Em 2020, o Zoológico do Bronx decidiu parar de ignorar o episódio que assombrou sua história durante 114 anos
Em 8 de setembro 1906, o Zoológico do Bronx, localizado na cidade de Nova York, exibiuOta Benga, um jovem pigmeu africano que sobreviveu ao massacre de sua tribo e foi posteriormente sequestrado de sua terra natal.
O objetivo do ato seria mostrar como a "raça caucasiana" seria "evoluída" em comparação com o rapaz de 22 anos, visto então como parte de uma "raça primitiva" — uma ideia que, como sabemos hoje, é completamente incorreta e racista.
Durante seu período dentro do zoológico, Ota foi alvo de provocações e humilhações por parte tanto de funcionários quanto de visitantes, tudo com o objetivo de entreter a plateia.
Frequentemente, ele era colocado dentro da jaula dos orangotangos, sendo obrigado a interagir com os macacos. Também precisava mostrar seus dentes com frequência, uma vez que eles haviam sido artificialmente afiados como parte de uma tradição de sua tribo.
Conforme informações relembradas pelo History, o triste episódio apenas chegou ao fim após intensas manifestações de um grupo de ministros religiosos negros, que ameaçaram processar o Zoológico do Bronx.
Assim, após 20 dias, Benga foi finalmente libertado do local. Ele nunca conseguiu, no entanto, retornar ao seu país de nascença, e acabou se suicidando dez anos mais tarde.
114 anos depois de incluir um ser humano em suas jaulas, o estabelecimento finalmente se manifestou a respeito do horrível acontecimento.
"Pedimos desculpas e condenamos o tratamento dado a um jovem centro-africano do povo Mbuti da atual República Democrática do Congo. Seu nome era Ota Benga", afirmou o diretor do local em um comunicado.
A mensagem foi publicada durante um período em que ocorriam manifestações antirracistas por todo o território estadunidense em reação ao assassinato de George Floyd.
"Especificamente, denunciamos o racismo pseudocientífico baseado na eugenia, escritos e filosofias avançadas por muitas pessoas durante aquela época, incluindo dois de nossos fundadores, Madison Grant e Henry Fairfield Osborn (...). Lamentamos profundamente que muitas pessoas e gerações tenham sido prejudicadas por essas ações ou por nossa falha anterior em condená-las e denunciá-las publicamente", prosseguiu o texto.
O reconhecimento dos erros cometidos pela instituição, vale dizer, vem após décadas de tentativas de encobrimento do que aconteceu.
De acordo com uma matéria de 2020 da BBC, após a polêmica gerada pela cruel exposição, os funcionários do Zoológico do Bronx começaram a espalhar que Benga havia, na verdade, trabalhado ali.
O boato convenceu muitos, chegando a ser publicado como fato por um artigo no ano de 1916, isto é, após a morte do pigmeu, quando ele já não podia mais se defender.
"Foi o fato de ele ter sido empregado que gerou os relatos de que ele estava sendo mantido no local na jaula dos macacos", relatou um jornal na época.
Outros documentos históricos, como um livro de 1922, tentam criar a narrativa de que Ota desenvolveu um laço de amizade com Samuel Verner, o homem que o tirou do Congo.
Essa obra, aliás, tem um neto de Verner como coautor, ainda conforme a BBC. Em uma ocasião separada, esse mesmo homem ainda tentou sugerir que Benga teria gostado de ser exibido no zoológico durante uma entrevista a um veículo jornalístico.