Autor de “A origem das Espécies” tinha uma maneira curiosa de enxergar o matrimônio
“O dia dos dias”, foi dessa maneira que Charles Darwin definiu em seu diário a data em que sua prima, Emma Wedgwood, aceitou sua proposta de casamento — em 11 de novembro de 1838, quando o naturalista tinha apenas 29 anos.
Apesar da extrema alegria, o britânico nem sempre foi tão otimista assim quanto à união. Afinal, meses antes, Darwin já havia feito uma reflexão sobre o que o casamento poderia mudar na vida de uma pessoa — ou pelo menos como ele achou que seria.
Para elucidar a questão, o naturalista rabiscou uma lista de prós e contras, que foi encontrada em “The Correspondence of Charles Darwin, Volume 2: 1837-1843”, onde analisa a grande questão que envolve muitos casais: a relação família x carreira, amor x trabalho e coração x cabeça.
A primeira vez que Darwin debateu sobre o assunto foi em abril de 1838. Embora seu desembarque do HSM Beagle tenha ocorrido apenas dois anos depois, o britânico já tinha certo reconhecimento no meio científico.
Na parte em que reflete sobre o casamento, ele aponta que uma união requer a necessidade de “trabalhar por dinheiro”, visto que é fundamental ter um modo de sustentar sua parceira e até mesmo um eventual filho.
Além disso, o matrimônio também poderia resultar em “morar em Londres como um prisioneiro” e até mesmo limitar-se a fazer qualquer tipo de tarefa. Por outro lado, a vida de solteirão significaria viagens solitárias pela Europa e América; e a inclusão de diversos planos profissionais.
A discussão foi retomada cerca de três meses depois, em meados de julho de 1838, quando ele acrescentou mais motivos em cada uma das colunas. Um pró importante é que Emma se tornaria sua companheira mais fiel, lhe fazendo companhia até a velhice. “Melhor do que um cachorro, de qualquer maneira”, define.
Sua esposa também cuidaria da casa e também proveria um bom “bate-papo feminino” e poderia proporcionar os “encantos da música”, visto que Wedgwood tocava piano. “Essas coisas são boas para a saúde, mas é uma terrível perda de tempo”.
Ter filhos também — que, segundo suas anotações, viriam caso Deus quisesse — poderia lhe render uma ótima companhia, embora ponderasse que brigas e despesas adicionais estariam atrelados a eles.
Meu Deus, é intolerável pensar em passar a vida inteira, como uma abelha castrada, trabalhando, trabalhando e nada além disso. Não, não vai servir… Imagine viver o dia todo sozinho na suja e enfumaçada London House. Apenas imagine para si mesmo uma esposa bonita e macia em um sofá com boa lareira, livros e, talvez, música”, deleita-se.
Em contrapartida, ser solteiro significaria “liberdade para ir aonde se quisesse”, “conversar com homens inteligentes em clubes”. Isso sem contar o fato de “não ser forçado a visitar parentes”, “não poder ler à noite” e até mesmo “ter menos dinheiro para livros”.
Sua esposa, ademais, poderia não gostar de viver em Londres, o que terminaria com uma “sentença de banimento e degradação em um lugar tolo, indolente e ocioso”. Por fim, decreta que, no casamento, seria um escravo, “mas há muitos escravos felizes”.
Seis meses depois, o naturalista se casou com sua prima. Eles tiveram dez filhos — sendo que três morreram prematuramente. Os dois permaneceram juntos até a morte de Darwin, em 1882.