura é uma fonte inesgotável de referências, seja para profissionais que queiram criar pinturas, músicas ou, principalmente, filmes. E, muitos cineastas têm consciência de que há poucas referências mais rentáveis para um filme de sucesso do que um livro que já tenha conquistado o grande público.
Por isso, ao longo da História, o cinema já foi agraciado com inúmeras adaptações de obras literárias, algumas consagradas, outras nem tanto. Confira a seguir 5 autores que odiaram a adaptação cinematográfica de livros que escreveram:
+ A curiosa adaptação da União Soviética de “O Hobbit”;
Considerado por muitos um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, 'O Iluminado' chegou ao mundo em 1980, sob direção do consagrado Stanley Kubrick. Desde então, se tornou um fenômeno das telonas, e uma das maiores referências de adaptação, inspirado no livro de mesmo nome escrito pelo mestre do terror Stephen King.
No entanto, embora o filme tenha recebido muitos elogios nas últimas quatro décadas, o próprio King não ficou nada impressionado com a versão estrelada por Jack Nicholson, e especialmente desapontado por Kubrick tornar seu personagem, Jack Torrence, no antagonista da história, em vez de focar no fato de ele ser um homem bom possuído por forças malignas.
O escritor também criticou a personagem Wendy Torrence (vivida por Shelley Duvall), alegando que ela não fez nada na obra além de gritar.
Autor de 'Um Estranho no Ninho', que se tornou filme em 1975 sob direção de Miloš Forman, Ken Kesey também não gostou da adaptação para os cinemas de seu livro mais famoso — mesmo que tenha conquistado 5 prêmios no Oscar, com Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (para Nicholson), Melhor Atriz (para Louise Fletcher) e Melhor Roteiro Adaptado.
Ken Kesey recebeu a oportunidade de escrever o roteiro do filme, mas o trabalho não funcionou como o previsto. Assim, o trabalho ficou com Bo Goldman e Lawrence Hauben. Por isso, o escritor desenvolveu algum tipo de ódio pelo produto final, e seguiu desgostoso quanto à adaptação de seu clássico drama mesmo após seu lançamento e sucesso.
Um dos filmes mais famosos do começo da década de 1960 foi 'Bonequinha de Luxo', uma adaptação da novela publicada por Truman Capote em 1958, em que acompanhamos Holly Golightly, uma garota de programa decidida a casar-se com um milionário, mas que conhece um jovem escritor que pode mudar seus planos.
Capote, vale mencionar, nunca se opôs a uma adaptação de sua obra; mas sempre desejou que Marilyn Monroe interpretasse sua personagem mais famosa. Por isso, quando Audrey Hepburn foi escalada para o papel, o escritor passou a chamar o filme de "mal escalado", e não elogiou o filme tanto quanto a crítica da época.
A mente por trás de 'Psicopata Americano', que chegou aos cinemas em 2000 sob direção de Mary Harron, Bret Easton Ellis não ficou satisfeito com o filme, mesmo que seja considerada uma das melhores adaptações de livros deste século. Porém, para ele, sua obra sequer deveria ter uma versão cinematográfica.
"'Psicopata Americano' foi um livro que eu não achava que precisava ser transformado em filme. Acho que o problema com 'Psicopata Americano' foi que ele foi concebido como um romance, como uma obra literária com um narrador muito pouco confiável no centro, e o meio cinematográfico exige respostas", disse Ellis sobre o filme, conforme repercute a Far Out.
Mesmo sendo um cineasta muito respeitado, Stanley Kubrick aparentemente causava nervos a escritores que tinham suas obras adaptadas para o cinema. Além de 'O Iluminado' não ter agradado Stephen King, 'Laranja Mecânica' também não agradou a Anthony Burgess, seu autor original — e o próprio Burgess se arrependeu de permitir que o filme fosse produzido.
"O livro pelo qual sou mais conhecido é um romance que estou preparado para repudiar. Tornou-se conhecido como a matéria-prima para um filme que parecia glorificar o sexo e a violência", opinou Burgess durante entrevista, certa vez. "O filme tornou fácil para os leitores do livro entenderem mal do que se tratava, e o mal-entendido vai me perseguir até eu morrer. Eu não deveria ter escrito o livro por causa desse perigo de má interpretação".