Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Entretenimento

O trauma que se transformou em um segredo: a insólita saga dos gêmeos Alex e Marcus Lewis

Um dia, Alex perdeu a memória. O que poderia ser um desastre, foi visto por Marcus como uma oportunidade para recontar a história dos dois - porém mudando alguns detalhes

Ingredi Brunato Publicado em 20/10/2020, às 18h00 - Atualizado em 15/07/2024, às 18h58

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Trecho do documentário "Diga quem sou" com irmãos sentados frente a frente - Divulgação/Netflix
Trecho do documentário "Diga quem sou" com irmãos sentados frente a frente - Divulgação/Netflix

O documentário “Diga quem sou”, da Netflix, acompanha a intrigante história que ocorreu, em sua maior parte, durante a juventude de dois irmãos gêmeos britânicos, atualmente com mais de cinquenta anos de idade. 

Histórias envolvendo gêmeos idênticos são naturalmente interessantes: existem os que foram separados na adoção, os que dividem uma conexão e sincronia por vezes inexplicável, e também os siameses, que nasceram com partes do corpo grudadas, precisando aprender a conviver com isso. 

Fora desses casos mais tradicionais, contudo, também é possível dizer que até detalhes em relação ao cotidiano de duas pessoas que têm a mesma aparência já são por vezes curiosos por si só. O que os irmãos Marcus e Alex Lewis viveram pode ter suas particularidades, mas em seu cerne, poderia ser o passado de qualquer um, e é aí que reside o poder dessa história. 

Um acidente 

Em 1982, Alex estava andando de moto quando teve um acidente que mudaria toda a sua vida. Isso porque, após três meses em coma, o jovem, que tinha apenas 18 anos na época, perdeu a memória. Ele esqueceu tudo a respeito de sua vida: exceto, em uma reviravolta inesperada, a existência de seu irmão gêmeo.

Marcus passou a ter o papel de explicar ao seu irmão como era a vida deles, como eram os pais, os dois irmãos mais novos, as rotinas dentro de casa. Ele descreveu a infância e adolescência dos dois, contou sobre seus amigos, seus hobbies, e também sobre os momentos que passaram juntos. Os irmãos tinham compartilhado boa parte da vida, e não havia ninguém melhor para a tarefa. 

Segundo a revista Times, em uma publicação de 2013, quando os irmãos publicaram um livro sobre sua história - o mesmo que foi adaptado para o documentário -, era impossível esquecer toda a sua vida, exceto por uma pessoa. Alex, todavia, explicou que ainda havia muito para a ciência descobrir sobre gêmeos. 

Um segredo 

Imagem de Alex no trailer do documentário "Diga quem sou" Crédito: Divulgação/Youtube/Netflix 

Marcus contou para seu irmão sobre uma vida alegre, com viagens de família e pais amorosos. Porém, e esse é o grande revés da história dos gêmeos, o jovem de 18 anos não havia contado toda a verdade. Ele teve a chance de reescrever certos eventos que aconteceram com os dois, e usou essa oportunidade única para garantir que pelo menos um deles tivesse um passado feliz. 

É algo que transparece em alguns detalhes esquisitos, como o fato dos irmãos Lewis não morarem dentro da casa dos pais desde a pré-adolescência, e sim em um puxadinho, precisando da permissão da mãe ou do pai quando queriam entrar na cozinha, porque sequer tinham a chave para o resto da residência. 

Para quem chega ao final do livro “Tell me who I am” (Ou “Diga quem sou”), ou então do documentário recente da Netflix, existe todo um baú para ser aberto com as memórias que Marcus preferia esquecer, e por isso deu essa chance a seu irmão. 

A jornada não é simples: não existe receita para conseguir lidar com a consciência de que se sofreu eventos traumáticos na infância, ainda mais se eles forem infligidos por uma pessoa cuja função era amar e proteger. Porém, Alex precisava saber quem ele era, por mais difícil que a verdade fosse, porque seus traumas também faziam parte de sua história de vida.

A verdade 

Quando os gêmeos tinham 32 anos de idade, a mãe deles morreu. Alex já tinha construído toda uma vida então, mas estranhamente, ainda não se sentia próximo de sua família. Seu gêmeo tinha entrado naquele ano para a terapia, e portanto ele começou a se consultar com um psicólogo também. Naquele ponto, já sabia que havia algo a mais sobre sua vida que Marcus não revelara.   

"O que ele não me disse foi que nossa mãe abusou sexualmente de mim e de meu irmão, de quando éramos pequenos até a nossa adolescência. Eu não poderia saber disso na época, mas estou claro que é por isso que me sinto tão congelado emocionalmente. Faltava uma peça crucial do quebra-cabeça da família.", contou Alex, segundo divulgado pelo Eonline. 

Quando ele soube finalmente o que tinha acontecido consigo, teve "todas as respostas emocionais". O gêmeo sentiu raiva, alívio e tristeza. E, embora definitivamente tivesse sentimentos negativos para processar em relação à sua mãe, nunca jogou sua fúria no irmão por mentir para ele.  "Sinto que ele me salvou - eu não tinha a capacidade de lidar com a memória do abuso logo após o meu acidente.", concluiu. 

Alex precisou então de um novo começo, pois sentiu que estava vivendo uma "vida falsa". Ele reiniciou sua vida como na época do acidente, porém dessa vez sabendo toda a verdade sobre si mesmo.