Quando as tropas napoleônicas atravessaram o Rio Berenzina, a derrota já estava selada
No início do século 19, a Europa estava caracterizada pelo cenário de Guerra: após uma violenta revolução, um general reestruturou um Estado falido e iniciou uma campanha de expansão que tomou quase toda a Europa. Este era Napoleão Bonaparte, imperador francês que começou a sentir a derrota na década de 1810.
Um dos grandes epicentros da derrota de Napoleão foi a campanha empreendida na Rússia, que levou o exército francês ao seu limite. Apesar das capacidades estratégicas do general, o Exército de Vinte Nações não foi capaz de superar as barreiras russas no mantimento da ocupação de Moscou em 1812.
Enviando mais de 500 mil homens para a Rússia, Bonaparte teve um retorno de apenas 27 mil homens. O choque foi tamanho, que mudou toda a geopolítica europeia e acabou com a hegemonia e a era de vitórias da França pós-revolução.
E a lógica desse cenário seguiu uma proposição de Lev Tolstói:Napoleão pode perder muitos homens em campanha, pois os tem de sobra; assim como a Rússia pode perder muita terra, pois a tem de sobra para preparar a derrota do inimigo.
E foi assim que os russos se prepararam para a campanha napoleônica, numa estratégia típica do país conhecida como Terra Arrasada. Esse esquema funciou da seguinte maneira: todos os habitantes de uma cidade se retiram da região, levando toda a comida e destruindo as casas e a terra. Quando o inimigo chegar, haverá apenas escombros e nenhum suprimento, o que dificultará o prosseguimento.
O início do fim de Napoleão se deu a partir da Batalha de Maloyaroslavets, quando após invadirem uma cidade, os franceses foram recebidos com um bloqueio. Enquanto os franceses buscavam alimentos, os russos, muito bem alimentados, forçaram o inimigo a recuar no caminho de volta para Moscou.
A cada semana que passava, a Grande Armée do corso perdia mais homens e suprimentos, atingindo a total catástrofe. A derrota de Napoleão teve início não devido ao Inverno Russo, que é bizarramente rigoroso. Mas é com a chegada da estação que se dá o impulso final para a saída dos invasores: com o inverno, a Terra Arrasada e a estratégia de isolamento do inimigo pelos russos, as tropas francesas perdiam diariamente capacidade de luta.
A fuga dos franceses ficou marcada pela cena da travessia do rio Berezina, que oficializa a derrota de Napoleão. Fugindo do coração da Rússia, o general estava sendo perseguido pelo exército de Kutuzov. Numa noite, comandou que um corpo de engenharia construísse uma ponte sobre o rio congelado, mas os russos perceberam a movimentação e abriram fogo, matando cerca de 30 mil franceses (que congelaram naquele frio de quase -40ºC).
A Campanha de Napoleão tem grande destaque entre os eventos que permeiam a memória dos russos. Duas grandes obras do país – a Abertura 1812 de Tchaikovsky e o Guerra e Paz de Tolstói – têm como tema esse período. No entanto, é destacado nessas artes não apenas uma justificativa natural da derrota dos invasores, com o Inverno inevitável, mas a ação patriótica ou heroica dos combatentes.
O inverno foi bastante relevante para a derrota dos franceses, mas a Rússia não é um país “naturalmente intransponível”: os russos souberam usar o ambiente deles para criarem uma estratégia em favor de sua resistência.
Dessa maneira, Napoleão não perdeu para o General Inverno, simplesmente, mas para a tática russa, a Terra Arrasada, para o desconhecimento francês da geografia russa. Normalmente, a narrativa do episódio como arma autônoma, e não como estratégia humana, foi uma forma de descreditar os russos por seu esforço em derrotar os franceses, normalmente protagonistas da História. O mesmo ocorreu com a Segunda Guerra.
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