De acordo com uma pesquisa de 2019, 62% dos governantes romanos morreram de forma violenta — em um índice nem tão aleatório assim
“A cultura popular associa a vida dos imperadores romanos com luxo, crueldade e libertinagem, às vezes com razão. Um atributo que falta nesta lista é, surpreendentemente, que este poderoso cargo era muito perigoso para o seu titular”, escreve Joseph Homer Saleh, engenheiro aeroespacial do Georgia Tech, nos EUA.
Em uma pesquisa publicada em 2019 na revista científica Nature, o especialista decidiu misturar matemática e história para entender o que foi, ao longo de muitos anos, considerado coincidência: a morte de governantes do Império Romano do Ocidente.
Segundo estimado por Homer, do total de 69 imperadores, que reinaram ao longo de quatro séculos de história, 62% morreram de forma violenta. Desde Augusto a Teodósio, 43 homens poderosos tiveram suas vidas tiradas enquanto governavam um império.
Embora estivessem cercados de riqueza, poder e de mais tudo que quisessem, eles tinham ainda mais chances de morrer de maneira brutal até mesmo que um gladiador, cujo trabalho era literalmente lutar, estando mais expostos a ambientes violentos que o rei de Roma.
O pesquisador apontou que a forma mais comum de morte dos imperadores foi por assassinato, que consistiu em 79% das mortes. Em menor número, estavam a morte durante o combate com um inimigo estrangeiro de Roma, com 12%, e, por último, o suicídio, com 9%.
Para a realização do estudo, Homer usou ferramentas estatísticas de análise de dados de sobrevivência para os governantes romanos, fazendo uma avaliação de seu tempo de reinado até a morte violenta. Esses modelos geralmente são utilizados para avaliar a confiabilidade dos componentes de um sistema.
O objetivo de investigar essa assinatura temporal foi de entender se o processo era casual ou se existia uma estrutura matemática para as mortes. O tempo-até-a-falha de peças de uma máquina e o tempo-até-a-morte demonstraram uma semelhança curiosa.
O historiador inglês Edward Gibbon já afirmava no século 18: “Tal era a infeliz condição dos imperadores romanos que, qualquer que fosse sua conduta, seu destino era comumente o mesmo. Uma vida de prazer ou virtude, de severidade ou brandura, de indolência ou glória, igualmente levou a uma sepultura prematura; e quase todo reinado é encerrado pela mesma repugnante repetição de traição e assassinato”.
Ainda que historiadores já soubessem que o destino dos governantes romanos era muito similar, não era possível afirmar que, de fato, os episódios não eram aleatórios. Com a pesquisa de Homer, é possível perceber que essas mortes seguiam um padrão matemático.
A principal conclusão do estudo foi a seguinte: “os imperadores enfrentaram um risco significativamente alto de morte violenta no primeiro ano de seu governo, o que é uma reminiscência da mortalidade infantilem engenharia de confiabilidade”.
Ou seja, a maior chance de morte violenta dos políticos romanos residia no primeiro ano de seu governo. Ao longo dos sete anos seguintes de reinado, esse índice diminuiu, chegando a uma estabilidade entre o oitavo e décimo segundo ano. No entanto, ele voltava a crescer depois do ano 13 de governo.
Isso acontecia porque o primeiro ano era marcante, afinal, a partir dele era possível perceber como seria o reinado do imperador de maneira geral. Ele apresenta um grande risco de falha porque pode funcionar de forma diferente do esperado. Comparando com máquinas, o aumento do índice após mais de dez anos explica-se porque já há desgaste nas peças, assim como no governante.
Em nota, o pesquisador escreveu: “É interessante que um processo não-convencional e perigoso, que parece randômico, como a morte violenta de um imperador romano — ao longo de um período de quatro séculos em um mundo vastamente mudado — aparente ter uma estrutura sistemática incrivelmente bem descrita por um modelo estatístico usado de forma ampla na engenharia”.
“Mesmo que pareçam eventos aleatórios quando avaliados separadamente, esses resultados indicam que deve ter havido processos subjacentes regendo a duração de cada governo até a morte”, concluiu.
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