A Cheka, primeira polícia secreta russa, foi responsável por cometer mórbidos crimes contra todos aqueles que não concordassem com os caminhos seguidos pelos bolcheviques
As consequências da Guerra Civil Russa foram brutais. Marcado pela dualidade entre Vermelhos (bolcheviques) e Brancos (contrarrevolucionários), o final do embate deu-se com a vitória do primeiro grupo, que consolidou sua hegemonia soviética em todo território russo e além. Mas o êxito bolchevique foi firmado em um contexto sanguinolento, onde a morte se tornou terreno comum.
Ao final do ano de 1917, Lenin, por meio de um decreto oficial, criou a primeira polícia secreta soviética. Conhecida pela abreviatura de Cheka, a Comissão Extraordinária de Toda a Rússia para o Combate à Contrarrevolução e a Sabotagem teve como primeiro a comandante o aristocrata convertido ao comunismo, Felix Edmundovich Dzerzhinsky. Foi essa organização a principal responsável pelo chamado “Terror Vermelho Russo”, um período de intensa violência.
“Nessa época, o governo soviético estava sendo atacado por todos os lados [...]. Somente medidas fortes poderiam salvar a situação e essas medidas foram tomadas pelos soviéticos dos comissários do povo. Para combater o inimigo interno, era necessário criar um órgão que protegesse a retaguarda do Exército Vermelho e permitisse o desenvolvimento pacífico da forma soviética de governo. Esse órgão era a Comissão Extraordinária de Combate à Contra-Revolução e Sabotagem”, analisou Latsis em seu livro Dois Anos de Luta na Frente Interna.
Com o intuito de liquidar qualquer ato contrarrevolucionário ou desviante dos ideais soviéticos, a Cheka era muitas vezes retratada como uma tentativa de eliminação da burguesia russa. Lenin, no entanto, afirmava que os atos dessa polícia seriam aplicados apenas aos que estivessem do lado da contrarrevolução. A maioria deles eram membros do governo czarista.
Essa campanha de prisões e execuções em massa ficou conhecida como Terror Vermelho, em referência às retaliações realizadas pelo Exército Vermelho russo aos seus opositores. Anunciado oficialmente em setembro de 1918, permaneceu como política do governo soviético até aproximadamente outubro do mesmo ano. A curta duração não poupou mortes, no entanto.
O termo também é utilizado para designar medidas repressivas que começaram em um período anterior à criação da Cheka e a oficialização da política. Historiadores utilizam a expressão de maneira mais geral para marcar todo o período de repressão bolchevique durante a própria Guerra Civil, de outubro de 1917 até 1922, com a queda do Governo Provisório.
Os “inimigos de classe” perseguidos eram classificados de forma específica pela organização. Eles poderiam ser: qualquer militar ou envolvido com o czarismo; parte do clero russo; trabalhadores que não apoiavam o regime; e, por último, qualquer pessoa cuja propriedade fosse muito bem avaliada.
“Não olhe no arquivo por provas incriminatórias. Você não precisa provar que este ou aquele homem agiu contra os interesses do poder soviético. Pergunte a ele, em vez de qual classe pertence, qual é o seu passado, a sua educação, a sua profissão. Estas são as perguntas que irão determinar o destino do acusado. Esse é o significado da essência do Terror Vermelho”, escreveu Martin Latsis, chefe da Cheka na Letônia, no jornal Red Terror.
Mesmo sendo um importante apoio militar aos soviéticos, a comissão da Cheka tinha muito poder e quase nenhum limite legal. Milhares de assassinatos e prisões, muitas vezes em massa, foram atribuídos a ela. Os oficiais não seguiam praticamente nenhum procedimento padrão, dispensando a justiça revolucionária que, em princípio, deveria intervir nos casos.
Por isso é muito difícil alegar quantas pessoas foram mortas no Terror Vermelho. Historiadores concordam e discordam, mas muitos deles afirmam que o número de assassinatos que a Rússia assumiu posteriormente é muito menor do que eles acreditam.
O historiador estadunidense William Henry Chamberlin afirmou que "é simplesmente impossível acreditar que a Cheka matou apenas 12.733 pessoas em toda a Rússia até o final da Guerra Civil".
Ele estabeleceu uma contagem que chamou de "razoável e provavelmente moderada" de 50 mil pessoas assassinadas durante o período. No livro Red Victory: A History Of The Russian Civil War, o historiador W. Bruce Lincoln levanta o número de 100 mil mortes durante todo o período do Terror Vermelho.
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