Preservado em seu mausoléu na Rússia, o corpo quase intacto do revolucionário comunista continua gerando controvérsias no país mesmo após quase um século
Vladimir Lenin, um dos mais importantes nomes do socialismo depois do próprio Karl Marx, morreu em 21 de janeiro de 1924, não sendo capaz de ver seus feitos a partir da ideologia marxista por tanto tempo na União Soviética.
Sofrendo três derrames em um período de dois anos, o revolucionário entrou em coma e morreu lentamente, acometido por uma arteriosclerose cerebral. Ele seria enterrado prontamente, já que havia afirmado em vida que não gostaria que seu corpo fosse preservado para a eternidade.
No entanto, os planos dos soviéticos acabaram mudando ao perceberem que Lenin poderia ser mantido quase que intacto por vários anos. Até hoje, o cadáver do comunista não parece ter mudado muita coisa desde que morreu há 98 anos.
Isso porque seu corpo é mantido em um mausoléu de madeira, erguido nas proximidades da Praça Vermelha, na Rússia, onde ele é conservado por especialistas que o mantêm embalsamado e com praticamente a mesma expressão plena de tanto tempo antes.
Informações exatas sobre como isso é feito não são divulgadas pelo governo russo, mas, o que se sabe de fato é que todo esse processo custa muito caro. Como reportou a Folha de S. Paulo em 2020, estima-se que cerca de 173 mil euros por ano, o equivalente a R$ 1,01 milhão, sejam destinados à manutenção da múmia de Lenin.
Desde que a União Soviética foi dissolvida, muitos criticam a preservação do corpo do teórico comunista, em especial pelos custos exorbitantes. Os questionamentos acerca do futuro do cadáver mumificado não vem de agora, mas parecem se aflorar cada vez mais.
A pandemia de covid-19 foi usada como pretexto para os críticos da manutenção da múmia de Lenin, que querem a todo custo se “livrar” dela. Não demorou muito para que uma proposta envolvendo a venda do corpo para pagar os custos da pandemia se tornasse pauta na Rússia.
Foi em junho de 2020 que a crise causada pelo novo coronavírus no país começou a ser vista como desculpa para seguir com uma ideia que persiste entre os conservadores russos. Nesse caso, o valor obtido com a venda do corpo serviria para arcar com as despesas da questão sanitária.
A iniciativa foi impulsionada por Vladimir Zhirinovsky, líder do partido ultranacionalista LDPR. Na época, o político não recebeu apoio de outras organizações e partidos, embora muitos conservadores criticassem a manutenção do cadáver mumificado.
"Nós poderíamos vender a múmia de Lenin. Existem compradores: China, Vietnã ou algum outro tipo de [país] comunista. E o corpo está em boas condições, foi mumificado há apenas 96 anos", escreveu Zhirinovsky em rede social em 2020, conforme repercutido na época pela RFI.
Se a decisão depender do presidente russo, Vladimir Putin, porém, Lenin deverá permanecer onde está, visto que ele defende a conservação do corpo e continua na liderança do país.
Pelo menos enquanto tivermos entre nós muitas pessoas cujas experiências ainda estão ligadas, de alguma maneira, às realizações do período soviético", ele defende.
Ainda que a decisão de colocar o revolucionário de uma vez em seu túmulo faça sentido, afinal, ele mesmo pediu que isso fosse feito quando morresse, isso só pode acontecer a partir do consentimento da família, de acordo com a lei russa atual.
Segundo uma enquete realizada na internet em 2016, que coletou a opinião de 8 mil pessoas, pelo menos 62% dos participantes queriam que Lenin fosse enterrado, o que encerraria sua saga como múmia. Para que isso ocorra de fato, são outros 500.