Apesar dos últimos três presidentes americanos terem conseguido um segundo mandato, apenas 17 dos 44 eleitos na história do país conseguiram tal façanha
Após a anulação do processo de impeachment, o maior questionamento sobre o futuro presidencial de Donald Trump é: ele está a caminho da reeleição? Essa pergunta pode até parecer meio óbvia e retórica, afinal, grande parte das pessoas acredita que sim. No entanto, essa parcela que crê numa continuidade republicana acabou esquecendo de um fator muito importante: a História.
Analisando os últimos 30 anos, a máxima continuidade parece ser concreta, afinal de contas, Bill Clinton, George W.Bush e Barack Obama — os últimos três presidentes americanos —, não encontraram dificuldade para serem reeleitos.
"O poder da incumbência não deve ser desprezado", alerta Margaret O'Mara , professora de história na Universidade de Washington, que, atualmente, estuda a política presidencial e a interseção dos poderes econômicos e políticos.
Mas, ao olharmos para trás, é possível perceber que nem sempre apostar em um segundo mandato era uma conclusão segura. Apenas 17 dos 44 presidentes americanos foram reeleitos, uma taxa de sucesso de aproximadamente 38%.
A tendência para segundos mandatos nos últimos anos não é algo casual ou aleatório, mas uma consolidação da força do Poder Executivo, diz O’Mara — que anteriormente era consultora de políticas do então vice-presidente Al Gore.
“Acho que o que mudou foi que a própria presidência ficou mais poderosa — muito mais que os fundadores pretendiam”, explica. “Uma das razões pelas quais não podemos lembrar muito sobre Rutherford B. Hayes [19º presidente americano] ou Benjamin Harrison [23º] é que a presidência não parecia algo tão grande na época. Os partidos, o Congresso e os tribunais tinham muito mais peso há 100 ou 150 anos — e os presidentes eram figuras menos imponentes, com algumas exceções, sendo Lincoln um deles”.
As circunstâncias mudaram no século 20, quando presidentes, que vão desde Roosevelt e Eisenhower até Reagan e Obama, aproveitaram seus poderes de comandantes, o espaço concedido pela mídia de massa e um Congresso cada vez mais fragmentado — e, portanto, mais fraco — para expandir o alcance de suas influências.
A capacidade de moldar o ciclo noticioso é algo essencial e é uma área que Trump, por mais que ame ou odeie, se destaca. “O presidente Trump demonstrou com uma clareza assustadora como os presidentes dominam as narrativas nacionais e da mídia; nós os vemos ou ouvimos diariamente, no caso de Trump, muitas vezes a cada hora”, observou Aaron David Miller, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace, em um ensaio recente intitulado The Power of Incumbency (ou, O Poder da Incumbência, em tradução literal).
Outro ponto que pode ajudar Trump a superar essa probabilidade histórica pouco favorável é a economia. E neste ponto, ele está em vantagem. "É interessante que a América moderna valorize tanto a personalidade, o caráter e a conduta presidenciais quando se fala em candidatos, mas, ao mesmo tempo, as pessoas votam rotineiramente com base na economia do país", disse O'Mara.
Superado o processo de impeachment, que poderia colocar um enorme ponto de interrogação no jogo da reeleição, há outro fator que pode colocar uma incógnita no segundo mandato de Trump: o conflito no Irã, que, embora pareça ter cessado, próximos capítulos podem se desenrolar em 2020.
Embora a política externa raramente desempenhe um papel decisivo nas eleições presidenciais dos EUA, ele não é um agente inédito. Em 1968, por exemplo, a deterioração da situação no Vietnã prejudicou as chances de reeleição de Lyndon Johnson e provocou violentos protestos anti-guerra na Convenção Nacional Democrática de Chicago.
No lado republicano, Nixon, um ativista falho, mas sagaz, superou os principais desafios de Reagan, Nelson Rockefeller e George Romney. Embora a economia tenha sido dinâmica, a discórdia sobre a guerra acabou provando ser um albatroz político demais para o vice-presidente Hubert Humphrey, e Nixon venceu.
Pode até não se dizer que o melhor cenário para os democratas seria encontrar sua própria versão de Nixon, mas é evidente que cada dia que passa, os eventos estão ocorrendo mais rapidamente e uma força de oposição se deteriora.
O'Mara diz que o principal ponto a ser observado em 1968, é o quão verdadeiramente insano eram os eventos que alteravam o cenário político, já que um novo fator se desenrolava quase que semanalmente — que iam desde a Primavera de Praga e a Ofensiva do Tet, até os assassinatos de Martin Luther King. Jr. e Robert Kennedy.
"Podemos dizer que aqui estão as regras, os padrões, os precedentes históricos, mas você nunca pode prever o que acontecerá", disse O'Mara. “E, especialmente, em um momento como esse, não há analogias claras”.