Estudo publicado na revista International Journal of Paleopathology indica que o uso de sapatos pontudos gerou um enorme problema para os britânicos ricos
Você já reparou no quão pontudos eram os sapatos medievais? Um estudo realizado por uma equipe de pesquisadores de Cambridge indicou que essa moda tão diferente levou a um enorme aumento dos casos de Joanete na Grã-Bretanha, tanto que o rei Eduardo IVse viu na necessidade de limitar o tamanho da ponta dos calçados.
Foi a partir de esqueletos que os especialistas, perceberam a grande incidência da deformidade, principalmente entre os cidadãos e clérigos mais ricos da sociedade.
Um outro grupo de pesquisadores, da Universidade de Cambridge, ainda notou que as pessoas da época mais velhas com hálux valgo, como é chamado o problema, tinham maior propensão a ter um osso quebrado em razão de uma queda se comparado às com pés normais.
O estudo foi apresentado na revista International Journal of Paleopathology em 2021.
Os arqueólogos analisaram 177 esqueletos que estavam sepultados em cemitérios da região de Cambridge e arredores. Eles descobriram que somente 6% dos datados do período entre os séculos 11 e 13 tinham evidências de joanete.
Contudo, analisando os restos mortais de pessoas que viveram entre os dois séculos seguintes, 14 e 15, esse número salta para 27%.
Isso pode ser explicado quando levamos em consideração as mudanças que sofreram os sapatos no período. De acordo com os especialistas, os calçados, que antes tinham um formato arredondado, tornaram-se tão pontudos que passaram a prejudicar a saúde dos indivíduos que os utilizavam.
Contudo, os modelos diferenciados, que deveriam ser itens caros, eram utilizados apenas por ricos e clérigos, indicando status social.
“O século 14 trouxe uma abundância de novos estilos de roupas e calçados em uma ampla gama de tecidos e cores. Entre essas tendências da moda estavam os sapatos de bico longo chamados poulaines”, explicou o coautor do estudo Piers Mitchell, do Departamento de Arqueologia de Cambridge, no texto publicado.
Conforme informaram os pesquisadores, os esqueletos analisados vieram de quatro locais diferentes: um hospital de caridade, um convento agostiniano, um cemitério paroquial e um cemitério rural que ficava próximo a uma vila localizada 6 quilômetros ao sul de Cambridge.
Eles perceberam que apenas 3% dos indivíduos retirados do cemitério rural apresentavam sinais de deformidade nos pés. No cemitério paroquial, que concentrava restos mortais de trabalhadores pobres, eram 10%. Já no caso dos sepultados no terreno do hospital eram 23%.
Agora, a grande surpresa se dá quando paramos para analisar os esqueletos do convento: cerca de 43% deles tinham joanete. Entre eles, havia 5 clérigos, o que pôde-se notar por meio das fivelas de seus cintos.
A moda dos sapatos ficou tão exagerada e causou tantos casos de deformidades e fraturas nos pés dos britânicos que, no ano de 1463, o rei Eduardo IV limitou o comprimento da ponta dos sapatos. A partir de então, ela não poderia ultrapassar cinco centímetros.
Conforme afirmou a co-autora Jenna Dittmar, “a pesquisa clínica moderna em pacientes com hálux valgo mostrou que a deformidade torna mais difícil o equilíbrio e aumenta o risco de quedas em pessoas idosas. Isso explicaria o maior número de ossos quebrados curados que encontramos em esqueletos medievais com essa condição.”
Confira o estudo completo aqui.
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