Protestos ao redor do país relembraram o passado sombrio que o governo tentou esconder por anos; entenda
O Dia do Canadá, que ocorre todo 1 de julho no país, foi marcado por revolta e protestos esse ano. A data reuniu milhares de canadenses que se dividiram entre manifestações para contestar o ‘orgulho nacional’.
Em Winnipeg, estátuas das rainhas britânicas Vitória e Elizabeth II foram depredadas. Assim como aconteceu em Colúmbia Britânica e Saskatchewan, onde a população foi mostrar sua insatisfação com o passado conturbado do Canadá; já em Toronto e Ottawa, pessoas pediam para cancelar o ‘Dia do Canadá’.
Ao derrubar a estátua da rainhaVitória, que estava no poder quando o Canadá fazia parte do Império Britânico, entre 1837 e 1901, o povo bradou. Os gritos de "nenhum orgulho do genocídio" acompanharam as danças e festas ao redor do monumento destruído.
“O progresso que fizemos como país não aconteceu por acaso e não continuará sem esforço. Portanto, ao celebrarmos este lugar que chamamos de lar e as pessoas com quem o compartilhamos, vamos renovar o compromisso de construir um futuro melhor para todos”, falou o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, em pronunciamento.
Canada Day protest over residential schools sees monarch statues toppled in Winnipeg https://t.co/JPXa8ZkSREpic.twitter.com/LtaEhrRFCb
— The Star Halifax (@thestarhalifax) July 2, 2021
Em frente a legislatura provincial de Manitoba, os canadenses atraíram atenção do mundo inteiro. No entanto, muitos se perguntaram o que motivou os protestos, e o que estava por trás de tanta indignação. Afinal, por que as estátuas foram derrubadas?
As manifestações tinham uma causa nobre, recentemente, centenas de esqueletos de crianças indígenas foram encontrados em antigas escolas que tinham como o objetivo a ‘reintegração’ social dos nativos à sociedade canadense.
Demonstrators toppled statues of Queen Victoria and Queen Elizabeth in Winnipeg this afternoon during rallies honouring the children discovered in unmarked graves on the sites of former residential schools over the past month. pic.twitter.com/Zx0aqPGcOW
— APTN News (@APTNNews) July 2, 2021
Assim, buscando tornar o povo unificado, o governo retirava crianças de seus lares e as colocavam em uma espécie de orfanato, longe de suas famílias e cultura. O processo era também um esforço da Igreja Católica, financiado pelas autoridades do país.
Por 165 anos, a medida perdurou, até o ano de 1996. Além de estarem sozinhas e serem forçadas a se inserir em uma nova rotina, relatos de abuso físico e sexual, e ainda desnutrição, levaram a Comissão de Verdade e Reconciliação a declarar em 2015 que houve um "genocídio cultural".
As descobertas perturbadoras trouxeram a tona um passado esquecido, onde muitos jovens foram mortos e tiveram suas identidades negligenciadas, algo que Trudeau descreveu como um fracasso histórico do país.
Two damaged queen statues at the Manitoba legislature to be rebuilt: premier https://t.co/nj1TYTv5wMpic.twitter.com/3jwK2xQw4d
— CTV News Winnipeg (@ctvwinnipeg) July 7, 2021
“As pessoas que vieram aqui para este país, antes de ser um país e como não vieram aqui para destruir nada, vieram aqui para construir”, disse o primeiro-ministro de Manitoba, Brian Pallister, em um vídeo compartilhado nas redes sociais. A região foi um dos palcos dos protestos.
Enquanto ativistas buscam por justiça e reparação, Boris Johnson se pronunciou para condenar as depredações contra as estátuas de ambas as monarcas. E acrescentou sua preocupação com os povos nativos.
"Nossos pensamentos são com a comunidade indígena do Canadá após essas trágicas descobertas, e acompanhamos essas questões de perto e continuamos a nos envolver com o governo do Canadá em questões indígenas", concluiu o premiê britânico.