A norte-americana lançou-se às ferozes águas da cachoeira em 24 de outubro de 1901, no dia de seu 63º aniversário
Com três cascatas de até 50 metros de altura, as Cataratas do Niágara chamam atenção de turistas, aventureiros e amantes da natureza. Localizada na fronteira entre Canadá e Estados Unidos, é a maior cachoeira do mundo em fluxo volumétrico de água, logo acima das Cataratas do Iguaçu — que é mais alta e mais larga, mas tem um volume menor. É o cenário certo para ideias insanas, como descer a queda d’água dentro de um barril.
A primeira pessoa de carne e osso a se aventurar catarata abaixo dentro de um barril foi a norte-americana Annie Edson Taylor, em 24 de outubro de 1901, em seu aniversário de 63 anos. Professora aposentada, teve a ideia para ficar famosa e ganhar dinheiro.
Um barril impermeável e acolchoado por dentro era a sua única proteção contra a Horseshoe Falls, porção mais violenta das cataratas. Primeiro, ela enviou um gato para testar o barril. O bicho e o barril sobreviveram e, após muitos atrasos, tentando convencer seus amigos que não era suicídio, o plano foi posto em ação.
Annie entrou no barril, posto ao lado de um bote, a parte de cima foi tapada, e ar comprimido foi bombeado pela rolha, com uma bomba de bicicleta. Selado hermeticamente, o barril foi solto e, 20 minutos depois, ela foi resgatada no rio Niágara, apenas com um corte na cabeça — mas quase morrendo de asfixia. Poucos quiseram pagar para ouvi-la. De consolo, recebeu a alcunha de Heroína das Cataratas do Niágara.
Nas décadas seguintes, 16 pessoas seguiram o exemplo de Taylor, nem todas com sucesso. Do dublê americano Charles Stephens, que enfrentou as cataratas em 1920, só foi encontrado o braço direito. Se a intenção dele era fama, conseguiu: o episódio lhe rendeu alguns minutos no documentário 'As Mais Estranhas Formas de Morrer', do Discovery Channel.
Mas não é só fama que os aventureiros do Niágara buscam — alguns saltaram com uma causa. Foi o caso da dupla de canadenses Peter Debernardie e Jeffrey Petkovich, em 1988. Queriam mostrar para as crianças que existiam coisas melhores para fazer além de usar drogas.
Antes de você se animar, saiba que descer as cataratas é crime. Em 1951, o Parque Nacional do Niágara se viu obrigado a proibir o ato e aumentar a multa para quem pulasse nas cataratas sem permissão — de meros 100 dólares, hoje pode chegar a até US$ 10.000.
Mas isso não foi impedimento para aventureiros, como o canadense David Munday, que sobreviveu à façanha em outubro de 1985, após ter sua primeira tentativa espetacularmente frustrada pela polícia — a qual contatou a hidroelétrica acima das quedas para diminuir o fluxo do rio, fazendo seu barril metálico entalar. Na investida seguinte, ele desceu. Mas queria mais: continuou a ser pego, preso e a persistir até seu segundo sucesso, em 1993.
O americano Kirk Jones, que já havia descido as cataratas sem equipamento algum em 2003, decidiu tentar a sorte novamente em 2017, desta vez munido de uma bola inflável. A sua sorte, parece, havia sido gasta na primeira vez: o corpo foi encontrado 19 quilômetros rio abaixo. Lembrando que um ser humano não foi a primeira criatura a descer as cataratas num barril. Em 1901, um gato chegou antes. E sobreviveu.