Uma das obras mais famosas do mundo, 'Mona Lisa' possui uma das expressões mais enigmáticas da história
Um dos principais elementos que diferenciaram os humanos de outros animais no passado, além da evolução do cérebro, foi o surgimento da Arte. Tanto que é considerada como obra de arte mais antiga do mundo uma pintura rupestre nas paredes da caverna de Leang Tedongnge, em Celebes, Indonésia, com seus meros 45,5 mil anos.
Apesar disso, quando se pensa em "história da Arte", geralmente não se remonta há tanto tempo no passado. Em vez disso, pensa-se nos movimento artístico ocorridos principalmente na Europa — e, por sua vez, o considerado primeiro movimento artístico da história é o Impressionismo, do século 19.
Independente de qual pode ser considerado o início da arte, é inegável que a História da Arte é extremamente antiga, e são inúmeras as obras já produzidas pela humanidade. Logo, se faz um feito extremamente notável que, em 1503, um italiano chamado Leonardo da Vinci pintaria aquela que viria a ser a obra de arte mais famosa de toda a história (e também consagrando o seu próprio nome): a 'Mona Lisa'.
Em seus 500 anos de existência, a 'Mona Lisa' já foi estudada por diversos especialistas e estudiosos da arte, e sempre é palco para alguma nova descoberta — até porque não só ela, como o próprio da Vinci, é uma figura bastante enigmática ainda hoje.
Muito já se teorizou sobre o local em que a obra foi pintada, ou sobre a pessoa ali representada (algumas teorias sugerem que seja uma espécie de autorretrato do pintor italiano), mas um dos elementos que mais chama atenção e segue intrigando especialistas é a expressão da "Gioconda", como também é conhecida.
Para entender o porquê de a expressão da retratada na 'Mona Lisa' ser um aspecto relevante, é preciso compreender, primeiro, o contexto em que ela foi pintada: o Renascimento.
Ocorrido ainda antes do Impressionismo, entre os séculos 14 e 16, o período consistiu em uma época de grande desenvolvimento político, cultural, artístico e científico da Europa.
Logo, considerando-se esses dois últimos, era extremamente valioso que os artistas da época fizessem retratos humanos com todas as perfeições anatômicas — o que explica também, por exemplo, a riqueza de detalhes em 'David', de Michelangelo.
O próprio Leonardo da Vinci merece bastante destaque, quanto a sua atuação no Renascimento. Além de pintor, também era cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico — um verdadeiro polímata —, e de fato, uma pessoa de tantos talentos expressava-se nas pinturas como ninguém.
Logo, pode-se acreditar que nada que é colocado na tela por Leonardo da Vinci foi ao acaso. Toda a pintura da 'Mona Lisa' levou entre três e quatro anos para ser finalizada, tempo o bastante para que da Vinci repensasse tudo ali retratado. Então novamente volta a questão: por que a figura ali pintada, uma das mulheres desconhecidas mais famosas da história, possui aquele sorriso tão pouco expressivo?
Um estudo publicado em 2019 na ScienceDirect, desenvolvido por Luca Marsili, Lucia Ricciardi e Matteo Bologna afirma que "de acordo com algumas teorias influentes da neuropsicologia da emoção, interpretamos o sorriso assimétrico da Mona Lisa como um sorriso notado quando a pessoa está mentindo."
Conforme descrito pela Revista Galileu na época do estudo, a famosa pintura de da Vinci foi exposta a 42 voluntários, que classificaram sua expressão entre seis emoções universais: felicidade, tristeza, raiva, nojo, desprezo e medo. E o que a maioria deles pontuou foi que a expressão era assimétrica, com o lado esquerdo do sorriso mais expressivo e feliz, e o direito, "sério, enojado e triste".
O estudo ainda descreve que alguns especialistas acreditam que a assimetria no sorriso da mulher pode ser ocasionada pela perda de um dente. Outros também sugerem que a expressão pode ser de cansaço:
Considerando que é improvável que uma pessoa fique sentada imóvel genuinamente feliz, a explicação mais simples é que a Mona Lisa assimétrica seja a manifestação de um 'prazer falso' — apesar de todos os esforços feitos pelos assistentes de Leonardo para manter as modelos felizes", escrevem os autores.
Um termo importante para compreender as análises de microexpressões faciais, para identificar se um sorriso é verdadeiro ou não, é o "sorriso de Duchenne". A expressão é utilizada para se referir a uma expressão de felicidade genuína, com a ativação da musculatura da face superior — o que não ocorre com a 'Mona Lisa', vale dizer —, descrita no século 19 pelo neurologista francês Guillaume Duchenne.
Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, a coautora do estudo Lucia Ricciardi afirma que Leonardo da Vinci "ergueu o lábio da mulher ligeiramente, como se fosse pintar um sorriso". Por isso, os especialistas acreditam que possivelmente o pintor italiano já soubesse identificar um sorriso verdadeiro ou falso, séculos antes de Duchenne, e assim "deliberadamente ilustrou um sorriso expressando de uma emoção 'não sentida'".
Até o momento, a hipótese não pôde ser comprovada, mas caso seja verdadeira, os pesquisadores acreditam que a sutil feição da 'Mona Lisa' possa esconder mensagens secretas de da Vinci. Vale lembrar que outros especialistas já apontaram uma melodia oculta em outra obra do italiano, 'A Última Ceia'.
+ A Última Ceia: Teria Leonardo da Vinci deixado uma melodia oculta na obra?
Acreditamos que aquela expressão tem um significado específico, e não seja resultado apenas de uma imperfeição física", afirma, por fim, Lucia Ricciardi.