Lançado em 1959, 'Orfeu Negro' é protagonizado por brasileiro, falado em português, e conquistou Oscar para... a França? Entenda!
Neste domingo, 10, os fãs de cinema param para conferir a exibição do Oscar 2024. Ao todo, 23 prêmios, relacionados aos filmes lançados ao longo do último ano, serão distribuídos em diferentes categorias.
Sendo esta a premiação de cinema mais famosa do mundo, como um evento aguardado todos os anos por muitos, já se consagrou na história — não à toa: a primeira cerimônia realizada foi em 1929, há quase um século!
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Ao longo de todos esses anos, foram feitas alterações na premiação, especialmente, no número e variedade de categorias — afinal, na década de 1930 o cinema não contava com toda a gama de tecnologias que possui hoje —, além dos próprios critérios para seleção dos premiados. Assim, debates são inevitáveis após a divulgação dos resultados.
Um exemplo memorável, especialmente entre nós, brasileiros, é quando a ilustre Fernanda Montenegro foi indicada na categoria de Melhor Atriz no Oscar 1999, por 'Central do Brasil'. Até hoje, muitos acreditam que ela foi a grande vencedora, em vez de Gwyneth Paltrow com seu trabalho em 'Shakespeare Apaixonado'.
Porém, há também um caso bem menos lembrado de um filme "brasileiro" que chegou a vencer um prêmio no Oscar: 'Orfeu Negro' (ou 'Orfeu do Carnaval'), lançado bem antes, em 1959.
O longa-metragem foi dirigido pelo cineasta francês Marcel Camus, e ao conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960, o prêmio foi considerado da França. Porém, na prática, o longa foi co-produzido pela França, Itália e pelo Brasil, sendo este último importante para toda a obra.
O filme, segundo o site Tenho Mais Discos que Amigos, é baseado na peça Orfeu da Conceição, escrita em 1954 por Vinícius de Moraes. Já esta, era uma releitura da história mitológica grega de Orfeu e Eurídice, reimaginada no Rio de Janeiro durante o Carnaval. Assim, além de uma adaptação direta de uma peça escrita por um brasileiro, a própria história gira em torno de temas próprios do Brasil.
Por isso, pensando em ser ainda mais digno à narrativa, Camus decidiu que as filmagens também ocorreriam em nossas terras, o filme seria rodado em português e, ainda por cima, quem protagonizou foi o ator e jogador de futebol brasileiro Breno Mello — que, por sua vez, contracenou com a francesa nascida nos Estados Unidos Marpessa Dawn.
"A trágica história romântica entre a jovem Eurídice e o motorista e músico Orfeu. Os dois se conhecem durante o carnaval no Rio de Janeiro e se apaixonam, mas Orfeu tem uma noiva ciumenta. De acordo com a antiga lenda, o amor do casal é acompanhado de perto pela morte, e ele será capaz de descer aos infernos para salvar a sua grande paixão", descreve a sinopse.
Na narrativa, a antiga lira grega é substituída por um violão, o que não poderia ser decisão ideal para uma obra praticamente brasileira. A trilha sonora capturou perfeitamente a essência carioca, e gerou duas das mais belas e famosas canções do cinema nacional: 'A Felicidade', de Tom Jobim, e 'Manhã de Carnaval', de Luiz Bonfá — que é praticamente impossível de não se conhecer, visto que é a quinta música mais gravada de toda a história do país —, além de conquistar no estrangeiro.
Indiscutivelmente, 'Orfeu Negro' conquistou sucesso mundial. Tanto que já foi mencionado pelo artista americano Jean-Michel Basquiat como uma de suas primeiras inspirações; e até mesmo citado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como o preferido de sua mãe.
Com isso, não surpreende que o longa tenha sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Porém, o que mais chamou atenção foi o fato de, apesar de toda a forte relação e identificação que tem com o Brasil, foi indicado como um filme francês, graças ao seu diretor.
Então, com a decorrente conquista do prêmio, a repercussão negativa dessa decisão ficou ainda mais quente. No fim, nada mudou, entretanto, ainda é possível dizer e defender que 'Orfeu Negro' é uma produção brasileira.