Abadia de Beaumont, local escavado onde foram feitas descobertas, revela mais de 800 anos de história anteriores à sua destruição, na Revolução Francesa
Escavações no local onde existiu uma abadia medieval francesa revelaram, conforme divulgado recentemente pelo Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva (Inrap) da França, mais de 1.000 sepulturas em um cemitério, além de restos de uma aldeia de quase 1.200 anos sob seu edifício. Todos estes achados revelam mais de 800 anos da história da França, anteriores à destruição da abadia na Revolução Francesa.
Localizada fora da cidade de Tours, no Vale do Loire, na França — a cerca de 178 quilômetros de distância de Paris —, a Abadia de Beaumont foi fundada no ano 1002, em uma área onde já havia existido, anteriormente, a vila de Belmons (desde pelo menos o ano 845). Segundo registros históricos, a abadia cresceu rapidamente, e tornou-se a maior comunidade de freiras de toda a província.
No entanto, em meio à Revolução Francesa, no ano de 1789, a abadia e suas terras foram confiscadas pelo Estado, e as 46 freiras que ainda viviam ali foram expulsas. No início do século 19, por fim, a igreja e seus edifícios associados foram demolidos.
Segundo Philippe Blanchard, líder da escavação e membro do Inrap, a escavação — realizada entre setembro de 2022 e dezembro de 2023 — em comunicado, este "se trata de um conjunto único".
"Escavamos tantos elementos desta abadia quanto possível: toda a igreja, todo o claustro, todos os edifícios periféricos, todas as instalações, as habitações da abadia, o refeitório, a cozinha, as pias, a sala, a adega, o pombal, os fornos, cisternas, canos, lavadouro, latrinas, geladeira, lixeiras", além das mais de 1.000 sepulturas e vestígios da vila anterior à igreja.
Conforme descrito pelo Live Science, o trabalho de escavação feito na Abadia de Beaumont revelam que o edifício passou por pelo menos duas grandes mudanças antes de sua eventual demolição.
No começo, ela era uma igreja consideravelmente pequena, mas dobrou de tamanho por volta do século 11 ou 12. Então, mais um ou dois séculos depois, ela passou pela adição de um ambulatório — ou seja, novos corredores a partir da área central, onde fica a congregação. Porém, ao longo do tempo, pequenas transformações também foram feitas.
Eles acrescentam quartos, refazem azulejos, acrescentam banheiros; estavam em constante mudança", pontua Blanchard.
Porém, além da própria abadia, obviamente o cemitério também crescia com o tempo, abrigando cada vez mais de suas próprias freiras e criados que trabalhavam no local. No momento, as análises dos esqueletos ainda estão em fase inicial, mas espera-se descobrir mais sobre como era a vida daquelas pessoas, de onde vieram e qual seus estados de saúde quando morreram.
"Sabemos que ocorreu uma epidemia de peste em 1563", comenta Blanchard. "e que na mesma semana, nove freiras — duas delas no mesmo dia — morreram e foram enterradas na mesma sepultura."
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Considerando-se a importância daquela igreja, espera-se identificar membros de alto escalão do local entre os túmulos, até porque registros escritos mencionam a existência de um túmulo de uma abadessa enterrada junto a uma dúzia de potes. Ela poderia ser Madame de Bourbon-Condé, uma neta de Luís XIV que se tornou freira por volta de 1720, se tornou abadessa em 1732 e morreu em 1772.
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Os arqueólogos e historiadores acreditam que ela viveu de maneira relativamente confortável, tendo sua própria residência e servos. Nas escavações, um conjunto de chá de porcelana foi encontrado, o que sugere que cerâmicas finas da China seriam importadas pelas freiras — provavelmente a grandes custos.
No entanto, os arqueólogos supõem que o túmulo de Madame de Bourbon-Condé pode já ter sido descoberto, considerando-se que seria bastante único e especial dentro da igreja. Segundo Blanchard, apenas alguns ossos e cerâmicas foram encontrados, e sua lápide foi recuperada em outro lugar, o que pode ser um indício de que a sepultura já tivesse sido saqueada.
Este túmulo, necessariamente muito visível, é [devemos imaginar] um dos primeiros que foi aberto durante a Revolução", conta o pesquisador.
Ele também menciona que o chumbo de muitos caixões era utilizado para fazer as "balas patriotas" dos Exércitos Revolucionários da Revolução Francesa.