Uma equipe de antropólogos e arqueólogos forenses, que realiza escavações no cemitério civil de Almagro, foi capaz de identificar uma pequena parte das vítimas do conflito
A Guerra Civil Espanhola, ocorrida entre 1936 e 1939, foi um dos mais conturbados períodos da história da Espanha. Na época, tendências políticas opostas ganhavam força em razão da recém-implantada república.
De um lado, o movimento operário considerava a reforma insuficiente e, de outro, cidadãos católicos de direita e monarquistas preparavam-se para um golpe de Estado.
Foi assim que, no mês de julho de 1936, generais entre os quais estava Francisco Franco, tentaram depor o governo. Conforme a Fgv, o que ocorreu a seguir, foi uma grande cisão, de modo que parte do país permaneceu com o presidente eleito e parte ficou sob domínio dos militares. O lado republicano passou a fornecer armas à população, que, organizando-se em milícias, passou a lutar contra o fascismo.
O Exército de Franco foi apoiado pela Alemanha e pela Itália, enquanto os republicanos receberam apoio da União Soviética e de cerca de 60 mil comunistas e simpatizantes da esquerda vindo de diferentes regiões do mundo, formando as chamadas Brigadas Internacionais de voluntários.
Ao final de três anos, centenas de milhares, ou talvez um milhão de pessoas havia perdido a vida no conflito, que terminou com a instauração da ditadura de Franco, em março de 1939. Este permaneceu no poder até sua morte, no ano de 1975.
Em maio de 2021, uma equipe de antropólogos do projeto Mapas de Memória, da Universidade Complutense de Madrid (UCM), e arqueólogos forenses da Universidade de Cranfield, na Inglaterra, anunciou o início de uma importante missão: a identificação de dezenas de corpos encontrados em uma vala comum do cemitério civil de Almagro, em Ciudad Real.
A ideia é que, até o final do ano, seja possível identificar todas essas vítimas que, de acordo com a revista Galileu, foram mortas entre os anos de 1939 e 1940, ao final da Guerra Civil Espanhola.
Nos últimos dez anos, o projeto identificou 3.457 vítimas enterradas apenas em Ciudad Real, e, desde o ano 2000, já foram mais de 7 mil corpos em todo o país. Agora a equipe irá escavar uma área separada do cemitério que, há décadas, se encontra isolada. Essas escavações deverão ser encerradas em junho, dando início à fase das análises de DNA.
Os estudos serão realizados em laboratórios da UCM e tentarão desvendar de que maneira aquelas pessoas foram mortas, além de buscar indícios de parentesco com famílias que há muito anseiam por enterrar seus entes queridos.
Com dez dias desde o início da missão, a equipe foi capaz de identificar 21 vítimas, que finalmente puderam ser enterradas dignamente por seus parentes. O grupo conseguiu entrar em contato com os familiares por meio das redes sociais.
“Encontramos corpos de um lado e histórias do outro, que mais tarde se conectaram”, disse o líder do projeto Mapas da Memória, Jorge Moreno.
“Como profissionais da antropologia forense, temos a responsabilidade de colocar a nossa ciência ao serviço dos familiares que procuram seus entes queridos por tanto tempo", afirma Maria Benito Sanchez, diretora da equipe forense do projeto.
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