Ronierbson Gomes e Silva deixou um legado de alegrias dentro do futebol e uma enorme saudade na torcida do Ferrão
O futebol é feito de paixão, alegria e momentos inesquecíveis. Por mais que existam personagens lendários espalhados pela história da bola, poucos conseguem ser tão folclóricos e reunir esses três fatores com tanta facilidade quanto Tutuba, o mascote mais amado do Brasil.
Apoiador do Ferroviário Atlético Clube (CE), o popular Ferrão, Tutuba é eternizado nas arquibancadas com um cântico próprio, algo pouco comum na maioria dos grandes times do Brasil.
A paixão pelo mascote não é pra menos, Tutuba é um verdadeiro torcedor à beira do gramado, se deixando levar pelo amor ao Ferroviário — se bem que isso, às vezes, acaba passando um pouco do ponto.
Entretanto, por mais que a alegria e o amor ao Ferrão tenham sido o grande legado deixado por seu intérprete, Ronierbson Gomes e Silva, para o futebol brasileiro, o fim de sua vida é marcado por um episódio trágico e que gerou enorme polêmica em todo o estado.
Em fevereiro de 2018, o mascote Tutuba ganhou os holofotes do mundo do futebol. Não que ele já não merecesse tal engajamento, mas o que Ronierbson Gomes e Silva fez ficará marcado para sempre na história.
No dia 25 daquele mês, o Ferroviário enfrentou o Fortaleza pela primeira fase do Campeonato Cearense. Com a melhor campanha do torneio, o tricolor saiu vencendo a partida no estádio Presidente Vargas.
Entretanto, a 12 minutos do fim do jogo, o valente Ferroviário empatou o jogo. A festa foi tamanha que Tutuba não se segurou: tirou a camisa, saiu correndo enlouquecido para dançar com a bandeirinha de escanteio e acabou expulso pelo árbitro Léo Simão Holanda.
Exclui o mascote da equipe do Ferroviário, aos 33 minutos do segundo tempo, por adentrar ao campo de jogo e comemorar o gol de sua equipe no quarto de círculo de escanteio", relatou na súmula, segundo aponta matéria do UOL.
Com Tutuba sem poder apoiar seu time, o Ferrão perdeu forças e acabou sendo derrotado por 3x1. Apesar do revés, o time já havia garantido vaga na segunda fase da competição. Menos mal.
Na partida seguinte, Tutuba não deixaria de marcar presença. Agora, em duelo contra o Ceará. Mas, as polêmicas com o mascote do Ferrão começaram bem antes da bola rolar, conforme aponta matéria do jornal O Povo.
Tudo se deu pelo fato de Ronierbson ter sido flagrado cometendo três infrações de trânsito, segundo o jornal. A primeira dela seria por dirigir o veículo, uma Hilux, usando a fantasia de Tutuba, o que dificultaria sua visão.
A segunda infração é que o mascote não usava cinto de segurança. Por último, ele transportava cinco passageiros na traseira da camionete. A soma das infrações seriam suficientes para Tutuba ter sua carteira cassada.
O Ferrão, por sua vez, defendeu Tutuba. "A verdade é que o personagem sequer chegou ao estádio dirigindo o veículo. O mascote apenas entrou no lugar do motorista, conduziu o veículo na frente do estádio, acenou para os torcedores e desceu do transporte. Toda esta ação teve duração de aproximadamente quinze segundos."
"Queremos ressaltar que a ação realizada pelo Tutuba pode ser comparada às atividades dos personagens dos 'Trenzinhos da alegria', que igualmente são mascarados, com o mesmo propósito de divertir o público", encerra a nota do time cearense.
Na mesma medida que Ronierbson foi capaz de alegrar a torcida do Ferrão desde que se tornou o Tutuba, em 2015, ele conseguiu deixá-los tristes. Afinal, sua morte trágica em 5 de novembro de 2018 pegou todos de surpresa. Roni, como era carinhosamente chamado, tinha apenas 36 anos.
Naquela madrugada, o mascote voltava da comemoração do título da Taça Fares Lopes quando acabou colidindo com um poste no Bairro Cristo Redentor, em Fortaleza. Segundo matéria do G1, testemunhas apontam que ele saiu do veículo com sinais de embriaguez.
Apesar de não ter ferimentos, Ronierbson parou em uma pizzaria para pedir ajuda para falar com seus familiares. Na saída do estabelecimento, começou a ser agredido por policiais.
Segundo laudo médico do Instituto Dr. José Frota (IJF), Roni apresentou um quadro de “traumatismo cranioencefálico (TCE) e lesão corto-contusa em couro cabeludo, evoluindo para insuficiência renal oligúrica e parada cardiorrespiratória”. Sua morte teria sido consequência, portanto, do acidente automobilístico e espancamento.
O documento, porém, contradiz o exame cadavérico feito pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), divulgado em 11 de dezembro, via G1, que indicou “edema cerebral leve”. O laudo afirmou que Tutuba morreu “em virtude de acidente de carro”.
Os três PMs envolvidos na abordagem do caso acabaram sendo punidos entre 2 a 4 dias de permanência disciplinar no quartel militar por não terem levado Roni para uma unidade de pronto atendimento médico, apontou o Jornal do Comércio.
Pouco menos de um ano depois do episódio, em outubro de 2019, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) absolveu os envolvidos no caso por falta de provas.
A entidade apontou que a versão da agressão, dada pela irmã de Roni, Vitórya Régia Gomes e Silva Sousa, não teve provas suficientes para confirmar a denúncia — visto que ela não presenciou as agressões e testemunhas oculares não foram identificadas para prestar esclarecimentos.
Segundo o G1, funcionários da pizzaria foram unânimes ao relatarem que Ronierbson chegou ao local de forma descontrolada, gritando e alegando que alguém o estava perseguindo com a intenção de matá-lo.
Após a morte de Ronierbson Gomes e Silva, o Ferroviário anunciou a volta de Tutuba em maio de 2019. Na ocasião, o mascote foi mostrado jogando bola e dançando com a bandeirinha de escanteio ao som de “Baby Shark”.
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