Muito diferentes dos que são populares hoje, os antigos chopines tinham uma função prática e simbólica
Hoje em dia, as vezes se pensa com muito distanciamento e até estranheza em alguns hábitos ao longo da História, de forma que algumas tradições, elementos culturais e mesmo peças de roupa de séculos atrás pareçam não ter sentido. Porém, nem todos se dão conta que muitos dos costumes da atualidade possuem, em base, suas origens no passado.
Um exemplo de item de vestuário que parece fruto completo da contemporaneidade são os por vezes excêntricos sapatos de plataforma. Afinal, que adjetivo melhor que este para qualificar um calçado que se popularizou tanto com um dos ícones musicais mais extravagantes das últimas décadas, Lady Gaga?
Embora os sapatos de plataforma tenham se tornado mais populares nos últimos anos, ou seja, seu uso pareça um reflexo da moda da atualidade, sua origem remonta de séculos atrás, para outro cenário social, onde serviam até mesmo para distinguir a classe social de algumas mulheres.
Os chopines, sapatos de plataforma femininos populares entre a sociedade europeia no passado, foram desenvolvidos ainda no início do século XVI. Eram amplamente utilizados pelas mulheres venezianas da época. Porém, em vez de se tratar somente de um adereço estético, até mesmo cumpriu uma certa função prática que, eventualmente, se tornaria também um símbolo.
Embora fossem projetados, a princípio, para proteger os pés de quem estivesse nas ruas irregularmente pavimentadas, molhadas e lamacentas da antiga Veneza — sim, justamente a cidade dos canais —, a altura a mais que os calçados proporcionavam trazia, também, certo constrangimento e instabilidade ao caminhar das mulheres.
De acordo com o site do The Metropolitan Museum of Art, inclusive, essas mesmas nobres que usavam chopines eram quase sempre acompanhadas por uma criada, em quem se equilibrava quando precisasse.
Antigamente, pensava-se que os chopines mais altos (que chegavam até mesmo a impressionantes 50 centímetros, por vezes) eram acessórios utilizados por cortesãs — amantes de poderosos nobres, que lhes proviam luxo e bem-estar —, afinal, toda essa altura não é necessária para se proteger os pés, destinando-se a estabelecer seu perfil público.
Porém, relatos do século XVI indicam que, na verdade, surgiu um status social sobre o calçado: plataformas mais altas indicariam uma maior nobreza e grandeza daquela mulher.
Esse interesse em demonstrar maior nível de nobreza implicou no surgimento de chopines exageradamente altos e, com isso, também caros. Por isso, chegou inclusive o momento em que as leis suntuárias venezianas — que regulavam gastos com artigos de luxo — abordaram o calçado. Mas isso só depois das perigosas proporções dos chopines de meio metro de altura, já mencionados.