Considerada uma das figuras centrais na luta pelos direitos civis nos EUA, a militante foi membro do Partido Comunista e dos Panteras Negras
“Nós representamos as poderosas forças de mudança que estão determinadas a impedir que as moribundas culturas do racismo e do patriarcado heterossexual se ergam novamente”. Essa foi a fala de uma das mais famosas filósofas marxistas dos EUA, a militante do movimento feminista negro Angela Davis, durante a Woman’s March de 2017.
Membro do Partido Comunista e dos Panteras Negras, a ativista tornou-se uma das principais figuras na luta pelos direitos civis durante a década de 1970, nos Estados Unidos.
Trajetória ativista
Nascida no dia 26 de fevereiro de 1944, no Alabama, Estados Unidos, a militante tornou-se um dos maiores símbolos do movimento negro e feminista do mundo. Como mulher negra, Davis enfrentou inúmeros preconceitos, entre eles o racismo e machismo eminentes na sociedade norte-americana.
Quando nasceu, o país ainda era regido pelo sistema de segregação racial. O bairro onde a ativista cresceu era marcado por atentados em casas de famílias negras e igrejas, realizados com explosivos por parte de fundamentalistas brancos, como os membros da Ku Klux Klan.
Diante desse cenário, a ativista iniciou na adolescência, um grupo de estudos inter-raciais, que logo foi implodido pela polícia local. Apenas quando passou a estudar filosofia, mudando-se para o estado de Massachussetts, ela pôde iniciar a militância intelectual — pela qual é conhecida hoje em dia. Na Universidade de Brandeis, estudou com Herbert Marcuse, com quem aprimorou seus ideais de esquerda numa época de macarthismo e Guerra Fria.
Porém, o grande momento de conversão de Davis à militância foi a explosão criminosa de uma igreja no bairro onde nasceu. Na ocasião, quatro de suas amigas de infância foram brutalmente assassinadas. A partir disso, para ela, esse caso deflagrou completamente as raízes escravistas, coloniais e violentas do país onde nascera, a levando a radicalizar suas posições.
Como uma das principais denunciantes desses traços horrendos da sociedade estadunidense, Angela Davis passou a ser perseguida por forças políticas reacionárias e defensoras do segregacionismo.
Um dos casos mais notórios de perseguição foi a perda do seu título de professora da Universidade da Califórnia em 1969, como represália ao seu envolvimento com intelectuais comunistas.
Adepta à não-violência, a militante era fortemente integrada à luta pela normalização do estatuto da cidadania das pessoas negras, o que a levou a participar do movimento Panteras Negras — grupo marxista-negro atuante nos EUA e que foi duramente perseguido pela Ku Klux Klan.
Militância nos dias de hoje
Ainda hoje, Davis é considerada um dos maiores nomes do abolicionismo penal — corrente que defende a reforma do sistema prisional, que visa extinguir cadeias e o aprisionamento injusto da juventude negra.
Por essas relações, foi incluída, ainda, em 1970, na lista de Mais Procurados do FBI, sendo presa por um processo sem provas e altamente calunioso, em que a acusavam de participar de um atentado ocorrido num tribunal da Califórnia. A partir disso, a escritora passou a ser tratada como terrorista pelo governo.
Enquanto estava na prisão, muitos núcleos da sociedade civil se mobilizaram nas ruas pela sua liberdade, levando a classe artística a se manifestar a seu favor. Contudo, a ativista só foi inocentada em 1972, fortalecendo ainda mais suas posições abolicionistas e anticapitalistas.
Depois que saiu da prisão, Davis se dedicou ao ensino e à pesquisa de história, gênero, classe e estudos étnicos, participando de grupos em universidades pelo mundo inteiro.
Ao longo das décadas, nunca deixou de se posicionar politicamente, sendo a porta-voz de importantes pautas que transcenderam o programa dos Panteras Negras, como a oposição à Guerra do Vietnã, a denúncia da Guerra ao Terror de Bush e a luta LGBTQIA+, além de questões como o fim da pena de morte, combate ao racismo e oposição ao sistema carcerário.
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