Uma das cidades mais belas do mundo, Veneza é repleta de canais onde só é possível transitar de bote
O mundo é extremamente vasto, de forma que é possível encontrar por ele as mais variadas paisagens, tanto naturais quanto modificadas pela ação humana, e com elas é possível, também, compreender mais da história de uma determinada região. E pensar que uma cidade como Veneza, considerada uma das mais belas do mundo, não foi construída pensando em se tornar uma atração turística, apenas a torna ainda mais encantadora.
Conhecida mundialmente pelos seus canais, a capital da região de Vêneto, no norte da Itália, é constituída por mais de 100 pequenas ilhas em uma lagoa no Mar Adriático. Seu principal diferencial é o fato de que a cidade não possui estradas, em uma área total de 414,6 km². Basicamente, todas as construções foram feitas em cima de muita água e lama.
Porém, o que mais chama atenção em Veneza, se desconsiderar sua beleza única, é o fato de a cidade ter sido fundada em 697 d.C, sendo assim super antiga e, apesar disso, resistente ao tempo e à água. Afinal, como os antigos romanos conseguiram construir uma cidade inteira sobre as águas de uma lagoa?
Como já mencionado, Veneza foi fundada no ano 697 d.C., não tanto tempo depois, historicamente falando, da queda do Império Romano, que se deu com a deposição de Rômulo Augusto, último líder do império, em setembro de 476 d.C., por Odoacro, líder dos hérulos, um povo germânico.
Nesse período, grande parte da Europa enfrentava o que ficaria conhecido como "invasões bárbaras", enquanto o grande Império Romano, um dos maiores da história, caía pouco a pouco. Logo, não é estranho de se pensar que alguns habitantes — especificamente do norte de onde hoje é a Itália — buscassem um lugar mais seguro para viverem e se protegerem dessas investidas de outros povos conquistadores.
E foi nesse contexto, então, que Veneza começou a ser construída. Localizada em uma laguna — uma depressão localizada na costa —, esta seria uma cidade distante de outros territórios e difícil de ser invadida pelos bárbaros.
Quando se explica como uma cidade de construção tão complexa como Veneza foi feita em um período tão antigo da humanidade, há mais de 1.300 anos, alguns venezianos podem explicar objetivamente com uma única afirmação, que é dificilmente compreendida de primeira: eles possuem um bosque submarino.
Da região onde hoje encontram-se Eslovênia, Montenegro e Croácia, os antigos romanos buscaram grandes troncos de árvores que variavam de 2 a 8 metros de comprimento. Com eles em mãos, então, afiaram uma das extremidades — ficando com um formato semelhante ao de um lápis — e, então, os enfiavam através da lama e do barro. Posteriormente, pedras também foram utilizadas para sustentar a formação.
E foi com uma estrutura desse tipo que Veneza pôde ser erguida. Todos os incontáveis troncos servem, ainda hoje, de sustentação para as grandes construções que a cidade abriga.
Embora seja estranha a ideia de que troncos submersos sustentem uma cidade inteira, pois logo se pensa na possibilidade de eles apodrecerem, isso nunca aconteceu em Veneza. Conforme explicado pela BBC, com os pilares completamente submersos, sem contato com o oxigênio do ar, a madeira não entrou em contato com fungos, bactérias e outros organismos que pudessem devastá-la.
Além disso, as águas da laguna sobre a qual Veneza foi construída também têm a característica de possuírem grandes concentrações de minerais. Graças a isso, com o tempo, a madeira conseguira absorver esses minerais e água, de forma que se petrificou com o tempo.
E foi graças a esse sucesso da arquitetura e engenharia que, no século 8, aquele conjunto de ilhas se uniu e formou a Sereníssima República de Veneza, que chegou a dominar o Adriático na época, controlando e mediando o comércio entre o restante da Europa e o Crescente Fértil — formado por onde hoje se encontram Palestina, Israel, Kuait e Líbano.